Um holograma para o rei

Quando “A Hologram for the king”, de Dave Eggers caiu na minha mão em um mercado de pulgas, fiquei bem atraída pelo título e até imaginei que fosse uma obra de ficção científica. 

Aí me lembrei que tinha visto o nome do autor em algum lugar; claro, ele escreveu “O círculo”, que não gostei nem um pouco (se quiser ler a resenha, está aqui).

Mas realmente a capa me atraiu demais (sou dessas…rs), de maneira que resolvi dar mais uma chance a ele. Ainda mais porque esse romance era anterior ao que eu não gostei e ainda tinha uma chamada para o fato de que a história virou um filme protagonizado pelo Tom Hanks (Tom geralmente escolhe bem os roteiros).

Quer saber? Valeu demais! Nem parece que foi a mesma pessoa quem escreveu os dois livros. Impressionante a diferença.

Ao contrário do festival de clichês tecnológicos do “O Círculo”, o “Holograma” é bem mais introspectivo; uma surpresa muito boa.

Mas vamos à história.

Alan Clay é um executivo americano que tomou muitas decisões erradas na sua vida profissional. Homem de vendas, foi galgando posições até fazer parte do comitê gestor de uma marca de bicicletas famosa e tradicional nos Estados Unidos. No afã de reduzir custos e aumentar os lucros, ele participou ativamente da decisão de transferir a produção para a Ásia.

O pai dele não o perdoa por isso; empregos foram perdidos e nunca mais recuperados. Problemas de qualidade, logística e gestão acabaram por destruir a marca; a empresa acabou falindo após alguns anos. O interessante é que essa parte se baseia na história real da fábrica americana de bicicletas Schwinn, segundo a referência no final do livro.

Pois Alan agora tem 54 anos, é divorciado, está atolado em dívidas por conta de investimentos errados e apostas em startups; precisa arranjar dinheiro para pagar o próximo semestre da faculdade da filha de 20 anos, que ele ama mais que tudo. A vida dele é só trabalho; praticamente não tem mais vida social ou afetiva; nem sexo ele faz mais.

Tendo conseguido um cargo como executivo de vendas numa empresa de TI (tema que ele não domina), usa o fato de ter uma vez se encontrando com um filho de um rei na Arábia Saudita em um evento para convencer a empresa que vale a pena apresentar a tecnologia do holograma para o tal rei.

Ele e uma equipe de desenvolvedores (duas moças e um rapaz com quem ele não tem nenhum contato ou simpatia) vão até o país onde está sendo construída uma nova cidade, que almeja ser uma nova Dubai. O rei está velho e quer deixar um legado de desenvolvimento faraônico, como é bem a tradição ególatras. Então tudo está para ser feito ao custo de bilhões: as construturas, incorporadoras, fornecedoras de tudo quanto é produto ou serviço se acotovelam para ganhar um contrato.

Se ele conseguir fechar o fornecimento, vai ter dinheiro para pagar a faculdade da filha e vai ter um desafogo por um tempo (além da recuperação do status e do ego ferido).

Só que ao chegar, ele descobre que o que era para ser uma cidade só tem um prédio no canteiro de obras no meio do deserto; nesse prédio, cheio de funcionários terceirizados, ninguém sabe informar quando o rei vai estar presente para a demonstração da tecnologia.

Ele fica amigo de um rapaz que trabalha como motorista particular (mas estudou nos EUA) e de uma funcionária dinamarquesa do setor de recursos humanos; mas está sempre solitário e perdido.

As semanas passam e nada do rei aparecer. Dia após dia recebem informações desencontradas; a equipe, entediadíssima, está sempre pronta para a tal demonstração do holograma, mas ele nunca acontece. Alan está cada vez mais perdido e desorientado. 

Eis que o tão esperado dia finalmente chega.

Olha, o desfecho é muito criativo. Excelente. Vou dar mais chances ao Dave Eggers. Quero crer que aquele outro livro dele foi apenas um deslize.

Recomendo muito. 

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