Estou me deliciando com o \u00f3timo \u201cA janela de Euclides<\/em><\/strong>\u201d, do Leonard Mlodinow, e fiquei surpresa com algumas descobertas interessantes.<\/p>\n O livro conta a hist\u00f3ria da geometria, das linhas paralelas e do hiperespa\u00e7o de um jeito que mesmo quem n\u00e3o gosta de matem\u00e1tica vai curtir. As explica\u00e7\u00f5es dos princ\u00edpios s\u00e3o bem amig\u00e1veis e o autor se debru\u00e7a bastante sobre a hist\u00f3ria e o contexto do local onde viveram os homens que revolucionaram a nossa vida e permitiram que hoje seja poss\u00edvel escrever num computador e ser lido instantaneamente por trocentos milhares de viventes.<\/p>\n Come\u00e7a com os gregos, fala de Euclides, Descartes, Gauss, Einstein e Witten, destacando a contribui\u00e7\u00e3o de cada um para que o conhecimento andasse para frente. Cada um desses merece uma resenha \u00e0 parte, mas fiquei especialmente impressionada com Pit\u00e1goras (sim, aquele do teorema), l\u00e1 na antiguidade cl\u00e1ssica.<\/p>\n Leonard nos conta que a capacidade de abstra\u00e7\u00e3o, muito necess\u00e1ria na matem\u00e1tica, veio principalmente da Babil\u00f4nia e do Egito. N\u00e3o que esse povo antigo tivesse um alto \u00edndice de nerds<\/em> entre seus cidad\u00e3os que adoravam ficar fazendo contas; a necessidade veio da constru\u00e7\u00e3o civil e, principalmente, veja s\u00f3, da cobran\u00e7a de impostos.<\/p>\n Foram necess\u00e1rios milhares de anos para o ser humano entender que o n\u00famero 2, por exemplo, era uma entidade com vida independente e que n\u00e3o precisava ser necessariamente representado por figos, camelos ou t\u00e2maras. Esse conceito era importante para medir \u00e1reas, terrenos, enfim, para fazer nascer a geometria (palavra de origem eg\u00edpcia trazida para a Gr\u00e9cia por Tales de Mileto, inventor do primeiro sistema de racioc\u00ednio l\u00f3gico). Geometria significa, literalmente, \u201cmedida da terra<\/em>\u201d.<\/p>\n Pois esse Tales, quando j\u00e1 era velho e famoso, recebeu a visita de um tal de Pit\u00e1goras, jovem muito promissor no assunto abstra\u00e7\u00e3o, e aconselhou-o a ir ao Egito estudar. O rapaz foi e parece que era muito bom de networking, tanto que foi dos poucos estrangeiros que conseguiu aprender hier\u00f3glifos. Essa escrita era t\u00e3o confidencial que Pit\u00e1goras foi iniciado nos ritos secretos e virou at\u00e9 sacerdote. Ficou l\u00e1 por 13 anos, at\u00e9 que foi levado pelos persas como prisioneiro numa guerra. Esperto, na P\u00e9rsia aprendeu tudo sobre a matem\u00e1tica babil\u00f4nica e s\u00f3 voltou \u00e0 Gr\u00e9cia aos 50 anos, quando decidiu fundar uma seita.<\/p>\n Bom de marketing que s\u00f3 ele, usou seus conhecimentos sobre hier\u00f3glifos como diferencial; alguns gregos achavam que ele tinha poderes especiais de divindade. Como de bobo Pit\u00e1goras n\u00e3o tinha nada, alimentou muitas hist\u00f3rias que rolavam a seu respeito para atrair seguidores. E agora vem a parte realmente interessante.<\/p>\n Sabe o que se falava sobre Pit\u00e1goras, mais de 500 anos antes de Maria engravidar?<\/p>\n H\u00e1 registros contando que um ladr\u00e3o invadiu a casa desse nobre senhor e viu coisas t\u00e3o estranhas que fugiu sem levar nada, recusando-se a dizer qualquer coisa a respeito. Antes de viajar para o Egito, Pit\u00e1goras viveu como eremita no monte<\/em> Carmelo (igual \u00e0 vig\u00edlia solit\u00e1ria de Cristo, t\u00e1 lembrado?). H\u00e1 tamb\u00e9m outra hist\u00f3ria dando conta de que Pit\u00e1goras ressuscitava os mortos<\/em>; diziam que ele aparecia em dois lugares ao mesmo tempo, podia controlar as for\u00e7as da natureza<\/em> e chegou, certa vez, a ser saudado por uma voz divina<\/em>. O povo comentava at\u00e9 que ele chegou a andar sobre as \u00e1guas<\/em>, pode?<\/p>\n Pit\u00e1goras pregava em sua seita que se devia amar os inimigos<\/em> e que os bens materiais atrapalhavam a busca da verdade divina… est\u00e1 acompanhando?<\/p>\n Dizia-se que Pit\u00e1goras era filho de Deus (no caso, o deus Apolo) e sua m\u00e3e se chamava Partene<\/em> (que, em grego, significa \u201cvirgem<\/em>\u201d).<\/p>\n Pit\u00e1goras foi realmente um mito em seu tempo; toda a antiguidade conhecia seus feitos e poderes. N\u00e3o poucos o idolatravam; um verdadeiro \u00edcone.<\/p>\n Mais ou menos em 500 a. C., o matem\u00e1tico teve que fugir de Crotona, a cidade onde morava, por persegui\u00e7\u00e3o pol\u00edtica. H\u00e1 quem diga que ele se suicidou, mas algumas fontes relatam que viveu at\u00e9 os 100 anos. J\u00e1 a sociedade pitag\u00f3rica sofreu v\u00e1rios ataques e foi praticamente dizimada; s\u00f3 alguns poucos conseguiram escapar.<\/p>\n Pois \u00e9, quem diria? Por que n\u00e3o ensinam isso para a gente na escola? Essas coincid\u00eancias incontest\u00e1veis de relatos antigos com hist\u00f3rias crist\u00e3s, para mim, revelam uma coisa: a igreja inventou o benchmarking<\/a>*<\/em>.<\/p>\n Isso \u00e9 que \u00e9 vis\u00e3o de mercado!<\/p>\n