<\/a><\/p>\n

O assunto que est\u00e1 bombando nos f\u00f3runs de design dessa semana \u00e9 um press-release da Azul Linhas A\u00e9reas<\/a> apresentando a sua nova marca gr\u00e1fica (que eles chamam erroneamente de \u201cidentidade corporativa\u201d) e explicando o modo como ela foi desenvolvida. Sinopse da novela: a marca, um mapa do Brasil formado por 26 quadradinhos (pixels) de tamanhos e cores variadas representando os Estados, foi elaborada pelo seu Diretor de Marketing, Gianfranco Beting, com a participa\u00e7\u00e3o direta do Vice-Presidente de Marketing, Trey Urbahn, e do Presidente do Grupo, David Neeleman.<\/p>\n

Beting explica que o processo de cria\u00e7\u00e3o levou 8 semanas para ser conclu\u00eddo, com 5 rodadas distintas de cria\u00e7\u00e3o com a colabora\u00e7\u00e3o de todos os principais executivos da empresa. Como o presidente sabia muito bem o que queria, foram analisados cerca de 80 layouts (j\u00e1 pensou se ele n\u00e3o soubesse ou estivesse em d\u00favida?).<\/p>\n

Na minha opini\u00e3o, este \u00e9 um dos casos mais sensacionais de que tive not\u00edcia sobre crise de identidade desde que comecei a estudar o assunto. At\u00e9 agora n\u00e3o consigo acreditar como os executivos da Azul foram capazes de reunir tantos ind\u00edcios para desacreditar uma empresa. S\u00f3 perde para o governo brasileiro em mat\u00e9ria de gest\u00e3o surreal. Mas vamos aos fatos.<\/p>\n

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A Azul \u00e9 uma empresa de avia\u00e7\u00e3o do mesmo grupo da americana JetBlue<\/em> (tamb\u00e9m tem azul no nome, como bem notou o Ricardo Martins; olha s\u00f3 que coincid\u00eancia…) e seu lan\u00e7amento no Brasil j\u00e1 come\u00e7ou controverso: o Presidente decidiu que os internautas escolheriam por vota\u00e7\u00e3o o nome da empresa e a cor dos uniformes das comiss\u00e1rias. Na p\u00e1gina do concurso, uma nota chamava aten\u00e7\u00e3o: a companhia se reservava ao direito de n\u00e3o usar o nome mais votado, como de fato, aconteceu. Os internautas escolheram Samba, mas a empresa optou pelo nome Azul. \u00c9 impress\u00e3o minha ou o concurso foi de mentirinha? E eles fazem quest\u00e3o de destacar o slogan \u201cA companhia a\u00e9rea que voc\u00ea escolheu<\/strong><\/em>\u201d (o grifo \u00e9 deles). Tudo leva a crer que contradi\u00e7\u00e3o \u00e9 um atributo essencial dessa empresa.<\/p>\n

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Voltando \u00e0 marca: a Azul quer se posicionar como uma companhia a\u00e9rea de baixo custo com forte apelo na praticidade, mas n\u00e3o consigo imaginar uma marca de aplica\u00e7\u00e3o mais cara e menos pr\u00e1tica que essa, afinal, s\u00e3o nada menos que 26 cores diferentes para serem aplicadas em avi\u00f5es, uniformes, pratinhos, garfinhos, escadas, balc\u00f5es e outros que tais. H\u00e1 Estados lilases, cinzas, amarelos e o Piau\u00ed \u00e9 inexplicavelmente pink (ok, poderia ser pior, n\u00e9? Relaxem, o Rio Grande do Sul \u00e9 um quadrado laranja). Certamente os executivos devem ter uma explica\u00e7\u00e3o para esse detalhe que fugiu aos redatores do press-release, mas o que se apresenta aqui \u00e9 mais uma contradi\u00e7\u00e3o entre o posicionamento da empresa e o design corporativo.<\/p>\n

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N\u00e3o vou me demorar mais sobre os problemas da marca gr\u00e1fica porque o Ricardo Martins, professor de design da UFPR, j\u00e1 nos brindou com uma an\u00e1lise precisa e irretoc\u00e1vel (1)<\/a> e (2)<\/a>*. Os problemas v\u00e3o muito al\u00e9m do m\u00e9todo projetual: da tipografia \u00e0s propor\u00e7\u00f5es, da semi\u00f3tica \u00e0s cores, da aplicabilidade \u00e0 conceitua\u00e7\u00e3o, tudo est\u00e1 errado.<\/p>\n

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Gente, mas a quest\u00e3o maior, na minha opini\u00e3o, nem \u00e9 essa. Pensem comigo: como \u00e9 que um diretor de marketing de uma empresa de avia\u00e7\u00e3o que vai entrar no mercado, juntamente como todo o primeiro escal\u00e3o, tem tempo dispon\u00edvel para desenhar e discutir 80 op\u00e7\u00f5es de layout de uma marca, bem como suas dezenas de aplica\u00e7\u00f5es? Mesmo que a equipe tivesse qualifica\u00e7\u00e3o para tal e todos eles tivessem vasta experi\u00eancia como designers para enfrentar um desafio dessa magnitude, onde fica a gest\u00e3o? Mais do que a forma\u00e7\u00e3o, o que se discute aqui \u00e9 a fun\u00e7\u00e3o e responsabilidades de cada membro da equipe. Qualquer calouro de administra\u00e7\u00e3o sabe que vis\u00e3o estrat\u00e9gica consiste em enxergar a empresa e seu contexto, suas for\u00e7as e fraquezas, as amea\u00e7as e oportunidades do ambiente de marketing. Cabe \u00e0 equipe de gestores se afastar do dia-a-dia operacional para enxergar o neg\u00f3cio de maneira a posicionar-se estrategicamente. Como \u00e9 que algu\u00e9m pode ter essa perspectiva enquanto brinca de desenhar \u201clogomarcas\u201d? Microgerenciamento e vis\u00e3o estrat\u00e9gica s\u00e3o abordagens mutuamente exclusivas, senhores! E d\u00e1-lhe contradi\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

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Ah, mais uma observa\u00e7\u00e3o: nem tente, como eu, acessar o site da Azul pelo \u00f3bvio endere\u00e7o www.azul.com.br<\/a>, pois, pasmem, ele n\u00e3o existe! Os executivos registraram o dom\u00ednio, mas optaram por um benchmarking tosco ao hospedar o conte\u00fado apenas no www.voeazul.com.br. Contradi\u00e7\u00e3o? Coincid\u00eancia?<\/p>\n

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Pois \u00e9, se eles n\u00e3o contratam designers para fazer um trabalho dessa responsabilidade, por que contratariam nutricionistas, psic\u00f3logos, chefs de cozinha, webdesigners e outros especialistas? A prata da casa n\u00e3o s\u00f3 \u00e9 cheia de talento e boa vontade como ainda parece ter muito tempo sobrando!<\/p>\n

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A julgar pelo amadorismo mostrado com tanto orgulho at\u00e9 aqui, n\u00e3o duvidaria que os uniformes estejam sendo desenhados pela filha de sete anos de um dos executivos que desenha bem e tem a cole\u00e7\u00e3o completa da Barbie; que os lanches estejam sendo concebidos pelo diretor financeiro, prestigiado gourmet nas horas vagas, e que a equipe de manuten\u00e7\u00e3o seja chefiada pelo cunhado do contador que trabalha numa hidrel\u00e9trica e sabe tudo de turbinas. Sobre o site, ele foi claramente projetado pelo sobrinho de algu\u00e9m do RH, \u00e9 s\u00f3 prestar bem aten\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

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Eu n\u00e3o sei quanto a voc\u00eas, mas tenho arrepios ao imaginar um avi\u00e3o dessa empresa pousando em Congonhas…<\/p>\n

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L\u00edgia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br<\/a><\/p>\n

* Vale a pena ler essas verdadeiras aulas de design: identidade-visual-da-azul-linhas-aereas<\/a> e identidadevisual-azul-resultado-dos-7-erros<\/a>.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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