Gente normal

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Normal People, de Sally Rooney, ganhou vários prêmios e até virou série na BBC; então, quando vi um exemplar para vender num marcado de pulgas, não tive dúvida. 

Inclusive confesso que comecei a lê-lo há uns dois anos e larguei nas primeiras páginas porque pensei: “Ah, não, romance adolescente… tô fora!”. Mas há algumas semanas resolvi dar outra chance a ele e, olha, não me arrependo.

A autora é uma mestra em descrever relações sentimentais complicadas (acho essa tarefa uma das mais difíceis na escrita — traduzir sentimentos).

A história começa com Connell indo pegar sua mãe Lorraine, que é diarista, na enorme casa onde mora Marianne e sua família. Eles são adolescentes moram numa pequena cidade no interior da Irlanda e estudam na mesma escola.

A família de Marianne é totalmente disfuncional; a mãe narcisista mora com a menina e o irmão abusivo, Alan. Marianne tem muitos problemas de autoestima e não tem amigos na escola, onde todo mundo a vê como esquisita.

Já Connell mora com a mãe, que engravidou muito cedo e nunca quis dizer o nome do pai. Ela é jovem (pouco mais de 30 anos), equilibrada, amorosa e ama demais o filho. Ela também gosta muito de Marianne.

Os dois têm uma atração irresistível, mas Connell, apesar de alto, forte e muito bem quisto na escola, quer muito ser aceito pelos colegas e se preocupa demais com o que pensam dele.

Marianne assume a esquisitisse e age como se não se importasse com isso. O resultado é que os dois começam a se encontrar escondidos para que ninguém na escola descubra (puro capricho de Connell) e, apesar de falhas enormes na comunicação, se entendem maravilhosamente bem. Até que Connell comete o absurdo de, num momento de extrema necessidade de autoafirmação, resolve convidar uma garota aleatória para o baile final da escola.

Marianne se isola em casa, humilhada, e os dois só se encontram novamente na universidade (Trinity, em Dublin, que tive o prazer de conhecer no ano passado); durante o tempo em que estavam juntos, combinaram de estudar lá.

Aí o jogo vira: Connell tem dificuldade de se entrosar com os colegas esnobes e Marianne se torna muito popular. 

O resto da história é um vai e vem, onde eles ficam juntos, separam-se por algum mal entendido ou frases não ditas, voltam a namorar, separam-se e relacionam-se com outras pessoas, enfim.

Parece bobo falando assim, mas a conexão entre os dois é muito profunda. O outro é a casa de cada um, é o porto seguro, é onde eles podem ser quem são de verdade, sem disfarces. Mesmo assim, por inseguranças, imaturidade e medo, seguem se desencontrando.

Eu realmente não vou conseguir traduzir a história aqui, mas posso dizer que é uma história de amor das mais lindas que já li. É cheia de dor, mas também de prazer, de aprendizados, de autoconhecimento e de reconhecimento também.

Vale muito a pena o mergulho e a fama não foi de graça. Não faço ideia se a série ficou à altura do livro, mas a boa notícia é que tem tradução em português. Para comprar na Amazon do Brasil, é só clicar aqui.

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