Todo mundo erra, mas alguns se orgulham disso

Fotografia: Dean Freeman

Tem pessoas que são assim: você pode xingar a mãe, chamar o filho de coisas inomináveis, discutir polêmicas políticas, falar mal do time do coração e até questionar sua sanidade mental; em quase todas as situações elas conseguem manter uma relativa civilidade. Mas experimente corrigir seu português.

Nunca entendi por que tem gente que fica tão mortalmente mordida com isso.

Geralmente o ofendido ou a ofendida reclama que estava tratando de um assunto importante e quem corrigiu só olhou para o erro; mas é por isso mesmo, minha gente! Se o assunto é importante, não merece ser perturbado por um ruído bobo como um erro de português. Para mim, é como avisar que o zíper está aberto ou tem feijão no dente. Melhor corrigir rápido e não se fala mais nisso. Tão simples!

Mas não. As redes sociais estão cheias de amizades desfeitas por conta de alguém que, incomodado com a vergonha alheia, quis acabar com o espetáculo e se deu mal. Os corrigidos ficam furiosos, a reações são desproporcionais. Alguém devia fazer um estudo psicológico a respeito.

Há quem considere uma questão de honra e questione a validade da regra (?), dizendo que se a gente procurar no Google, vai achar a palavra escrita dessa maneira também (como se o buscador fosse uma gramática; por falar nisso, procure “voçê” e assuste-se com as ocorrências). Há quem declare solenemente que não liga para as regras e adora quebrá-las, com um ar blasé que mal consegue dissimular o ódio profundo pela intromissão.

Já vi pessoas martelando o bordão de que o conteúdo é mais importante que a forma; sou da opinião que a forma inadequada pode prejudicar a compreensão (e até a credibilidade) do conteúdo.

Sinceramente, não consigo entender qual é o problema numa questão, para mim, tão simples. O que há de tão sensacional num erro de português? Nossa língua é sabidamente difícil, cheia de regras e exceções. Quando eu era pequena, era comum a gente discutir sobre palavras exóticas, suas origens e significados na hora do almoço; por isso, na cozinha sempre tinha um dicionário.

O que me deixa encafifada é que as pessoas não têm vergonha de errar; elas têm vergonha é de ser corrigidas! Como lidar?

Adoro quando corrigem meu português (mentira, preferia não ter errado, mas acho pior manter o engano), pois quando alguém me dá um toque significa que vou parar de pagar mico em público porque sim, todo mundo percebe, mas finge que não viu nada com medo de apanhar. Acho melhor ainda quando, em vez de um simples erro de digitação, o caso é daqueles que você tem que ir até uma gramática para ter certeza. Já participei de debates bem interessantes sobre algumas situações onde aprendi muito mais do que apenas a correção do erro em questão.

Já fui corrigida (mais de uma vez) publicamente no meio de uma palestra, então posso dizer de cadeira: não dói nada admitir a incorreção e agradecer o auxílio luxuoso. Dá até para fazer graça com o ocorrido, sem dramas. Na verdade, até incentivo esse tipo de interação; muito melhor do que ninguém prestar atenção no que você fala porque está fofocando com o colega ao lado sobre a mancada que o palestrante fez.

Se o texto é só uma bobagem, não dá para ficar corrigindo tudo (senão sua rede social vai virar uma rede solitária). Mas quando o ruído perturba muito, tento fazer o que gostaria que fizessem comigo: aviso o redator. Na verdade, fazia. Depois de levar muita pedrada, fiquei mais comedida. Se o negócio me incomodar demais, simplesmente ignoro, paro de ler e sigo a vida.

Hoje em dia só corrijo quem eu sei que não vai levar a mal; na verdade, só ouso corrigir pessoas de quem gosto muito e cujo trabalho respeito profundamente. Algumas discussões alongam-se e o desafio vira um ótimo entretenimento. Em algumas empresas onde trabalhei, apostávamos caixas de Bis para ver quem estava certo e todo mundo adorava.

Por isso não consigo entender: para que tanto drama?

Coincidência ou não, esse povo que gosta de ser corrigido é quem menos erra, quase não dá para se divertir…

13 Responses

  1. Dora
    Responder
    14 março 2013 at 8:34 am

    Não sou a louca da gramática, mas tem coisas que realmente incomodam. Na verdade me irrita um pouco até os “loucos da gramática” que não toleram absolutamente nenhum erro. Mas isso de lidar com o erro mexe mesmo com muita gente. E lidar com o recalque alheio é bastante complicado, em todos os sentidos. Mas concordo com você que é preciso selecionar que pessoas podemos conversar sobre erros ou não (isso é ridículo e é uma pena, mas enfim, é o que tem pra hoje).

    Quem corrige, pode fazer isso ‘na amizade’ ou mesmo para provocar uma discussão sadia. Mas dependendo, quem recebe a correção, entende isso como um “tom professoral” do outro e provavelmente (e infelizmente) jamais teve o privilégio (sim, é um privilégio) de ter memórias AFETIVAS de aprendizado como você. É uma pena.

    E às vezes, também, esse tom professoral-autoritário realmente existe, mas aí é algo a se observar. Particularmente não gosto disso, é algo que me desestimula. A discussão deixa de se tornar um aprendizado informal, pra se tornar uma aula chata, sem troca alguma, com alguém falando demais e outros ouvindo demais. Só depois de um tempo é que noto que o ‘corretor’ em questão está forçando a barra e a amizade…

    • ligiafascioni
      Responder
      14 março 2013 at 8:43 am

      Oi, Dora!
      Concordo plenamente com você. Mas penso que se o “corrigido” levar a coisa com mais leveza, o tal com “tom professoral-autoritário” vai perder o rebolado, se o objetivo era só se afirmar como superior. No final, todo mundo aprende e ser se diverte junto!
      Abraços e obrigada por contribuir com a discussão 🙂

      • Helio Mendes
        14 março 2013 at 10:32 am

        Olá Lígia.
        O correto é:
        No final, todo mundo aprende e SE diverte junto!

        Helio

      • ligiafascioni
        14 março 2013 at 10:40 am

        Boa, Helio!
        Obrigada!!! Vou corrigir já 🙂
        Abraços

  2. Helio Mendes
    Responder
    14 março 2013 at 11:17 am

    Olá Ligia!

    Obrigado pela a oportunidade de NOS divertirmos juntos!
    Adoro seu blog e aprendo com ele.

    Abraço.

    Helio Mendes

    • ligiafascioni
      Responder
      14 março 2013 at 11:23 am

      Às ordens, Helio!!!

      Isso é que é timing, o resto não é nada….ehehehehehe

      Abraços 🙂

  3. clotilde Fascioni
    Responder
    14 março 2013 at 2:35 pm

    Eu nunca me incomodei e não me incomoda pois assim continuarei aprendendo

  4. Marciane Faes
    Responder
    15 março 2013 at 7:33 am

    Tom professoral? Escrito nas estrelas: Mercúrio em Sagitário.

  5. Pri-k
    Responder
    15 março 2013 at 11:15 am

    Acho ótimo aprender as coisas do jeito certo, massss assim como você preferia não ter errado, claro. Acredito que um dos grandes problemas nessa história toda é a forma como algumas pessoas fazem a correção, conheço uma que quando corrige fica rindo de quem errou, quer ver então se for um erro besta, penso que é muito constrangedor. Ridículo!

    Lembra quando escrevi seu nome errado no rascunho de um artigo? :p

    Bjx sua Linda!

    • ligiafascioni
      Responder
      15 março 2013 at 1:39 pm

      Aahahahah… mas como vou lembrar que você escreveu meu nome errado, linda? Todo mundo escreve meu nome errado, já estou até acostumada….eheheheh
      Pois é, quando uma pessoa ri do meu erro, o único jeito é rir junto (aí fica constrangedor para a outra, não acha?). De qualquer forma, todo mundo aprende e se diverte e isso é que é o importante!
      Beijocas 🙂

      • Pri-k
        17 março 2013 at 7:58 am

        Porque foi você que me contou, ainda bem que antes da publicação. 🙂

  6. clotilde♥Fascioni
    Responder
    4 setembro 2013 at 2:25 pm

    Ainda ontem no programa “Sem Censura”, da Leda Nagle ainda se falou sobre esse tema porque uma das entrevistadas estava lançando um livro. Ela era tão confusa que a Leda não entendeu e alguém disse que era melhor ler o livro (?!) A Leda perguntou se falar errado era “cert” oualgo do gênero, ela disse que se num ambiente que todos falam errado, uma comunidade, por exemplo, “era normal” falar errado, e explicou tanto que ninguém entendeu e a Leda tocou o programa.

    • ligiafascioni
      Responder
      5 setembro 2013 at 6:26 am

      Falar errado é normal mesmo, mas isso não significa que a gente tenha que se contentar com isso, né? Mania que esse povo tem de nivelar por baixo….
      Beijocas <3

* All fields are required