H\u00e1 um ano ano publiquei uma coluna no site AcontecendoAqui sobre designers e micreiros. \u00c9 uma das que mais gosto e est\u00e1 no meu pr\u00f3ximo livro “O design do designer<\/strong>” (nas livrarias em dezembro). Veja se voc\u00ea concorda comigo (ou n\u00e3o, como diria Caetano).<\/p>\n

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DESIGNERS E MICREIROS<\/strong><\/p>\n

28-11-06<\/strong> Vira e mexe, nas minhas palestras, algu\u00e9m fatalmente acaba me perguntando como resolver o problema da concorr\u00eancia desleal entre designers e micreiros. Os designers estudam, pesquisam, fazem tudo direitinho, mas acabam perdendo a vez para aquele pessoal que faz qualquer coisa por um pre\u00e7o bem baratinho. E o cliente<\/strong>, esse ser desprovido de qualquer ju\u00edzo e bom senso, ignora toda a compet\u00eancia do dr. designer para contratar um man\u00e9 qualquer que sabe mexer no Corel<\/strong>. Como resolver esse n\u00f3?<\/p>\n

Bem, vamos tentar entender porque isso acontece. Partindo do princ\u00edpio que o cliente n\u00e3o \u00e9 totalmente burro e nem tem uma predile\u00e7\u00e3o especial por trabalhar com gente incompetente, eu diria que ele contrata o micreiro simplesmente porque n\u00e3o consegue perceber a diferen\u00e7a entre esse sujeito e um designer de verdade<\/strong>. Ent\u00e3o, como de bobo o cliente n\u00e3o tem nada, ele faz como eu, voc\u00ea e toda a torcida do Flamengo numa situa\u00e7\u00e3o dessas: contrata o mais barato.<\/p>\n

Al\u00e9m disso, o micreiro tem outra vantagem: ele faz exatamente o que o cliente quer<\/strong>. Se o dono da padaria quiser uma marca gr\u00e1fica toda cheia de degrad\u00eas e efeitos especiais, o man\u00e9 capricha e coloca em pr\u00e1tica tudo o que sabe de Photoshop. Se o s\u00f3cio do restaurante quer usar os desenhos da filha de 5 anos como marca d\u00b4\u00e1gua no folder do estabelecimento, n\u00e3o tem problema. Para o micreiro n\u00e3o tem crise, ele faz tudo na maior boa vontade<\/strong> (e por um pre\u00e7o bem baratinho, n\u00e3o se esque\u00e7a). O cara \u00e9 t\u00e3o boa gente, como competir com um tipo desses?<\/p>\n

Boa parte dos designers resume sua pr\u00f3-atividade fazendo cara de nojo e colocando a culpa no ignorante do cliente. Aha, eis a palavrinha-chave: ignor\u00e2ncia<\/strong>. Sim, concordamos que o cliente merece esse adjetivo, mas ignor\u00e2ncia n\u00e3o \u00e9 crime. Ningu\u00e9m tem obriga\u00e7\u00e3o de conhecer semi\u00f3tica, teoria das cores, t\u00e9cnicas de composi\u00e7\u00e3o, leis da Gestalt e o impacto disso tudo no trabalho que est\u00e1 sendo feito. S\u00f3 o designer, \u00e9 claro<\/strong>. E a\u00ed \u00e9 que ele se diferencia do micreiro. O designer pode (e deve) explicar para o cliente, da maneira mais did\u00e1tica poss\u00edvel, porque \u00e9 que usar 4 tipos diferentes de fontes tipogr\u00e1ficas em um cart\u00e3o de visitas pode n\u00e3o ser uma boa id\u00e9ia. E tudo isso usando os termos certos, sem petul\u00e2ncia e ar de enfado. O designer deve explicar tamb\u00e9m a interpreta\u00e7\u00e3o semi\u00f3tica de todos os elementos que ele colocou no projeto gr\u00e1fico, justificando o porqu\u00ea de cada coisa estar ali. Deve considerar que o cliente tem um olhar diferente do seu, e \u00e0s vezes \u00e9 poss\u00edvel combinar esses olhares numa solu\u00e7\u00e3o interessante sem ofender seu senso est\u00e9tico. Deve saber defender muito bem o conceito de uma marca sem se sentir pessoalmente ofendido com perguntas ou questionamentos. Se o palpite do cliente \u00e9 furado, explique para ele, sem esbravejar, o impacto que aquilo ter\u00e1 sobre a percep\u00e7\u00e3o do consumidor e como pode prejudicar o seu neg\u00f3cio. Enfim, o designer, al\u00e9m de saber muito e se comunicar bem, deve ser um grande negociador<\/strong>.<\/p>\n

Ao documentar as reuni\u00f5es, escrever um briefing bem feito, cumprir os prazos, primar pela pontualidade e pela qualidade nas apresenta\u00e7\u00f5es, sempre entregar o que prometeu e explicar detalhadamente cada parte do seu trabalho, o designer estar\u00e1 com certeza se diferenciando do micreiro. Qualquer um da tocida do Flamengo consegue ver a diferen\u00e7a. O designer cobra mais porque sabe o que est\u00e1 fazendo, seu trabalho vai fazer diferen\u00e7a no neg\u00f3cio<\/strong>. Ele faz por merecer cada centavo.<\/p>\n

Mas est\u00e1 cheio de designer com diploma que acerta tudo de boca, n\u00e3o explica seu trabalho direito, mal sabe contextualizar o que fez, n\u00e3o entende nada de teoria das cores e muito menos de semi\u00f3tica, atrasa todas as entregas e senta com a perna aberta mascando chicletes falando “tipo” a cada tr\u00eas palavras. Comporta-se como um artista temperamental, tudo o que faz \u00e9 na base da intui\u00e7\u00e3o. M\u00e9todo projetual ele desconhece, fez assim porque achava que ficaria legal. Esse sujeito fica ofendid\u00edssimo ao ser confundido com um micreiro. Talvez o figura n\u00e3o saiba, mas ele realmente \u00e9 um micreiro.<\/strong><\/p>\n

E tem micreiro (s\u00e3o poucos, \u00e9 verdade) que anota tudo direitinho, faz contrato, estuda as op\u00e7\u00f5es, \u00e9 pontual, tenta resolver as necessidades do cliente, l\u00ea v\u00e1rios livros sobre o assunto, sabe conceituar o que fez, cumpre sempre o que prometeu. Esse profissional acha que \u00e9 um designer, e \u00e9 mesmo<\/strong>.<\/p>\n

Mais do que a forma\u00e7\u00e3o acad\u00eamica, a diferen\u00e7a entre o designer e o micreiro est\u00e1 na atitude profissional<\/strong>.<\/p>\n

Al\u00e9m disso, n\u00e3o se pode ignorar a diversidade do mercado. H\u00e1 clientes para micreiros e h\u00e1 clientes para designers. Tem lugar para todo mundo, sem crise. J\u00e1 dizia um amigo meu que os competentes se reconhecem<\/strong> mutuamente. Eu concordo.<\/p>\n

L\u00edgia Fascioni
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