A pessoa entrando na casa dos 50

Sempre achei que ia ser dessas mulheres que fazem 50 anos e escrevem um texto profundo com lições de vida e conselhos inspiradores para os mais jovens. Uma diva sábia de cabelos brancos, olhar calmo e atitude de quem sabe das coisas, só distribuindo recomendações ponderadas para situações difíceis. Tipo aquela senhora elegante de catálogo de plano de previdência, sabe?

Mas completar meio século não era nada do que pensei.
Não que eu esteja reclamando.

Ao contrário do que sempre li e me disseram, não notei nenhuma mudança no corpo. Os cabelos brancos também não deram as caras. Exceção para a pele, que, a despeito das quantidades industriais de cremes que utilizo, teima em ficar cada vez mais fininha e enrugada, aumentando rapidamente minha coleção, já de respeito, de pés de galinha.

De resto, continuo cheia de dúvidas sobre todos os temas possíveis.
Continuo ignorante na maioria esmagadora dos assuntos pelos quais me interesso.
Continuo uma deslumbrada incorrigível.
Continuo chorando por qualquer motivo.
Continuo curiosa como se tivesse oito anos de idade.
Continuo construindo uma lista gigante de lugares para conhecer e coisas para experimentar.
Continuo com minha vida financeira não muito bem resolvida.
Continuo fazendo planos suficientes para preencher as próximas cinco encarnações.
Continuo querendo me matricular em todo curso que aparece.
Continuo desejando que o dia tenha trinta e cinco horas.
Continuo matando plantinhas de sede ou por afogamento.
Continuo devorando um livro por semana.
Continuo péssima de briga.
Continuo precisando dormir nove horas por dia.
Continuo usando as palavras de maneira errada e magoando as pessoas.
Continuo adorando dançar.
Continuo precisando das mãos para falar.
Continuo amando loucamente os animais.
Continuo incoerentemente comendo carne.
Continuo falando o que não devo nas horas mais impróprias e me arrependendo depois.
Continuo querendo desenhar e colorir todas as paredes que encontro.
Continuo tropeçando na calçada por me distrair com a paisagem.
Continuo sendo a pessoa mais feliz do mundo cada vez que viajo para um lugar novo.
Continuo venerando alcachofra.
Continuo detestando pimentão.
Continuo separando as roupas por cores.
Continuo exatamente como sempre fui.

Não sei se estou fazendo jus a tudo que a vida me deu, todo amor que recebi e as pessoas maravilhosas que tive a sorte de conhecer e conviver; o fato é que estou me divertindo muito e aproveitando o máximo que posso.

Mas não acho que já tenha moral para dar conselhos a ninguém, muito menos lições de vida. Ao contrário do que imaginei, ainda falta muito, mas muito mesmo para escrever textão cheio de sabedoria. Na boa, não me sinto mais madura, sábia ou velha do que aos 30 ou 40 anos.

Sinto muito, vou ficar devendo essa. Procurem-me novamente daqui a 50 anos. Aí, talvez, quem sabe…

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2 Responses

  1. Essencial Prazer
    Responder
    19 novembro 2016 at 1:19 am

    Um pukimn longe ainda,,rssss

  2. Marco Reis
    Responder
    8 maio 2018 at 2:23 pm

    Estou entrando nos 40 e, fora a pele que fica ruim mesmo, não vi nenhuma diferença. Eu esperava ao menos mais seriedade, mas continuo assistindo Chaves e gargalhando para desespero da minha esposa, porque parece que tem mais 100 novos episódios no Multishow…
    Meu estado mental é exatamente o contrário do que fomos condicionados a pensar, de que no meio da vida a gente vai ficando mais sisudo ou qualquer coisa que o valha.

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