Mefisto adoraria saber

Agora me dei conta de que não contei uma curiosidade interessante sobre Leipzig. É que um dos moradores mais ilustres da cidade foi ninguém menos que o maior nome da literatura alemã, o célebre Johann Wolfgang von Goethe. Goethe morou na cidade entre 1765 e 1768, quando estudava direito.

Pelo visto, o célebre morador (que naquele tempo era um anônimo) passava muito tempo numa taberna subterrânea em uma rua do centro da cidade, tanto que a usou como cenário de seu poema épico mais famoso, Dr. Fausto. Nota: taberna era o boteco de antigamente.

Na verdade, Dr. Fausto é uma antiga lenda alemã muito usada como base alegórica de romances; mas foi Goethe que a tornou conhecida no mundo todo. O tal Dr. Fausto é um professor atormentado em busca do conhecimento; ambicioso, ele se dá conta de que não vai conseguir aprender tudo o que sonha. Eis que surge em cena o diabo, ou, nessa versão, Mefistófeles (Mefisto para os íntimos).

Dr. Fausto e Mefisto encontram-se na tal taberna e fazem um acordo. Fausto terá todo o conhecimento que quiser em troca de sua alma quando morrer. Bom, Goethe levou 60 anos para escrever a história, toda em versos caprichadíssimos, então já dá para ter uma ideia do tanto de reviravoltas que acontencem, e, é claro, do arrependimento de Fausto quando ele se dá conta de que nunca poderia saber tudo. Além disso, saber por saber sem nenhum objetivo já não o satisfazia mais e ele achava que a única solução era a morte (que ele não tinha mais, já que tinha vendido sua alma). Tentou negociar, mas Mefisto não quis nem saber: negócio é negócio.

Bom, nem preciso falar que o personagem morre no final todo atormentado e arrependido. Mas essa história comprida é para dizer que a tal taberna escondida que inspirou Goethe e aparece no romance como cenário da negociação entre o Dr. Fausto e o Mefisto existe até hoje lá em Leipzig.

Só que a cidade cresceu, o lugar histórico ficou famoso, transformou-se num restaurante frequentadíssimo por turistas e a rua onde ele se encontra foi coberta e virou um shopping.

Tem final mais perfeito para quem vendeu a alma ao diabo?

Escada que leva à antiga taberna subterrânea (agora com a escultura do Dr. Fausto e do Mefisto na porta)
A rua foi coberta e virou shopping
E a antiga taverna virou restaurante para turista

2 Responses

  1. Marciane Faes
    Responder
    16 outubro 2011 at 2:51 pm

    Lígia
    Um alemão puxa outro: Rüdiger Dahlke, em seu “A doença como símbolo”, diz que o CDF ambicioso tem os óculos característicos de míope. Diríamos que Fausto com tal postura também teria tal problema de visão?!

    • ligiafascioni
      Responder
      16 outubro 2011 at 2:58 pm

      Oi, Marciane!
      Será que essa imagem de CDF com óculos de míope não seria um estereótipo? Já conheci tantos míopes “fraquinhos” e tantos gênios ambiciosos que nem óculos usavam… (hoje em dia tem cirurgia…ehehehe).
      Sei não 🙂

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