![\"\"](\"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-content\/uploads\/2011\/01\/228047vbda_w.jpg\" "\\"228047vbda_w\\"")
<\/a><\/p>\n\u00c9 sempre assim; em festas ou reuni\u00f5es, algu\u00e9m me apresenta como engenheira e algumas pessoas do grupo logo murmuram “nossa, ela deve ser muito inteligente<\/em>“. J\u00e1 aconteceu na sala de aula de um MBA, onde fiz uma breve apresenta\u00e7\u00e3o de meu curr\u00edculo e uma estudante murmurar “nossa, estou me sentindo t\u00e3o burra…<\/em>“.<\/p>\n \n Pois \u00e9, fui conversar com a “burra” na hora do intervalo e sa\u00ed de l\u00e1 me achando um f\u00f3ssil de lesma com QI reduzido. \u00c9 que, papo vai, papo vem, a tal aluna me contou que havia se casado com um liban\u00eas, foi morar no L\u00edbano e, pasmem, aprendeu \u00e1rabe SOZINHA lendo jornal!!! S\u00f3 para voc\u00eas se orientarem para o tamanho do feito, \u00e1rabe \u00e9 aquela l\u00edngua que, escrita, parece um mar revolto com ondinhas rebeldes; de vez em quando saltam alguns pinguinhos. Pois essa mo\u00e7a foi trabalhar com a sogra na loja e aprendeu a ler, falar e escrever isso, depois de adulta, e sozinha<\/em>! N\u00e3o \u00e9 espanhol, italiano, ingl\u00eas ou alem\u00e3o: \u00e9 \u00e1rabe! Se ela n\u00e3o \u00e9 um g\u00eanio, n\u00e3o sei mais o que pode ser…<\/p>\n \n Essa distor\u00e7\u00e3o do conceito de intelig\u00eancia acontece, infelizmente, com bastante frequ\u00eancia, porque os s\u00e9culos XIX e XX, impulsionados pela revolu\u00e7\u00e3o industrial, trataram de supervalorizar o lado esquerdo do c\u00e9rebro (lado racional, l\u00f3gico, sequencial, analista; o dos n\u00fameros) em detrimento do lado direito (o lado emocional, simb\u00f3lico, simult\u00e2neo, sint\u00e9tico; o das artes). Inteligente era quem n\u00e3o tinha medo dos n\u00fameros e s\u00edmbolos matem\u00e1ticos e brilhante era quem ficava perfeitamente \u00e0 vontade com eles. Genial era quem os tornava seus escravos.<\/p>\n \n Pe\u00e7a para qualquer um na rua descrever algu\u00e9m inteligente. Ela vai dizer que a pessoa mexe com n\u00fameros. Ou que entende de f\u00edsica. Ou sabe programar computadores. Ningu\u00e9m se lembra da complexidade que \u00e9 escrever um bom romance, decorar e interpretar uma pe\u00e7a de teatro, reconstruir um nariz, desenhar hist\u00f3rias em quadrinhos ou costurar uma roupa cheia de recortes.<\/p>\n \n Sinto um constrangimento muito grande quando estou cercada de pessoas interessant\u00edssimas e competentes, que \u00e0s vezes dominam v\u00e1rias l\u00ednguas e algu\u00e9m me chama de inteligente s\u00f3 porque sou engenheira. N\u00e3o vou enganar ningu\u00e9m; \u00e9 claro que faz muito bem para o ego. O problema \u00e9 que fico me achando uma fraude. Incomoda, principalmente se voc\u00ea estiver ao lado de uma jornalista daquelas que sabe fazer esculturas com palavras ou um m\u00fasico que usa as notas musicais para hipnotizar.<\/p>\n \n A boa not\u00edcia \u00e9 que trocamos de s\u00e9culo faz pouco tempo, e, aos poucos, as coisas est\u00e3o mudando. Associar automaticamente genialidade com matem\u00e1tica est\u00e1 saindo de moda; as pessoas est\u00e3o descobrindo que, para ser realmente brilhante, \u00e9 preciso desenvolver os dois lados de maneira equilibrada e muito acima da m\u00e9dia. Aquele estere\u00f3tipo de nerd distra\u00eddo est\u00e1 ficando datado, muito s\u00e9culo XX.<\/p>\n \n Vai chegar o dia em que, para considerar algu\u00e9m muito inteligente, ser\u00e1 preciso bem mais que uma apresenta\u00e7\u00e3o apressada ou uma olhada no seu curr\u00edculo. Ser\u00e1 preciso talento. A\u00ed teremos inaugurado o s\u00e9culo XXI.<\/p>\n \n