Design é coisa para gente bonita

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Uma frase ouvida no corredor da faculdade me deu o que pensar. E virou tema da minha coluna dessa semana no AcontecendoAqui. Será mesmo que os feios não têm vez e beleza é mesmo fundamental no design?

DESIGN É FUNDAMENTAL

28-08-07 Esses dias ouvi um pedaço de conversa no corredor da faculdade, que, para mim, fez todo o sentido. Um rapaz, em uma revelação nada modesta, declarava, em alto e bom som “ design é coisa para gente bonita “. Vi-me obrigada a concordar com ele.

Antes que me acusem justamente de fútil (que sou mesmo, mas isso não vem ao caso agora), acompanhem um pouquinho a linha de raciocínio.

Uma das funções mais nobres do design é tornar o mundo mais belo (e também mais fácil, inteligível, amigável, etc). Ou seja, a preocupação estética está sempre presente, qualquer que seja o projeto. O olho do designer deve estar o tempo todo ligado em identificar desequilíbrios, corrigir distorções, promover harmonia. O designer deve estar atento às leis da Gestalt, à semiótica, à teoria das cores, aos pesos, às proporções. E por que cargas d´água justamente a sua própria aparência ficaria fora disso tudo?

Penso que a busca do belo é condição essencial para o exercício da profissão. Mas atenção: belo não quer dizer magro, com as feições perfeitamente simétricas, corpo escultural, parecendo que o profissional em questão acabou de cair de um catálogo de moda. Há pessoas gordas e lindíssimas, há narizes enormes e exóticos, há orelhas de abano muito interessantes. Justamente aí é que está o talento do bom designer: pegar a matéria prima disponível e torná-la bela usando apenas o seu conhecimento, seu senso estético e os recursos da composição. Uma das pessoas mais elegantes que conheço é o Jô Soares, com aquela gravatinha borboleta que mostra capricho e estilo. Já falei também de uma varredora de ruas que conheci, que ia trabalhar toda maquiada e produzida, levantando o astral da rua toda. Quem não começaria o dia de bom humor ao cruzar com a Elke Maravilha na esquina? O belo está justamente na diferença, no contraste, não na plastificação que teima em tentar fazer todo mundo caber no mesmo molde.

Então, penso que o designer deve sim, preocupar-se com sua própria aparência. Será que está usando as proporções corretas? As cores mais adequadas? Dá para perceber, só de olhar, o seu cuidado com os detalhes, o seu talento, a sua competência técnica? E, não custa lembrar, é claro que isso não se traduz só na roupa, mas também na postura, no tom de voz, no vocabulário.

Recomendaria essa prática, não fosse por outro motivo, ao menos por respeito aos seus clientes. Nunca me esqueço de uma entrevista da premiada atriz Katherine Hepburn, já passada dos noventa anos e longe de ter aquela beleza hollywoodiana com a qual ficou famosa, que dizia se arrumar e se maquiar todos os dias em consideração às pessoas com as quais convivia. Ela, se não quisesse, não precisava contemplar a sua figura – bastava não se olhar no espelho. Mas seus companheiros de jornada não tinham essa escolha. Grande dama, heim?

Considero uma contradição grave um designer sair por aí falando que não liga para a aparência. Em vez de parecer blasé, para mim, soa hipócrita.

É claro que há pessoas que consideram o corpo e o aspecto externo apenas uma casca sem valor. Defendem que mais importante é o que está por dentro. Só que para o designer, o dentro e o fora são igualmente importantes. A forma, a função e o significado precisam estar em sintonia.

As pessoas, é claro, têm todo o direito de ignorar completamente como estão vestidas, se os cabelos estão desgrenhados ou se mastigam de boca aberta. Despojamento não é e nunca foi crime. Respeito e entendo o princípio. Só acredito que design não é a profissão ideal para gente assim.

Entenderam, meus lindos?

5 Responses

  1. Márcio
    Responder
    2 setembro 2007 at 4:03 pm

    Lígia, muito legal o assunto abordado! Aqui no Maranhão de vez em quando escuto: seu estilo é muito São Paulo, rss. Fazer o quê?!

  2. 6 dezembro 2011 at 7:20 am

    Adorei e concordo plenamente Ligia! A aparencia e tambem acrescentaria Boas Maneiras sao mais do que estilo, sao demonstracoes de respeito as pessoas com as quais convivemos. Principalmente com aqueles que moram conosco, familiares, amigos, etc!
    Adorei! Beijos da Australia

  3. Bianca
    Responder
    6 dezembro 2011 at 7:00 pm

    Acho que você está certa, mas acho errado de dizer que maquiagem é uma forma de ser belo devemos contemplar nossa beleza natural e sermos sim se preocupar com a nossa roupa, corte de cabelo e nossa pele cuidando dela e não a estragando com maquiagem. (:

    • ligiafascioni
      Responder
      6 dezembro 2011 at 7:04 pm

      Oi, Bianca!
      Entendo seu ponto de vista, mas hoje em dia há maquiagens que tratam em vez de estragar a pele (foi-se o tempo em que o pó de arroz entupia os poros – hoje em dia os pós compactos têm até filtro solar). Sem dizer que com 20 e poucos anos é mais fácil andar de cara lavada.

      Com a idade, um batonzinho ou um blush de leve fica com cara de “senhorinha bem cuidada”.

      Mas é claro que isso é uma opção de cada um, tem velhinhas muito charmosas que são lindinhas por natureza 🙂

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