Argumentum ad hominem

nickdewar

Sabe quando uma pessoa faz um comentário ou uma observação qualquer e, em vez de refutar o argumento, você critica a pessoa? Automaticamente o assunto tratado fica fora de questão, o foco passa a ser quem o está defendendo. Esse erro de raciocínio é tão antigo e comum que tem até um nome: argumentum ad hominem (expressão latina que significa “argumento contra o homem”).

Devia ser óbvio que a validade de um argumento independe de quem o defende, mas não é assim que costuma acontecer com quem não tem como contra-argumentar. Se não se pode contra os fatos, ataca-se as pessoas. Fácil, perigoso, geralmente injusto, mas corriqueiro. É arriscado porque quem muda o foco da discussão geralmente deixa clara a fragilidade de sua linha de raciocínio para os mais atentos, mas adeptos da prática nem sempre se dão conta disso. Aliás, somos todos adeptos da prática (atire o primeiro título de eleitor quem nunca duvidou do que o Paulo Maluf fala só porque era ele quem estava falando), mas alguns ad hominem mais que os outros. Desconfio até que existam viciados.

Esse papo todo é porque, às vezes, quando somos especialistas em algum assunto, acabamos tratando os clientes dessa maneira. O sujeito pede que você repense a solução que está apresentando porque ele não gostou e a tentação que nos acomete é ignorá-lo (o cliente não entende do assunto, é um tosco, não alcança a sua genialidade).

Será que a gente não está subestimando a inteligência alheia? É claro que pode ser um caso de ignorância e mau gosto, mas, depois de se dar conta de como a gente faz isso sem querer no dia-a-dia, talvez fosse mais interessante fazer um esforço e separar claramente as pessoas dos fatos. Ele não gostou? Por que será? Abstraindo o caráter, a cultura e a formação de quem está argumentando, quem sabe a gente pode descobrir que realmente o trabalho poderia melhorar, a solução ainda não está redondinha, que a idéia que ele deu até que pode render.

O que fica difícil de resolver é a crítica pessoal, que não acrescenta nada ao trabalho. Que tal se a gente fizer um esforço coletivo de praticar mais o argumentum e tentar evitar o ad hominem?

Lígia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br

6 Responses

  1. 14 março 2009 at 2:34 pm

    Oi, Lígia!
    Muito obrigado pelos comentários, acho que nossa visão de design “business oriented” tem bastante a ver. Desde que comecei a trabalhar com comunicação em Floripa acompanho suas colunas no Acontecendo Aqui, e continuo lendo agora aqui na Itália. Ótimo seu blog, não conhecia, já foi pro reader.
    Legal você citar a Livraria Cultura. Cansei de inventar desculpas pra ir a São Paulo só pra passar umas horas na livraria (da Paulista / Augusta). Fazia listinha dos livros que gostava mais e pedia na Amazon, por 1/3 do preço…pena que é assim.
    Boa a dica da Época, vou dar uma boa olhada.
    Abss!

  2. 15 março 2009 at 10:49 pm

    Oi Ligia!

    Sou estudante de Design Gráfico, e autor de alguns trabalhos de websites, gosto muito do seus posts… entro basntante no blog http://www.design.com.br e vejo alguns post seus lá, bom, criei meu blog no word press tb http://www.robsonmoulin.wordpress.com e lá coloquei um link para o seu site, conheci seus trabalhos pelo meu professor que um dia falou pra gente fazer um trabalho em cima de alguns textos seus sobre gestalt.

    Bom é isso!

    Abraço!

  3. Leonardo
    Responder
    19 março 2009 at 7:05 pm

    Oi Ligia,
    Primeiramente gostaria de falar que sou admirador dos seus textos e pode-se até dizer que eles me auxiliaram bastante na escolha profissional (estou 1º semestre de Design na UFBa).
    Mas, sobre o texto, é preciso sim analisar tudo que um possivel empregador venha falar do projeto. Porem, pondo essa visão num plano mais social acho arriscado não levar em consideração o caráter do seu interlocutor.
    Acho que a validade de um argumento muitas vezes está sim associada a postura moral da pessoa que o defende tendo em vista que este pode somente estar querendo gerar conflitos ou se valendo de uma postura hipócrita.

    • 19 março 2009 at 10:57 pm

      Oi, Leonardo!

      Puxa, que legal que você gosta dos meus textos!

      Sobre levar em consideração o caráter do interlocutor, concordo com você, até porque a gente faz isso automaticamente. O que eu quis propor é que, pelo menos por um instante, a gente se afaste um pouco e separe a pessoa do argumento para analisá-lo imparcialmente. Em algumas ocasiões (mesmo que raríssimas), até o Paulo Maluf fala a verdade… ehehehe… brincadeiras à parte, penso que a gente não perde nada em tentar isolar o argumento do cliente e pensar a respeito, principalmente analisando por que ele disse o que disse.

      Ás vezes, o cliente critica um projeto simplesmente porque não o entendeu (e as pistas para isso estão nos argumentos que ele usou). Se a gente parte do princípio que ele é hipócrita, mal intencionado ou apenas ignorante, pode perder uma informação importante.

      Não digo para levar a sério tudo o que qualquer um diz, penso que se deve procurar analisar e considerar o que foi dito e usar TAMBÉM essa informação para tomar a decisão final…

      Abraços e obrigada pela visita. Volte sempre!

      Lígia Fascioni | http://www.ligiafascioni.com.br

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