Micro

Encontrei “Micro”, de Michael Crichton e Richard Preston numa caixa de doações; aqui em Berlim é muito comum você fazer a limpa na sua casa e deixar uma caixa na frente do prédio com objetos que não quer mais — você escreve “zum Geschenk” (tradução livre: “para doação”) e as pessoas pegam o que querem. Eu sempre olho nesses caixas para ver se tem livros — já achei coisas ótimas; inclusive uma bota e um casaco maravilhosos).

Pois bem, peguei a edição de bolso em inglês porque conhecia o Michael Crichton (que você também deve conhecer). Se você não está ligando o nome à pessoa, ele escreveu o livro que deu origem ao lendário filme “O Parque dos dinossauros”.

Esse médico por formação (o que explica a precisão nos termos de biologia e medicina usados em roteiros e livros), foi autor de várias obras de ficção científica, ficção médica e suspense; atuou como roteirista de televisão (é dele  a série “Plantão médico”); também foi diretor de filmes e produtor de cinema. O sujeito era mesmo um incansável e cheio de talentos.

Tanto que esse livro, mais especificamente, tem um co-autor, o escritor Richard Preston, porque os originais estavam incompletos quando ele morreu, em 2008. A editora então convidou um co-autor para terminá-lo e o livro foi lançado em 2011.

Bom, mas vamos de história, como diz a Déia do Podcast Não inviabilize (que eu adoro!).

No começo do livro estão apresentados sete estudantes de graduação que estão fazendo pesquisas em um laboratório na Universidade de Harvard. Todos são da área de biologia: um especialista em remédios de povos indígenas; uma aracnologista, um expert em venenos, uma especialista em insetos, um botânico, um bioquímico com foco em feromônios e um estudante de doutorado especialista em códigos linguísticos. 

Eles estão lá de boas, fazendo suas pesquisas, quando o irmão de um deles, chamado Peter, aparece no laboratório (incrível como são áreas tão diversas e todos trabalham no mesmo espaço físico) para convidar a galera para fazer parte de uma star-up baseada no Havaí.

O principal acionista da start-up é a própria personificação do vilão sem escrúpulos que só pensa em dinheiro; um psicopata em seu estado puro. O irmão do Peter que vem a ser o diretor técnico, gente boa, obviamente não percebe, assim como sua namorada, que cuida da parte administrativa.

Os estudantes são seduzidos pelas promessas e acabam topando conhecer a empresa em algumas semanas. Só que um dia antes da viagem, Peter recebe uma mensagem do seu irmão (que já está em Honolulu) dizendo apenas “Não venha”. Só e mais nada. 

Logo depois ele recebe uma ligação da polícia informando o desaparecimento do autor da mensagem.

Os alertas vermelhos estão no máximo para quem está atento, mas mesmo assim vão todos alegremente em excursão conhecer a empresa, que está funcionando normalmente, apesar do desaparecimento de um dos seus principais executivos num acidente de barco muito mal explicado.

Peter começa a investigar por conta própria, e com a ajuda de um hacker descobre que o CEO da empresa está envolvido no sumiço, assim como a namorada executiva.

Em um lampejo de genialidade, o rapaz tem a brilhante ideia de desmascarar o CEO durante a visita, na frente de todos os estudantes. Tolinho, ele acha que o sujeito vai simplesmente ficar bravo e só. 

Bom, uma das coisas um pouco irritantes no livro é o quão estereotipados e previsíveis são os personagens. Tem o covarde, a corajosa, o líder, a revolucionária inconformista, o egoísta, enfim, até o detetive esperto: a receita completa.

Pois que a tal start-up desenvolveu uma tecnologia que consegue reduzir qualquer coisa, inclusive humanos, a tamanhos milimétricos (tipo um seriado antiquíssimo que passava na TV quando eu era criança chamado “Terra dos Gigantes”). 

E, tendo o grupo de estudantes tendo acesso a informações sensíveis relacionados ao seu mau-caratismo, o CEO decide miniaturizá-los e largá-los para morrer (um assassinato que não deixa rastros, olha que bacana) junto com o operador a geringonça (que é um funcionário fiel e não está sabendo das maldades do chefe).

A beleza da história é que, nas várias reviravoltas, o grupo vai parar no meio de uma floresta tropical riquíssima. Mesmo correndo o risco de serem comidos por formigas ou aranhas, além de seres de várias espécies, eles ficam entre o deslumbramento e o pavor. Cada um usa seus conhecimentos específicos para livrar o grupo das ameaças diversas e essa parte é realmente legal.

O autor tem muito apreço pela exatidão das informações, e, apesar de eu ser totalmente leiga em biologia, achei bem convincente.

Como o autor também era roteirista e diretor de cinema, parece que a gente está assistindo um filme (não achei nada a respeito, mas talvez já exista) que é bem bacana. A física e a metabolismo do organismo humano são diferentes nessa escala; é como se eles estivessem num outro planeta e conseguissem perceber que a natureza é ainda mais rica dos que os estudos mostram.

Apesar das limitações com relação aos personagens (de uma pobreza digna de filme de sessão da tarde), achei a história bacana e bem contada. Divertimento e aprendizado; se você fizer a correta gestão de expectativas, pra que mais, né?

Vai lá que eu recomendo!

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