Para quem vai se arriscar…

Essa semana fiquei chateada porque soube de mais de um caso de gente que perdeu o trabalho de um ano inteiro (ou mais) simplesmente porque desconhecia os princípios básicos de gestão de riscos.

Como não quero mais ouvir histórias tristes assim, vai aqui a minha contribuição para que teses, dissertações, artigos, TCCs, trabalhos e projetos sejam apresentados com sucesso e sem tragédias.

A gestão de riscos é uma das disciplinas da área de conhecimento denominada Gestão de Projetos. Na minha opinião, devia ser ensinada no primeiro grau.

É claro que o negócio é mais complicado, mas vou dar uma resumida aqui para que a ferramenta possa ser usada de maneira simplificada por quem quiser.

Vamos supor que você tenha um determinado projeto; esteja escrevendo uma monografia, por exemplo. Você depende dela para se formar, então a coisa é importante e exige um certo cuidado nos trâmites; vamos fazer a gestão de riscos da danada.

Primeiro, você faz uma lista de todos riscos aos quais seu projeto estará sujeito. Mas atenção: riscos são eventos que podem ou não ocorrer. E caso aconteçam, vão causar um impacto no seu projeto (pode ser positivo ou negativo).

Assim, se você mora numa cidade com trânsito complicado e tem uma apresentação importante, pegar engarrafamento não é risco, é fato; ou seja, risco com 100% de chances de acontecer. Seu computador dar pau também é fato (estamos apenas falando de quanto tempo isso vai levar). Esse tipo de coisa você tem que considerar como fato e se preparar para quando ocorrer, ok?

Agora vamos falar de riscos, aquelas coisas que a gente não controla e não sabe se vão ou não acontecer.

Vários fatores podem provocar tragédias nos nossos projetos: planejamento sem folga, incompetência, falha de equipamento ou mudança de tecnologia; falta de comprometimento seu ou de outras pessoas envolvidas; problemas com recursos (ex: tempo, dinheiro, fornecedores, pessoas, etc); questões do ambiente econômico (ex: alta do dólar, por exemplo), político (ex: mudança de leis), natural (ex: enchentes, furacões), demográfico (ex: mudança do perfil da população que seria seu cliente); dificuldades de comunicação e falhas em alianças estratégicas são os mais comuns.

Sabendo disso, não dá para a pessoa dizer que foi pega de surpresa, pois isso só mostra sua falta de planejamento (o que, para posições de responsabilidade, não deixa de ser incompetência).

Se seu projeto é realmente importante, você terá considerado todas essas questões (ou pelo menos as que causam maior impacto). Já vi desculpa esfarrapada de todo o tipo, desde a impressão ruim porque acabou a tinta (coisa imprevisível mesmo, como a pessoa vai adivinhar que um dia a tinta acaba, não é mesmo?) até ter deixado de entregar o trabalho porque o computador pegou um vírus (outro fator vindo de um planeta distante que ninguém poderia ousar imaginar). Melhor reconhecer a própria limitação do que querer ter razão nesses casos; fica feio…

Bom, mas aí você é um profissional responsável e listou os riscos que podem acontecer durante a execução do projeto, como por exemplo: seu orientador morrer, você perder o emprego, você encontrar um monte de bibliografia ótima por acaso, seu computador dar pau (vá lá), alguém já ter escrito uma monografia com a mesma argumentação que você,  sua casa ser assaltada e levarem todo o seu material, seu cachorro comer o HD externo, alguém copiar seus arquivos e apresentar antes de você, etc. Aqui, é um exercício de criatividade um tanto quanto mórbida mesmo; é claro que os eventos que causam impactos positivos também devem ser lembrados – só assim a gente pode ser preparar para aproveitá-los melhor e não perder as oportunidades. Mas a parte mais crítica mesmo é com aqueles eventos que causam impactos negativos, as tais ameaças.

Fez a lista? Beleza. Agora você vai desenhar 3 colunas ao lado dessa lista. Na primeira, você vai dar uma nota  para a probabilidade do evento acontecer. Na segunda, você dá uma nota para o impacto que o evento terá sobre o seu trabalho se ele acontecer. Na última coluna, você multiplica as duas notas.

Exemplo: num range de 1 a 10, sendo 1 uma probabilidade muito baixa de algo acontecer e 10 muito alta; 1 o impacto baixo e 10 alto, você coloca, para o evento “perder HD”:  probabilidade = 7; impacto = 10; resultado: 7 x 10 = 70.

tabela de riscos

Você faz isso para a lista toda. Aí pega os resultados mais altos e separa por ordem decrescente. Os maiores são aqueles com os quais você tem que se preocupar e fazer algo a respeito.

Você pode, para cada caso:

a) Evitar ou eliminar o risco (por exemplo, não posso evitar que meu cachorro seja irresistivelmente atraído pelo HD externo, mas posso  guardar o dito cujo fora do alcance do peludo).

b) Mitigar o risco, que é reduzir o impacto que ele pode causar se ocorrer (por exemplo, enviando por e-mail, 4 vezes por dia, os arquivos do trabalho para uma conta criada especialmente para esse fim; é grátis e também protege você no caso de sobrescrever arquivos por engano).

c) Atuar para reduzir a probabilidade do risco (por exemplo, comprar um HD de qualidade e resistente a mordidas e quedas).

d) Transferir o risco (por exemplo: contratar um backup virtual; aí a você paga uma empresa para que ela passe a se preocupar com a integridade de seus dados).

e) Aceitar o risco (é o que a maioria faz). Se acontecer, paciência. Deus quis assim, só resta ir para a cama chorar e lamentar a “fatalidade”.

Aí é com você escolher a melhor alternativa para cada caso. O que não dá é para entregar esse tipo de coisa “pra Deus” porque Ele já tem mais o que fazer na vida do que ficar cuidando do seu TCC.

Ou melhor, até pode, mas depois não adianta reclamar, né?

8 Responses

  1. ÊnioPadilha
    Responder
    27 dezembro 2012 at 4:54 pm

    Disse tudo, Ligia.
    E disse-o muito bem. Quando escrevo alguma coisa importante, a primeira coisa que eu faço é justamente salvar “na nuvem”. Mandar por FTP para a área de memória disponível no nosso nosso site.
    Todo o conteúdo dos meus cursos e palestras estão disponíveis lá. Se for necessário (se eu perder meu computador numa viagem, por exemplo) posso recuperar todas as informações tranqüilamente. No máximo, perco as atualizações de uma ou duas semanas.

    Mas ainda cometo meus erros: por exemplo, por comodidade, ando pra cima e pra baixo com o HD externo (que tem todas as informações, digamos de segundo escalão) quase sempre junto com o computador. Evidentemente esta não é uma estratégia inteligente, já que o HD serve, entre outras coisas, para prevenir o roubo do computador. Não fará isso se for roubado junto com o computador.
    Depois desse seu artigo vou pensar em algo mais esperto.

    • ligiafascioni
      Responder
      27 dezembro 2012 at 5:26 pm

      Outra coisa que você tem que pensar é em criptografar o conteúdo do HD do computador e do externo. Se eles forem roubados, sua vida está aí dentro (às vezes o navegador memoriza senhas, etc). Estou me lembrando que fui defender minha tese de doutorado com duas lâmpadas de data-show dentro do bolso (os projetores viviam falhando naquela época)…eeheheheh

      Beijocas e obrigada por compartilhar mais essas dicas 🙂

  2. Marcelo Tournier
    Responder
    18 julho 2013 at 8:32 am

    Gostei do artigo!
    Deixo a dica de instalar o dropbox no computador. Ele faz um backup constante e automático dos seus dados na nuvem e em qualquer outro computador seu com o dropbox. Se queimou o hd, você está salvo. E se vc tem iphone ou android, o dropbox do smartphone copia todas as suas fotos para o seu computador e para a nuvem automaticamente também.
    Deixo um link para criarem uma conta no dropbox gratuitamente. http://db.tt/z0jmJIy

    • ligiafascioni
      Responder
      18 julho 2013 at 4:06 pm

      Que ótima dica, Marcelo!
      Na época em que escrevi o post ainda não era tão fácil assim.
      Obrigada por compartilhar 🙂

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