12 dicas sobre currículos

Apesar da minha empresa de consultoria não ter nenhum funcionário, essa semana recebi de novo mais um monte de currículos, alguns, inclusive, impressos. Mesmo que eu não possa ajudar, que é o que acontece na maioria das vezes, tento pelo menos dar um feedback sobre a impressão que tive e algumas dicas para melhorar a abordagem. Há quem leve a mal e há quem aprecie. Para não ter que escrever tudo de novo toda vez, vou fazer uma listinha de dicas que acredito que possam ajudar quem está procurando se posicionar no mercado.

1) Não distribua seu currículo como se fosse um panfleteiro de semáforo. Isso só desperdiça seu tempo, algumas vezes dinheiro e, sobretudo, queima seu filme. É incrível que essa técnica “espalha chumbo” seja usada inclusive por gente que diz que estudou (ou estuda) marketing. Se é assim que a pessoa aplica seus conhecimentos, mau sinal. É preciso ter foco; estude meticulosamente as empresas nas quais você gostaria de trabalhar antes de se oferecer; tente encontrar oportunidades para mostrar o que você poderia realizar. Em vez de sair espalhando seu currículo, é mais eficiente investir o tempo estudando o mercado e elaborando propostas onde o contratante consiga vislumbrar o valor que seu trabalho pode ter para a empresa dele.

2) Use sua rede de contatos, mas sem choramingos. Não peça para um amigo lhe conseguir qualquer coisa porque você está precisando muito. Isso denota pouco profissionalismo e falta de planejamento. Qual é o seu objetivo? Despertar pena e assim conseguir uma “boquinha”? Pois é exatamente isso que você vai ganhar (se tiver sorte): um empreguinho sem nenhuma perspectiva (além da fama de chato). Não peça favores; tenha em mente que você pode ser a solução para uma empresa que está precisando de suas atitudes, habilidades e conhecimentos. Então, o que você pode fazer é informar seus amigos que está disponível; você pode solicitar um contato com uma empresa que você tenha em mente (porque já estudou e viu boas possibilidades de oferecer valor a ela), caso algum amigo possa fazer a ponte. Você também pode fazer um resumo em um ou dois parágrafos no corpo do e-mail mesmo só para lembrar aos amigos as suas competências.

3) Não envie documentos anexados para quem não os pediu. Seu nome irá para a lista de spam e seu lindo currículo irá para o lixo. Primeiro consiga o contato, tenha certeza de quem vai recebê-lo tem interesse e só depois mande o documento anexado (se for o caso) ou impresso.

4) Se enviar o currículo anexo, não mande um documento Word. Por ser um formato aberto, pode ser alterado; além disso, toda a formatação que você caprichosamente elaborou pode se perder. Um arquivo Word pode conter vírus, motivo pelo qual a maior parte das pessoas apaga-o sem nem abri-lo. Para o envio de documentos fechados a Adobe desenvolveu o formato PDF. Se você não tem um software gerador desse formato, pode conseguir de graça aqui.

5) O currículo deve ter as informações organizadas e a hierarquia da informação deve ser clara. Vamos pensar: qual é a informação mais importante do documento? Seu nome, claro. Então, por que é que um monte de gente coloca a palavra “currículo” ou sua versão mais erudita “curriculum vitae” em letras garrafais, logo no início? Será que alguém corre o risco de confundir esse documento com um relatório, o primeiro capítulo de um romance histórico ou um convite social? Então, essas palavras são totalmente dispensáveis; coloque seu nome centralizado onde você colocaria “currículo” e use-o como título. Agora vamos para a segunda informação mais importante: como encontrar você. Coloque telefone, e-mail e, se quiser, site/blog e endereço. Dispense os documentos, ninguém vai usar o número da sua carteira de reservista como critério de avaliação, não se preocupe.

6) Currículo é um registro mutante por natureza (pelo menos os melhores são assim), então, não se esqueça de colocar o local e a data no final. E como é um documento, convém ser assinado, atestando que as informações são verdadeiras.

7) Peça para um amigo bom em português (ou inglês, se esse for o caso) revisar tudo direitinho. Na dúvida, você pode contratar um profissional (não sai caro, afinal, um bom currículo não deve ter mais de duas páginas).

8) Duas páginas? Exatamente. É aí que mora a sua capacidade de síntese. Currículo não é biografia. Se você estudou francês por 3 anos, mas mal sabe contar até 10, nem perca tempo colocando isso lá. O que conta são seus conhecimentos (de verdade) e habilidades. Sua atitude será avaliada na entrevista (e na apresentação do documento também). Então, capriche e não enrole.

9) É muito constrangedor ler um documento onde a pessoa fica se auto-elogiando. Não diga que é proativo, isso é uma coisa que não se diz; se mostra. O mesmo vale para “sabe trabalhar em equipe“; isso as psicólogas é que irão dizer. Já vi até gente afirmando enfaticamente que é humilde, pode? Então, atenha-se aos fatos: o que você aprendeu e o que você fez com o que aprendeu. É isso que tem valor para quem vai contratá-lo.

10) A não ser que você esteja buscando uma vaga de modelo, não coloque fotografia no seu currículo. Na verdade, a opção “com foto” não existe, pois mesmo para quem quer ser modelo, fotos 3×4 não ajudam muito. Seu currículo deve ser interessante o bastante para que sua contratação não dependa da sua fotogenia. NOTA: Na Europa, para minha surpresa, eles pedem foto no currículo sim. Aí tem que ser aquela foto de passaporte, bem formal.

11) Dá para fazer um currículo ilustrado ou montado de um jeito diferente; e essa é uma boa oportunidade de designers, publicitários e ilustradores mostrarem seu talento. Mas atenção: a execução deve ser perfeita e compatível com a vaga desejada (e com o perfil da empresa que irá contratá-lo, detalhe importantíssimo). Nada a ver um contador apresentar seu currículo em formato de origami, concorda?

12) Pare de olhar para o seu umbigo e pensar no que você precisa, no quanto quer ganhar, quando é que são as férias. Pense em quanto essa experiência vai lhe acrescentar profissionalmente, o quanto vai lhe abrir portas, o que seu cliente vai ganhar contratando você. O que você pode oferecer de valor, de diferença? Se tivesse mais gente com essa visão no mercado, garanto que não haveria tanta chuva de currículos por aí…

Então, é isso. No momento não estamos contratando, mas desejo boa sorte e muito sucesso a todos os profissionais de valor!

Ligia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br

6 Responses

  1. 6 abril 2010 at 8:45 am

    Mas que ótima essa idéia de fazer as “12 dicas sobre currículos”! Vou guardar e distribuir para alunos nos meus cursos e onde mais achar oportuno! Gostei muito, valeu Lígia:)
    Beijo,
    Renata

  2. Diego Alves
    Responder
    15 junho 2011 at 9:27 pm

    Muito bom este artigo! Será muito útil para a criação do meu currículo. Mas tenho uma dúvida, existe alguma norma ou nomenclatura padrão para um currículo ? E quanto a ordem ? Essas são minhas principais dúvidas, gostaria muito que me ajudasse.

    Grande abraço!

    • ligiafascioni
      Responder
      15 junho 2011 at 10:51 pm

      Oi, Diego!

      É o seguinte: seu currículo deve “vender” você. Precisa mostrar seu potencial, mas não pode gerar expectativas que você não consegue entregar depois.

      Para um designer, quase tão ou mais importante que o currículo é o portfólio (essencial, eu diria).

      Assim, o currículo em si pode ser bem simples, mas deve fornecer informações para a pessoa conhecer melhor seu trabalho. Nesse caso, um site, blog ou coisa do gênero é uma ferramenta indispensável.

      Quanto à palavra, você não precisa escrever “currículo”, pois o documento é óbvio, não pode ser outra coisa. Como designer, você sabe que existe uma coisa chamada hierarquia da informação (muito estudado no design da informação).

      Então, procure organizar as informações da mais importante para a menos importante, sempre mostrando a hierarquia por meio de alinhamentos e tipografia.

      Meu livro “Atitude profissional: dicas para quem está começando” dá todas as dicas para organizar as informações com um exemplo.

      Outra coisa que você não deve se esquecer é ter um bom cartão de visitas e uma identidade visual coerente com o que se espera de alguém que entenda de design.

      Espero ter ajudado um pouco e desculpe não ter respondido antes.

      Boa sorte e muito sucesso!!!

  3. Jardel
    Responder
    10 junho 2014 at 5:12 pm

    Gostei muito do artigo, me enxerguei no texto, a partir disso irei reavaliar minha busca.
    Obrigado pelo tapa na cara!
    Abraço

    • ligiafascioni
      Responder
      18 junho 2014 at 3:49 pm

      Que bom que você não ficou chateado de ser estapeado….rsrsrs
      Abraços e sucesso!

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