![\"\"](\"https:\/\/www.ligiafascioni.com.br\/wp-content\/uploads\/2011\/02\/EricLafforgue70c5a_o-500x353.jpg\" "\\"EricLafforgue70c5a_o\\"")
<\/a>Esses dias ouvi um peda\u00e7o de conversa no corredor da faculdade, que, para mim, fez todo o sentido. Um rapaz, em uma revela\u00e7\u00e3o nada modesta, declarava, em alto e bom som “design \u00e9 coisa para gente bonita<\/em><\/strong>“. Vi-me obrigada a concordar com ele.<\/p>\n Antes que me acusem justamente de f\u00fatil (que sou mesmo, mas isso n\u00e3o vem ao caso agora), acompanhem um pouquinho a linha de racioc\u00ednio.<\/p>\n Uma das fun\u00e7\u00f5es mais nobres do design \u00e9 tornar o mundo mais belo (e tamb\u00e9m mais f\u00e1cil, intelig\u00edvel, sustent\u00e1vel, amig\u00e1vel, etc). Ou seja, a preocupa\u00e7\u00e3o est\u00e9tica est\u00e1 sempre presente, qualquer que seja o projeto. O olho do designer deve estar o tempo todo ligado em identificar desequil\u00edbrios, corrigir distor\u00e7\u00f5es, promover harmonia. O designer deve estar atento \u00e0s cores, aos pesos, \u00e0s propor\u00e7\u00f5es. E por que cargas d\u00b4\u00e1gua justamente a sua pr\u00f3pria apar\u00eancia ficaria fora disso tudo?<\/p>\n Penso que a busca do belo \u00e9 condi\u00e7\u00e3o essencial para o exerc\u00edcio da profiss\u00e3o. Mas aten\u00e7\u00e3o: belo n\u00e3o quer dizer magro<\/strong>, com as fei\u00e7\u00f5es perfeitamente sim\u00e9tricas, corpo escultural, parecendo que o profissional em quest\u00e3o acabou de cair de um cat\u00e1logo de moda. H\u00e1 pessoas gordas e lind\u00edssimas, h\u00e1 narizes enormes e ex\u00f3ticos, h\u00e1 orelhas de abano muito interessantes. Justamente a\u00ed \u00e9 que est\u00e1 o talento do bom designer: pegar a mat\u00e9ria prima dispon\u00edvel e torn\u00e1-la bela usando apenas o seu conhecimento, seu senso est\u00e9tico e os recursos da composi\u00e7\u00e3o. Uma das pessoas mais elegantes que conhe\u00e7o \u00e9 o J\u00f4 Soares, com aquela gravatinha borboleta que mostra capricho e estilo. Conheci tamb\u00e9m uma varredora de ruas que ia trabalhar toda maquiada e produzida, levantando o astral do bairro todo. Quem n\u00e3o come\u00e7aria o dia de bom humor ao cruzar com a Elke Maravilha na esquina? O belo est\u00e1 justamente na diferen\u00e7a, no contraste, n\u00e3o na plastifica\u00e7\u00e3o que teima em tentar fazer todo mundo caber no mesmo molde.<\/p>\n Ent\u00e3o, penso que o designer deve sim, preocupar-se com sua pr\u00f3pria apar\u00eancia. Ser\u00e1 que est\u00e1 usando as propor\u00e7\u00f5es corretas? As cores mais adequadas? Ser\u00e1 que est\u00e1 comunicando uma mensagem intencional ou apenas dependendo da sorte? D\u00e1 para perceber, s\u00f3 de olhar, o seu cuidado com os detalhes, o seu talento, a sua compet\u00eancia t\u00e9cnica? E, n\u00e3o custa lembrar, \u00e9 claro que isso n\u00e3o se traduz s\u00f3 na roupa (que n\u00e3o tem nada a ver com marcas), mas tamb\u00e9m na postura, no tom de voz, no vocabul\u00e1rio.<\/p>\n Recomendaria essa pr\u00e1tica, n\u00e3o fosse por outro motivo, ao menos por respeito aos seus clientes. Nunca me esque\u00e7o de uma entrevista da premiada atriz Katherine Hepburn, j\u00e1 passada dos noventa anos e longe de ter aquela beleza hollywoodiana com a qual ficou famosa, que dizia se arrumar e se maquiar todos os dias em considera\u00e7\u00e3o e respeito \u00e0s pessoas com as quais convivia. Ela, se n\u00e3o quisesse, n\u00e3o precisava contemplar a sua figura \u2013 bastava n\u00e3o se olhar no espelho. Mas seus companheiros de jornada n\u00e3o tinham essa escolha. Grande dama, heim?<\/p>\n Considero uma contradi\u00e7\u00e3o grave um designer sair por a\u00ed falando que n\u00e3o liga para a apar\u00eancia. Em vez de parecer blas\u00e9<\/em>, para mim, soa hip\u00f3crita.<\/p>\n \u00c9 claro que h\u00e1 pessoas que consideram o corpo e o aspecto externo apenas uma casca sem valor. Defendem que mais importante \u00e9 o que est\u00e1 por dentro. S\u00f3 que para o designer, o dentro e o fora deveriam ser igualmente importantes. A forma, a fun\u00e7\u00e3o e o significado precisam estar em sintonia.<\/p>\n As pessoas, \u00e9 claro, t\u00eam todo o direito de ignorar completamente como est\u00e3o vestidas, se os cabelos est\u00e3o desgrenhados ou se mastigam de boca aberta. Despojamento n\u00e3o \u00e9 e nunca foi crime. Respeito e entendo o princ\u00edpio. S\u00f3 acredito que design n\u00e3o \u00e9 a profiss\u00e3o ideal para gente assim.<\/p>\n Entenderam, meus lindos?<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Essa coluna, de agosto de 2007, \u00e9 bem pol\u00eamica. O que voc\u00ea pensa a respeito? 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