A era dos milagres

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Fazia muito tempo que não lia um romance tão bem escrito, tão prazeroso e… tão triste.

The age of miracles, livro de estreia da americana Karen Thompson Walker, começa como se fosse um legítimo Saramago e termina no melhor estilo ficção científica. Durante, é pura poesia.

A história é contada por uma menina de 11 anos, Julia. Um belo dia, descobre-se que o planeta Terra está girando mais devagar e que os dias estão ficando maiores. No começo é pouco mais de uma hora que se acrescenta, mas com o tempo, o intervalo entre o sol nascer e se pôr chega a durar semanas. As pessoas não sabem bem o que está acontecendo, são muitas transformações sem explicação, a força da gravidade aumenta, as marés são afetadas, vários fenômenos naturais aparecem como resultado e cada um tenta administrar a situação como consegue.

Depois do impacto inicial, onde o dia ganha algumas horas e gera certo caos (as funções onde as pessoas trabalham por turnos acabam ficando a descoberto, por exemplo), o governo americano (a história se passa na Califórnia), resolve que os dias continuarão a ter 24 horas, independente do tempo em que o sol permanece no firmamento.

Eis que as pessoas se dividem entre as que cumprem a determinação  e aquelas que preferem seguir seu relógio biológico (acordam quando o dia clareia e vão dormir quando está escuro). A intolerância com os diferentes manifesta-se com a violência habitual: eles são praticamente excluídos da sociedade e acabam se isolando, mesmo que seu modo de vida não interfira em nada no dos outros (sim, conhecemos essas manifestações de outros carnavais e os inseguros que não podem admitir que outros não sigam sua cartilha são infelizmente quase sempre maioria). Mas mesmo os “real timers“, como são chamados, não aguentam a pressão (imagine ficar 30 horas acordado direto depois de dormir 30, com a perspectiva de piorar).

The slowing, como é chamado o fenômeno, continua fazendo os dias crescerem cada vez mais e impacta a vida de de todos. Julia se apaixona pela primeira vez, a mãe não consegue administrar o medo de que o mundo acabe, o pai tenta manter a calma no meio do caos, o avô acredita numa teoria conspiratória. Tudo contado com muita delicadeza e sensibilidade.

Quando li a quarta capa com o resumo da história, achei o argumento genial. Agora, depois do fim, a vontade é de começar a reler tudo novamente.

Mais que recomendo.

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