O acidente com o teletransporte

Como não levar para casa “The teleportation accident”, de Ned Beauman, por apenas € 2,50, minha gente? Uma capa linda e um tema que não consigo resistir.

Pois ele estava esperando por mim num dos meus sebos preferidos na cidade, que pertence à organização não governamental OXFAM. As várias lojas espalhadas por Berlim geralmente vendem roupas, sapatos, louças, acessórios e objetos diversos. Mas essa, em Schöneberg, é especializada em livros. Maravilhosa!

Eu nunca tinha ouvido falar nesse autor britânico, mas uma rápida pesquisada mostra que ele já ganhou vários prêmios. Olha, bem merecidos!

A história, maluca, cheia de reviravoltas, mistérios, plot twists e partes engraçadas, é um primor de criatividade.

O protagonista, Egon Loeser, é o sujeito mais sem noção da história. Totalmente autocentrado, egoísta, alienado e não especialmente carismático, o moço vive em Berlim nos anos 1930. Os pais morreram num acidente de carro (Egon não entra em um, exceto em casos extremamente necessários, mesmo assim nunca no banco da frente), mas ele não parece ter muitos problemas com dinheiro, apesar de não ser rico.

Como cenógrafo de teatro, faz parte do seleto grupo de intelectuais e artistas, mas é totalmente desinteressado por política, num nível em que ele simplesmente ignora o nazismo e toda a obra de Hitler. Egon simplesmente não quer saber; não lê jornais e corta o papo quando o assunto é esse. A cabeça dele só funciona a partir de um tema principal: como conseguir fazer sexo com mulheres. 

As alemãs da época não têm problemas com isso; a questão é que Egon é chato, desinteressante, sem nenhum traquejo social, não especialmente atraente e ninguém gosta muito dele. Loeser termina com a namorada no início da história por um motivo fútil e imediatamente se apaixona, numa festa, por Adele Hitler (que não tem parentesco nenhum com o bigodinho). Na verdade, ele tinha sido tutor dela quando a moça era criança, mas agora, crescida, ele a redescobriu.

Quando sabe que a Adele deixou a cidade e foi para Paris, ele, não tendo nada melhor para fazer da vida, já que a peça de teatro na qual está trabalhando foi suspensa por tempo indeterminado, vai atrás, mesmo sem nenhuma pista.

Egon passa alguns meses lá, conhece um baita picareta com o qual se associa em algumas aventuras e acaba descobrindo que Adele emigrou para os EUA e está em Los Angeles. Lá vai o stalker atrás da moça.

A espinha dorsal da aventura é uma máquina de teletransporte cenográfica de uma peça de teatro de 1679, construída pelo artista italiano Adriano Lavicini. Houve um acidente horrível na noite de estreia que chegou a destruir o teatro em Paris quando a máquina entrou em operação. Morreram pessoas e há muita especulação sobre o que realmente pode ter acontecido; se a máquina realmente era cenográfica ou se chegou a funcionar de verdade.

Loeser trabalhava para reconstruir a máquina para o cenário de uma peça sobre Lavicini, porém num estilo mais minimalista (estamos falando da terra da Bauhaus, né?), mas, por causa da ascensão do nazismo e a situação tensa da Alemanha, teve que abandonar o projeto.

Em Paris ele consegue mais algumas informações sobre Lavicini, mas sua prioridade é encontrar seu objeto de desejo, Adele.

Em Los Angeles ele conhece muitas pessoas e acaba descobrindo o paradeiro da moça; ela é assistente de laboratório de um cientista do CalTech que está trabalhando num projeto secreto e, adivinhe: é uma máquina de teletransporte, porém, dessa vez, não apenas cenográfica.

Olha, tem espionagem, fofoca, suspense, assassinatos e muito mais elementos nessa história mirabolante. Vale demais a aventura!

Pena que não tem em português, mas há uma versão em espanhol, para quem quiser se arriscar (veja nesse link). Uma pena mesmo; vou acompanhar os outros trabalhos desse moço. Bom demais!

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