Para que serve uma palestra?

A imagem mostra a foto de um grafite feito pelo artista Finnbarr Dac, que mostra uma mulher com uma palma da mão de encontro à outra, em posição medidativa. Ela usa penteado e maquiagem bem exóticos, mas belíssimos.
Fotografia de Ligia Fascioni sobre a obra de Finbarr Dac.

Dia desses, ao saber que viajo frequentemente ao Brasil para ministrar cursos e palestras para empresas, uma pessoa me perguntou: ok, cursos eu entendo que as empresas contratem, elas precisam dar treinamento para seus colaboradores desenvolverem novas habilidades. Mas por que alguém pagaria por uma palestra?

Boa pergunta, viu? E muita gente tem a mesma dúvida; então vou tentar responder o melhor que puder.

Bem, em linhas gerais, existem quatro tipos de palestras corporativas: as motivacionais, as biográficas, as de divulgação**  e as informativas*.

As motivacionais são aquelas onde o palestrante transforma o senso comum em show. Elas servem para inspirar os colaboradores, fazer com que eles repensem seu dia-a-dia, mas não trazem informações novas; a base é o entretenimento. Nesse caso, vale tudo: teatro, música, performances, dinâmicas, piadas, desafios, cenários, etc.

As biográficas são histórias de vida contadas por alguém que teve uma experiência especialmente interessante. Geralmente são apresentadas por pessoas famosas, empresários bem-sucedidos, sobreviventes de catástrofes, aventureiros, pessoas com talentos especiais, atletas, jornalistas, artistas, escritores, enfim, expoentes em alguma área.

As de divulgação são, geralmente apresentadas por técnicos, representantes comerciais ou vendedores, com razoável capacidade de comunicação. Essas palestras apresentam uma determinada tecnologia, sempre com ênfase no produto que será apresentado e, por causa disso, em geral, são gratuitas. Nesses casos, é importante ficar atento à parcialidade do palestrante que, por razões óbvias, nunca falará sobre os pontos fracos do produto ou das vantagens de utilizar o material fornecido por concorrentes.

As informativas (onde me encaixo, pois não tenho talentos especiais nem sou famosa…rs) são palestras que compartilham algum tipo de conteúdo técnico, mas apresentado de maneira acessível e atraente aos leigos. São específicas para determinadas áreas e geralmente ministradas por professores ou profissionais reconhecidos. A ideia é contextualizar o assunto e provocar na audiência curiosidade para saber mais e buscar aprofundamento. Por isso, nesse tipo de palestra, quase sempre são fornecidas referências adicionais (livros, vídeos, textos) que as pessoas podem procurar depois.

Essa classificação não é estanque e pode se misturar, mas penso que em linhas gerais, é isso. As palestras motivacionais e biográficas são as mais valorizadas em termos financeiros; talvez as pessoas gostem mais de shows e de saber detalhes da vida alheia… brincadeira! Penso que o verdadeiro motivo é porque o primeiro tipo exige um enorme talento artístico para transformar eventos banais do dia-a-dia em grandes espetáculos transformadores; tem que ser muito bom mesmo. E gente famosa ou com vida extraordinária, além de rara, sempre é fonte de curiosidade. As de divulgação, como são geralmente gratuitas, atraem quem tem interesse em conhecer as vantagens de determinado produto ou serviço.

Mas vamos falar um pouco mais sobre o valor das palestras informativas. A pergunta era: para que elas servem mesmo?

Minha resposta taxativa: para economizar o tempo e o dinheiro das empresas e dos participantes.

Vamos pensar: para apresentar o assunto tratado, o palestrante terá que ter feito muitos cursos sobre o assunto, comprado/lido/estudado dezenas de livros e trabalhado bastante sobre as ideias de vários autores até concluir alguns pontos que tornem esse conhecimento útil para ser aplicado na vida real. O próximo passo é arquitetar uma maneira de apresentar os fundamentos e as conclusões de maneira clara, didática, rápida e, principalmente, atraente; tudo isso em algumas dezenas de minutos (palestras costumam ter, no máximo, 90 minutos). Quanto mais curta a palestra, mais difícil é estruturá-la, mais trabalho dá.

Imagine se cada participante tivesse que fazer todos os cursos, ler todos os livros e conhecer todos os autores só para ter uma ideia geral sobre determinado tema que ele ainda nem sabe se se é ou não relevante para a empresa, se a ferramenta ou método apresentados são ou não adequados aos problemas da gestão atual, se a abordagem é ou não interessante, pertinente ou oportuna para a realidade de seu mercado. Complicado, demorado e caro, né?

Então, para saber se valeu a pena a empresa pagar por uma palestra, ela deve pensar quanto dinheiro foi economizado e quanto valor foi produzido no evento.

Mas, para evitar desperdícios e insatisfações generalizadas, é necessário que os organizadores cuidem de alguns aspectos; a negligência de um deles pode colocar tudo a perder.

— Certificar-se que o assunto interessa à plateia, que deve conseguir ver utilidade ou valor no tema.

— Verificar o nível de conhecimento dos participantes sobre o assunto para evitar que saiam sem nenhuma informação ou referência nova além das que já tinham; que pelo menos consigam ver a questão sob um ângulo que amplie sua visão.

— Informar-se sobre o palestrante; se domina o tema e se costuma apresentá-lo de maneira organizada e atraente, respeitando o tempo disponível.

— Cuidar para que a apresentação ajuste-se ao perfil e à linguagem do público.

— Preparar o ambiente para que ele favoreça a comunicação.

— Observar se o momento é adequado.

Por motivos óbvios, acredito fortemente que palestras são fontes de valor e podem trazer muitos benefícios para as empresas de uma maneira rápida e relativamente barata. Basta que a contratação seja adequada e observe os fatores acima.

De minha parte, adoro assistir palestras tanto quanto compartilhar as coisas que aprendo.

Para mim, um excelente investimento, especialmente em tempos de crise. E para você?

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NOTAS:

* Essa classificação eu acabei de inventar, pois pesquisei e não encontrei nada que ajudasse a explicar melhor o que estou tentando dizer.

** A palestra de divulgação foi inserida após a brilhante sugestão do escritor e palestrante Ênio Padilha; eu havia me esquecido completamente dessa categoria.

10 Responses

  1. 6 janeiro 2016 at 2:46 pm

    SENSACIONAL!!!
    Mais uma vez termino de ler um artigo de Lígia Fascioni com aquela sensação de “por que é que eu não pensei nisso antes?”
    Obrigado, querida amiga, por dizer de maneira tão clara coisas que, de outra forma, jamais sairiam de dentro da gente.

    • ligiafascioni
      Responder
      6 janeiro 2016 at 2:49 pm

      Hahahahah… é claro que sairiam! Eu só tive a ideia primeiro (ou melhor: as pessoas fazem as perguntas mais indiscretas para mim…rsrsrsrsrs).
      Abraços apertados e um 2016 inesquecível e cheio de palestras para você <3

  2. 6 janeiro 2016 at 3:47 pm

    Parabéns pelo artigo elucidativo Ligia. Argumentos concretos e verdadeiros para conseguir rentabilizar palestras, rs. Sucesso! E abraços!

  3. Alain Marcelo Santos
    Responder
    7 janeiro 2016 at 12:56 am

    Excelente explicação. Objetividade e concisão, principalmente o aspecto econômico relativo à jornada do palestrante para tratar do assunto numa organização. Muito obrigado pelo artigo. Sucesso em 2016!!!

  4. 22 janeiro 2016 at 2:15 am

    Parabens pelo artigo. Informativo e esclarecedor. As palestras tem um funcão inspiradora muito grande. Tanto as biograficas que contam a jornada do heroi quanto as motivacionais que expandem os horizontes. Parabens e obrigado pelo conteudo!

  5. Jacqueline Keller
    Responder
    13 dezembro 2016 at 10:32 am

    Adorei a classificação Ligia, como sempre uma luz em nossos caminhos. Bjão e obrigada sempre!

  6. Alberto Costa
    Responder
    14 dezembro 2016 at 11:51 am

    Esse post já está quase fazendo aniversário, Lígia, e eu acabei de tomar conhecimento dele – e por meio de quem? Do nosso amigo comum, o Ênio Padilha, que o citou numa palestra dele e, a meu pedido, enviou-me o link.

    Como sempre, excelente e útil – na hora de preparar uma palestra, é fundamental ter em mente os distintos objetivos (assim como na hora de vendê-las ou comprá-las).

    Obrigado.

  7. Paula Talmelli
    Responder
    15 dezembro 2016 at 10:18 pm

    Fantástica explicação!
    Sou palestrante e adorei saber onde me encaixo! Também sigo a linha das Palestras de Informação. Desevolvi um método para ajudar empreendedores a usarem o marketing digital para atrair cleintes e inspirar pessoas. É o Marketing com Propósito.
    Parabens!

  8. Samuel Timóteo Mapossa
    Responder
    16 março 2017 at 10:05 am

    O trabalho é muito objectivo, claro nos seus conteúdos, mais força na publicação deste género de artigos.

  9. Jean C.Barbosa
    Responder
    8 julho 2019 at 9:45 am

    Parabéns pelo artigo, estava procurando algo assim, bem explicado, e objetivo, consegui sanar minhas duvidas, obrigado.

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