A medida do mundo

Die-Vermessung-der-Welt-fotoshowImage-d7810974-46773Finalmente consegui terminar “Die vermessung der Welt“, de Daniel Kehlmann, presente da queridíssima Elisabete Köninger. Apesar de difícil de decifrar (cada vez mais me convenço que vou ter que passar um tempo me conformando em ler Dan Brown e congêneres até ficar mais fluente na leitura), gostei bastante.

Aliás, não tinha como não amar, pois os dois protagonistas são ninguém menos que o grande explorador Alexander von Humboldt e o gênio matemático Carl Friedrich Gauss. Sobre Gauss eu até sabia alguma coisa (usei muito as equações dele no curso de engenharia), mas o Alexander só conhecia de ouvir falar.

Alexander e seu irmão, Wilhelm, eram filhos de um rico comerciante na época em que a Alemanha ainda não era um país e as regiões eram todas divididas, apesar do idioma comum. Os meninos foram criados com a missão de fazer diferença no mundo em que viviam. O pai não mediu esforços para dar a eles acesso a toda a informação que estava disponível na época; os rapazes estudavam 8 horas por dia ininterruptamente, todos os dias, sem descanso (os prussianos eram famosos pela disciplina).

Quando o pai morreu, quem assumiu o planejamento da educação dos meninos foi ninguém menos que Goethe, amigo da família. Ele decidiu que o irmão mais velho, Wilhelm, iria aprender línguas e estudar filosofia e literatura. Já o irmão mais novo iria se concentrar em ciências. Claro que os dois tinham conhecimentos profundos de linguística, matemática, física, música, história, artes e todos os conhecimentos “básicos” que um bem-nascido deveria ter.

Alexander ficou famoso porque tinha verdadeira compulsão por aprender, mas, ao contrário de seu irmão, afundado atrás dos livros de sua gigante biblioteca, ele queria ver tudo ao vivo, medir distâncias, estudar os astros, as plantas e os animais, tudo in loco. Sua primeira grande expedição, financiada pelo governo prussiano (depois ele acabou se tornando diplomata do país, já que gostava tanto de viajar e interagir com os nativos) foi uma viagem embrenhado na mata virgem da Amazônia venezuelana para descobrir uma das origens do Rio Amazonas, a nascente do rio Orinoco.

O sujeito era um monstro incansável; nunca parava de trabalhar e não estava nem aí para as intempéries; recolhia plantas, insetos, pequenos animais e tudo o que pudesse estudar. Ele é considerado um dos pais da meteorologia, pois estudou também as correntes de ar e marítimas (existe uma grande corrente no Oceano Pacífico chamada corrente de Humboldt porque foi ele quem a descobriu). Fez várias viagens exploratórias para a África e a Rússia. Se a gente considerar as condições precárias de higiene, saúde e transporte da época (muito bem descritas no livro), dá para imaginar o tamanho do feito do sujeito.

Uma das universidades mais respeitadas da Alemanha é justamente a que leva seu nome. Quem a fundou foi seu irmão Wilhelm, que resolveu homenagear Alexander pelos seus feitos e conquistas.

Alexander era um blogueiro nato; vivesse ele hoje em dia, postaria todo dia e seria ativíssimo em todas as redes socias. Estivesse ele no fim do mundo, no meio de índios ou numa barquinho no meio da selva, nunca ia dormir sem fazer o relatório completo do dia (escrevia com pena e nanquim, imagine). Recolhia as amostras e mandava tudo para o irmão (os correios ainda não perdiam e nem estragavam as caixas nessa época). Mais tarde, esse acervo precioso se transformou em livros de referência importantes em várias áreas do conhecimento.

Já Gauss era filho de um jardineiro com uma dona de casa e estudava em uma escola básica na cidadezinha de Braunschweig (Baixa Saxônia) quando chamou atenção do professor de matemática da escola. O mestre ficou tão impressionado com o assombroso raciocínio lógico do menino que pediu ajuda ao duque da região para mandá-lo para a universidade (ele só tinha 14 anos). Gauss tinha uma vida miserável, sempre com dores nas costas e problemas de estômago, mas acabou sendo reconhecido como um dos maiores gênios matemáticos da história. Ao contrário de Humboldt, detestava viajar. Mesmo assim, medir o mundo era também uma das suas compulsões, o que acabou aproximando dois dos mais privilegiados cérebros da época.

O livro trata basicamente do encontro entre os dois (Humboldt insistiu para que Gauss participasse de um Seminário em Berlin), onde acabaram se tornando grandes amigos.

Gostei demais, apesar da dificuldade na leitura (nossa, levei um mês inteiro para dar cabo da obra) e recomendo muito. Ainda mais porque dei uma pesquisada e descobri que o livro já foi traduzido para o português e já fizeram até um filme.

Deleitem-se!

1 Response

  1. Marciane Faes
    Responder
    27 setembro 2013 at 9:50 am

    “Com a medida que medirdes, sereis medidos”.(Lucas 6,38)
    Esses ‘meninos’ entenderam que o assunto demandava dedicação!
    E buscaram uma ampla medida.
    Olha só a “medida de tempo” decorrido e eles aí acontecendo!!

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