Desculpem, sou novo aqui

1701Nova sou eu. Esse cara nasceu escrevendo, não é possível! Já aconteceu com você de grudar num livro e, a cada página pensar: “Puxa, que bela sacada! Nossa!!“. Fiquei encantada, apaixonada, embevecida, enfim, agradavelmente surpresa como fazia anos não ficava ao ler um livro. Lembro de ter sentido algo semelhante quando li Jane Austen pela primeira vez. No “Retrato de Doryan Gray“, do Oscar Wilde, também fiquei assim, deliciando-me com cada frase.

Recentemente li Fernanda Young e Chico Buarque e adorei, mas eu já sabia qual era a deles e a expectativa era alta, então não foi surpresa.

Já no caso do “Desculpem, sou novo aqui“, do Carlos Moraes (como é que esse sujeito ainda não virou celebridade internacional? não consigo entender), eu tinha lido uma resenha na Veja no começo do ano passado e fiquei curiosa. Essa semana dei com o livro novinho num sebo. Arrisquei. E ganhei na megassena acumulada.

A história não é nada demais, um ex-padre gaúcho começando a vida em São Paulo nos anos 70 como jornalista, tal qual o autor (o livro é um pouco autobiográfico). Mas como o tal escreve!

Olha um trecho onde ele e o colega de trabalho ficam perturbadíssimos com as coxas bronzeadas de uma jornalista:

Só sei que depois, junto à máquina do cafezinho, o Jéfferson me perguntou num tom assim de gravidade contida:

— Qual é, pô?

Eu só falei:

— Pois é, cara.

Não sei o que ele quis perguntar, nem direito o que eu respondi. Felizmente a comunicação moderna nos propicia esses confortos

E essa impagável descrição: “Olhamos instintivamente em volta e damos com um sujeito de terno creme, camiseta preta, óculos escuros, bigode ralo e um sorrisinho desses nascidos para justificar, em português, a palavra perfunctório“.

Por último, esse trecho de conversa, quando uma colega pergunta sobre o celibato:

— Isso de sacerdócio, celibato, como na prática é vivido? Agora você já pode contar.

— Bom. Começa, claro, com um grande enlevo por Cristo, o Evangelho. Com o tempo, se a gente não se cuida, passa do enlevo para uma espécie de auto-hipnose. Depois, pelo que eu pude observar em certos colegas, vem a zumbificação, a completa zumbificação. Esses dias aí eu vi um bando de cardeais pela televisão, com aquelas caras, aquelas roupas, meu Deus do céu.

— Sei.

— Sabe como?

— Pelo casamento. Se a gente não se cuida, não é muito diferente. Enlevo, auto-hipnose, zumbificação.

Recomendo, recomendo, recomendo.

4 Responses

  1. 1 fevereiro 2013 at 9:33 pm

    é bom ver que o Brasil experimenta novos talentos, a exemplo do Marçal Aquino, que se tivesse nascido nos EUA já era celebrado internacionalmente…

    • ligiafascioni
      Responder
      7 maio 2014 at 1:36 pm

      Também adoro Marçal Aquino, Felipe!

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