Arquitetura do treinamento

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Sabe quando você ganha um presente que impacta a visão que você tem do seu trabalho e muda tudo daí pra frente? Melhor presente, não é? Pois ganhei um desses da empresa que me representa no Brasil, a DMT Consulting, por meio do seu braço especializado em cursos abertos, a DMT Inspira.

A mágica aconteceu num encontro presencial de dois dias inteiros sobre arquitetura do treinamento, facilitado pela querida e competentíssima Fernanda Godoy, cujo trabalho extraordinário ainda não conhecia. Tive que rever, criticar, desconstruir e reavaliar todos os cursos que ministrei até hoje (céus, como ainda tenho que comer feijão para fazer um trabalho memorável!).

Enquanto uma palestra serve para provocar reflexões, um treinamento existe para que um determinado grupo melhore sua performance por meio da repetição, fundamental para desenvolver uma habilidade específica. Por isso, é tão importante que um treinamento esteja fundamentado em apenas um conceito a ser trabalhado por vez. Eu disse UM.  E é necessário que essa performance possa ser medida e comparada depois. Ou seja, a avaliação de um curso não tem nada a ver com o fato dos participantes terem ou não ido com a cara do facilitador, se o coffee-break estava bom, se o ar-condicionado estava gelado ou se os conhecimentos de quem estava orientando os trabalhos estavam à altura do desafio. A questão a ser respondida é: funcionou? Será que objetivamente a performance das pessoas naquela medida que se propunha de fato aumentou? Quanto? Agora parece tão óbvio, mas em toda a minha vida de facilitadora, nunca recebi o resultado de uma avaliação que mensurasse isso.

É claro que já tinha lido algo a respeito da andragogia, da construção do conhecimento pelos participantes. Até já tinha trabalhado alguma ideias, mas ainda era cética de que seria possível aplicar em qualquer área do conhecimento (não esqueçamos que sou engenheira e, no meu entendimento, é preciso que o professor ensine de um jeito bem mastigado como resolver uma integral tripla; levaria 2368 encarnações para descobrir sozinha ou em um grupo na sala de aula). A questão é que, como ainda não tinha tido contato com métodos ou instrumentos específicos, queria fazer uma transição usando modelos mentais antigos. Ainda não sei se isso se aplica no ensino de cálculo avançado, mas pude rever muita coisa no meu próprio trabalho, agora que tenho mais ferramentas.

A premissa mais importante é que adultos têm experiências anteriores que devem ser valorizadas. Além disso, é necessário associar prazer no processo. Já li essas frases mil vezes, mas sem instrumentos, elas não servem para quase nada. Eram só frases bonitas que não se conectavam com minha experiência, exceto em casos muito específicos. Por isso o curso fez tanta diferença na minha vida.

Outra coisa importante que passa batida: para preparar um treinamento, é imprescindível que se saiba em que nível de consciência da incompetência o público está (não sabe que não sabe; sabe que não sabe; sabe que sabe; não sabe que sabe). Geralmente a gente não tem essa informação.

A Fernanda salientou para o fato de que o design instrucional (projetar instruções que cumpram seu objetivo de desenvolver determinada habilidade e que ao mesmo tempo sejam prazerosas) é muito trabalhado em cursos à distância, mas pouco explorados em atividades presenciais, pelo menos no Brasil.

Com os exercícios práticos, ficou bem claro sobre como costumamos pensar longe das necessidades reais. O RH da empresas define que os gerentes precisam desenvolver habilidades de liderança, por exemplo, mas de uma maneira muito vaga (as avaliações continuam focando no curso, não no resultado observado no dia-a-dia depois). Qual é o problema mais urgente agora? Cumprimento de prazos? Retenção de talentos? Aumento da visão estratégica? E para quê? Onde e como vai se medir se a performance melhorou nesses aspectos depois do curso realizado?

A definição de metas e objetivos claros são fundamentais para pensar toda a arquitetura do treinamento: desde o conceito central, desenvolvido como o núcleo de um mapa mental, até a definição da forma propriamente dita e seus respectivos instrumentos (pode ser que, no final, descubra-se que não é necessário um treinamento, mas uma campanha de comunicação ou um jogo, por exemplo, mais adequados ao desenvolvimento da habilidade em questão).

Espero que esse curso venha aumentar meu desempenho na criação e execução de treinamentos, principalmente agora que tenho mais ferramentas e que me dei conta de que estava no nível “eu sabia que não sabia, mas não tinha ideia que a ignorância era tão gigante!”…

Como diz a Fernanda, não é que o buraco seja mais embaixo; é que ele está em outro corpo…rs

Olha, foram dois dias inteiros de pancadas na cabeça (que, paradoxalmente, foram também deliciosas), de maneira que não dá para resumir todas as ideias num artigo escrito por uma leiga no assunto ainda em estado de choque.

O que posso dizer? Obrigada, DMT! Papai Noel não poderia ter me trazido um pacotinho mais bacana que esse!

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