![\"\"](\"http:\/\/ligiafascioni.files.wordpress.com\/2008\/07\/aguia.jpg\")
<\/a><\/p>\nEssa semana recebi o e-mail de uma aluna que estava atravessando uma crise profissional e me pedia conselhos. Vamos cham\u00e1-la de Teresa. Pois \u00e9, o caso \u00e9 que a mo\u00e7a estava fazendo est\u00e1gio em um escrit\u00f3rio e tinha sido destacada para fazer apenas trabalhinhos chatos, como editar imagens e outras tarefas menores, segundo ela.<\/p>\n
Um colega comentou com Teresa que ela estava desperdi\u00e7ando seu talento nesse lugar e que deveria cair fora logo, afinal de contas, j\u00e1 faziam inacredit\u00e1veis 3 semanas que ela estava l\u00e1 e nenhum projeto realmente legal havia sido colocado sob sua responsabilidade. Teresa ainda completava dizendo que sabia que era excepcionalmente boa no que fazia e que n\u00e3o lhe davam o devido valor. A mo\u00e7a realmente estava em d\u00favida se sa\u00eda ou n\u00e3o batendo a porta.<\/p>\n
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Resolvi compartilhar essa quest\u00e3o preservando o nome da aluna porque penso ser esse um problema comum \u00e0 gera\u00e7\u00e3o dela, independente do curso. Tenho certeza de que estagi\u00e1rios de publicidade, jornalismo, engenharia, farm\u00e1cia, administra\u00e7\u00e3o ou qualquer outra \u00e1rea compartilham um pouco da ang\u00fastia de Teresa.<\/p>\n
Vamos por partes. O primeiro ponto que vejo \u00e9 o imediatismo, natural da idade, mas muito mais flagrante nesse mil\u00eanio. O que \u00e9 que a Teresa queria? Que na segunda semana o chefe ficasse camelando na edi\u00e7\u00e3o de imagens para que ela pudesse pensar com mais calma na melhor estrat\u00e9gia para atender um cliente vital para a empresa? Acho que Teresa e seus contempor\u00e2neos pensam que surgem do subsolo, durante a noite, gnomos escravos not\u00edvagos que fazem o trabalho que ningu\u00e9m quer enquanto a empresa dorme.<\/p>\n
Meu conselho \u00e0s teresas: quer mais responsabilidade? Surpreenda, fa\u00e7a mais do que foi pedido; al\u00e9m do trabalho chato, apresente algumas id\u00e9ias (mas n\u00e3o se chateie se elas n\u00e3o forem aceitas \u2013 existe a possibilidade de n\u00e3o serem t\u00e3o boas quanto se pensa). Persista, tente analisar a empresa sob todos os pontos de vista, entenda como \u00e9 a din\u00e2mica de uma organiza\u00e7\u00e3o, como \u00e9 administrada, os tipos de lideran\u00e7a, as pr\u00e1ticas de atendimento, como os pap\u00e9is s\u00e3o distribu\u00eddos. O estagi\u00e1rio sempre pode comparar com outra experi\u00eancia at\u00e9 encontrar um modelo que considere ideal. Fazer o trabalhinho entediante s\u00f3 significa enfiar a cabe\u00e7a dentro do monitor se o estudante (ou iniciante) n\u00e3o tiver olhos para observar e aprender o que h\u00e1 em volta.<\/p>\n
Segundo ponto: talento incompar\u00e1vel desperdi\u00e7ado. Confesso que tenho certa simpatia por pessoas que assumem suas qualidades e n\u00e3o gosto muito daquelas que fingem uma mod\u00e9stia mal ensaiada. Mas quando a Teresa afirmou com tanta seguran\u00e7a que era excepcional, fiquei um pouco preocupada. \u00c9 que n\u00e3o consegui me lembrar de nenhum trabalho da aluna que tivesse se destacado na turma; n\u00e3o eram t\u00e3o ruins, mas certamente n\u00e3o eram sensacionais. Nessas oportunidades ela teve toda a liberdade do mundo para mostrar sua genialidade, mas preferiu ser bem discreta.<\/p>\n
O fato de mesmo assim ela se considerar uma profissional excepcional, leva a pensar que, na sua cultura geral, talvez faltem refer\u00eancias para se comparar. Pelo menos, \u00e9 a \u00fanica explica\u00e7\u00e3o que encontro para tanta falta de no\u00e7\u00e3o.<\/p>\n
Acompanhem meu racioc\u00ednio: certamente humildade e mod\u00e9stia s\u00e3o palavras que definitivamente n\u00e3o servem para me descrever: muitas vezes sou acusada de arrogante, e n\u00e3o sem motivos. \u00c9 que sei que sou uma profissional acima da m\u00e9dia. Mas tenho a exata dimens\u00e3o de que isso n\u00e3o acontece porque eu seja um g\u00eanio, mas porque a m\u00e9dia, de uma maneira geral, \u00e9 baixa. Assim, n\u00e3o posso dar li\u00e7\u00e3o de humildade para a Teresa, mas \u00e9 preciso ter um pouco de bom senso.<\/p>\n
Quando a gente estuda bastante e tem muitas refer\u00eancias, passa a ter uma perspectiva mais realista. Brilhante e genial foi Isaac Newton: e mesmo ele admitiu que debru\u00e7ou-se sobre ombros de gigantes, referindo-se aos matem\u00e1ticos que deram fundamenta\u00e7\u00e3o ao seu trabalho (para quem n\u00e3o est\u00e1 ligando o nome \u00e0 pessoa, Newton foi o cara que formulou as leis fundamentais da f\u00edsica como a da gravidade, para ficar apenas na mais famosa, e criou o c\u00e1lculo diferencial e integral).<\/p>\n
Algu\u00e9m pode dizer: ah, mas assim \u00e9 covardia! Se a gente ficar se comparando com esses caras, sempre vai se achar uma formiguinha insignificante. A despeito de algumas vezes ser at\u00e9 saud\u00e1vel a pessoa retornar quietinha ao formigueiro, podemos usar refer\u00eancias mais pr\u00f3ximas, e mesmo assim nos darmos conta das nossas limita\u00e7\u00f5es. Na \u00e1rea \u00e0 qual me dedico a estudar mais profundamente, que \u00e9 identidade corporativa, tenho lido autores que me deixam arrepiada. H\u00e1 os espanh\u00f3is Joan Costa e Paul Capriotti, o ingl\u00eas John Balmer, o americano Tony Spaeth, os argentinos Norberto Chaves e Ra\u00fal Belluccia e mais uma lista enorme que faz com que eu perceba exatamente o meu lugar, bem l\u00e1 no fim, pelo menos por enquanto. E \u00e9 uma sensa\u00e7\u00e3o \u00f3tima se dar conta do tanto que ainda tem para aprender e que tem tanta gente l\u00e1 na frente para iluminar nosso caminho.<\/p>\n
Ali\u00e1s, essas compara\u00e7\u00f5es com grandes mestres me fez lembrar de uma charge das cobras, personagens do (esse sim, extraordin\u00e1rio) Lu\u00eds Fernando Ver\u00edssimo. No primeiro quadro, aparecem as duas cobras olhando o c\u00e9u noturno estrelado. Ent\u00e3o uma se vira para a outra e diz: \u201cdiante desse infinito, eu me sinto um zero. E voc\u00ea?<\/em>\u201c A outra responde, candidamente: \u201cAh, sei l\u00e1! Um dois ou tr\u00eas…<\/em>\u201d<\/p>\n Se eu fosse um estudante de design, no m\u00ednimo olharia alguns grandes nomes no Brasil, como o Alo\u00edsio Magalh\u00e3es, Joaquim Tenreiro e Alexandre Wollner, para cair a ficha e ter uma id\u00e9ia vaga do que significa brilhantismo e excepcionalidade. Depois ainda tem Philip Stark, Karim Rashid, Javier Mariscal s\u00f3 para citar os internacionais que eu lembro agora, de cabe\u00e7a. Nem precisava ir t\u00e3o longe: o premiado C\u00e9lio Teodorico d\u00e1 aula para a mo\u00e7a.<\/p>\n Como eu disse \u00e0 Teresa, tomara mesmo que ela seja excepcional. Mas at\u00e9 agora n\u00e3o deu pra notar, e tenho certeza de que a culpa, pelo menos por enquanto, n\u00e3o \u00e9 do chefe dela…<\/p>\n