Tipping point

Faz anos que estou para resenhar esse livro, mas agora o assunto veio à tona, não só por causa do Coronavírus, mas principalmente por conta do curso de coolhunting que estou fazendo. 

Então vamos lá!

Der tipping point: wie kleine dinge grosses bewirken können” (tradução livre: “O ponto de inflexão: como pequenas coisas podem causar grandes efeitos”), de Malcolm Gladwell, discute como é que as epidemias se formam, ou seja, como as coisas viralizam (para o bem e para o mal).

Ele começa dizendo que Tipping point é uma biografia de uma ideia simples: o que faz com que um livro vire um best seller, que adolescentes comecem a fumar mais ou o fenômeno da propaganda boca-a-boca, é o princípio da epidemia. As ideias, hábitos e mensagens se espalham como se fossem um vírus. Tipping point (ou momento da inflexão) é quando a epidemia toma um volume que muda tudo; é o momento em que a água ferve.

Ele apresenta os três princípios ou regras para uma epidemia acontecer:

  1. Lei dos poucos: algumas pessoas têm o poder de disseminar muito mais desproporcionalmente ideias/produtos/doenças/etc por causa de suas conexões. São os chamados superdisseminadores.
  2. Fator fixação: a facilidade de memorizar uma ideia, a capacidade de adaptação de um vírus, desenvolvendo-se em várias mutações, mostram que pequenas mudanças podem ser muito poderosas para “grudar” nas pessoas.
  3. O poder do contexto: o comportamento das pessoas é influenciado o tempo todo pelo contexto. Se numa pandemia, por exemplo, você começar a ver gente ignorando-a, como se ela não existisse, a tendência do ser humano é repetir esse comportamento. O contrário também vale. Se um lugar está limpíssimo, as pessoas resistem a jogar um papel no chão. Mas se ele está imundo, ninguém liga de despejar seu lixo lá

1. Lei dos poucos

Malcolm se utiliza do Princípio de Pareto para explicar o fenômeno pelo qual poucas pessoas conseguem influenciar tantas outras. O Princípio de Pareto (no livro ele chama de Princípio 80/20) diz que 80% das consequências resultam de 20% das causas. Por exemplo: 20% dos bebedores de cerveja são responsáveis por 80% do consumo; 20% dos criminosos são responsáveis por 80% dos crimes; 20% dos clientes são responsáveis por 80% do lucro das empresas.

Essas poucas pessoas que têm tanto poder para influenciar os resultados, são divididos pelo autor em três grupos:

CONECTORES: São aquelas pessoas que têm muitos contatos, conhecem todo mundo. Gladwell fala sobre o poder do boca-a-boca na viralização de ideias e notícias.

CONHECEDORES: São os especialistas, os peritos, as pessoas que buscam informação o tempo inteiro. São os acumuladores de conhecimento de todo o tipo. Por exemplo: aquela pessoa que fica procurando o melhor preço de um produto para comprar. Aí ela encontra, orgulhosa, uma verdadeira pechincha. Essa pessoa costuma compartilhar a descoberta com os amigos próximos. Se um deles for um conector, há boas chances da coisa viralizar.

VENDEDORES: Esse terceiro tipo de pessoa é muito importante, pois é quem investe energia para convencer as pessoas a adotar novos pontos de vista que não são os usuais.

Gladwell esclarece que as pessoas podem exercer mais de um papel ao mesmo tempo para disseminar uma ideia. Por exemplo: a pessoa pode ser um conector e um conhecedor; com a ajuda de um vendedor, consegue fazer um produto, ideia ou notícia viralizar.

2. O fator fixação

Há inúmeros fatores que fazem com que uma ideia cole na cabeça das pessoas e alguns elementos são conhecidos dos publicitários e desenvolvedores de produtos de massa. Aquela música que você não consegue parar de cantarolar, aquela pesquisa para determinar o que emociona o espectador. Tem muito estudo para tentar descobrir a fórmula. Mas, em alguns casos, esses elementos são imprevisíveis e surpreendentes.

Ela cita, como exemplo, todo o cuidado e desenvolvimento do programa infantil Vila Sésamo, fruto de muita pesquisa e adaptações.

3. O poder do contexto

O ambiente precisa estar favorável para que uma “moda” pegue. Por exemplo; o número de agressões racistas aumenta quando os agressores se sentem seguros e acompanhados nas ações, seja por influenciadores nas lideranças, seja por pessoas próximas.

O comportamento pode mudar completamente, inibindo as agressões, se houver uma mudança de ambiente. É o caso do bullying na escola, por exemplo, ou regiões da cidade com maior índice de criminalidade do que outras. 

Conclusões

Resumindo: o sucesso estrondoso da disseminação de algo é uma combinação rara de fatores: as pessoas certas envolvidas, uma ideia que realmente “pegue” e “grude” na cabeça do povo e o ambiente propício para tudo isso acontecer.

Vale para doenças, explosão de seguidores de influencers, sucesso na venda de produtos ou ideias/conceitos que se tornam consenso.

No livro, Malcolm detalha cada uma das regras e dos grupos de influenciadores; conta casos, da exemplos diversos e muito interessantes. E fala também do fenômeno da tradução: quando uma ideia vai se simplificando e se adaptando até ter o formato ideal para viralizar.

Pessoalmente não gosto do estilo da escrita do Malcolm Gladwell; acho o autor confuso e pouco didático. Ele mistura as ideias, desvia do assunto, insere histórias longas e e é difícil fazer um desenho na mente; às vezes é preciso reler um trecho depois de um tempo para entender o que tinha a ver com o próximo tema.

Penso ser um esforço desnecessário para entender as ideias dele, que, a meu ver, são brilhantes. Só por isso continuo teimando…rs

3 Responses

  1. Flávio Torres
    Responder
    18 maio 2020 at 7:55 am

    Adorei o texto Tipping point. Interessante como as coisas todas são organismos vivinhos da silva!

  2. Ricardo Martins
    Responder
    18 maio 2020 at 8:19 am

    Oi Ligia, eu te digo que vc escreve melhor o autor Gladwell. O livro dele é ruim porque ele escreve mal, mas principalmente por que o livro tem falácias demais, generaliza, tenta ser preditivo (mas é no máximo especulativo e retrospectivo). É fácil descrever a causa de um fenômeno depois que ele acontece. O autor alega ter encontrado a causa das viralizacoes, mas ele mesmo se contradiz quando diz que os aspectos apenas “aumentam as chances” delas acontecerem. Ora bolas, aumentar as chances depende de zilhoes de fatores. E afirmar que é o contexto que pode matar ou catalisar um processo é ser no mínimo óbvio dizendo que sem sol, terra, água e temperatura certa a semente não cresce. Me diz seu e-mail pois vou te mandar um texto científico que faz o contrário do Gladwell : explica porque os sistemas FALHAM.
    Um forte abraço, da primavera de Savannah.
    Ricardo Martins.

    • 19 maio 2020 at 4:15 am

      Olha, eu não gosto do estilo dele, mas não acho que ele ele fala o óbvio. Ele não promete receitas mágicas no livro, apenas analisa alguns indicadores. Curiosíssima para ler o artigo. Muitíssimo obrigada!

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