Arte ou vandalismo?

Li no jornal, fiquei curiosa e hoje fui pessoalmente conferir.

O babado é a seguinte: em Berlin há pedaços do muro em vários pontos da cidade, deixados de propósito, para que as pessoas se lembrem por onde ele passava. Pois um desses lugares é a Potsdamer Platz, um lugar que ficou por muitos anos abandonado; era um grande descampado com um muro passando no meio.

Com a reunificação, a área nobre da cidade serviu de cenário para o nascimento de um complexo de escritórios e entretenimento, todo feito de cimento e vidro; uma beleza completamente diferente de todo o resto da cidade. É lá que está o Sony Center, onde rola o Berlinale: Festival Internacional de Cinema de Berlin (qualquer dia vou fazer um vídeo contando e mostrando tudo).

Pois é, então os turistas ficam fazendo caras e bocas com esse cenário histórico de fundo (para postar no Facebook depois..eheheh). Entre as fatias do muro tem paineis contando a história do lugar, com fotos de antes e depois — vale a pena dar uma olhada.

Vai daí que algum turista engraçadinho resolveu colar um chiclete mascado no muro. Outro viu, gostou e copiou. E assim é o ser humano: o troço virou moda e não duvido que alguém vá até a esquina comprar chiclete só para mascar e colar lá.

Olha, não vou dizer que o efeito ficou ruim; está uma instalação muito interessante e colorida, como vocês podem ver nas fotos que seguem. Mas a questão é que está interferindo num monumento histórico.

O que está em debate é: isso é vandalismo ou apenas a cidade interagindo com as pessoas? Se a gente considerar que parte do charme de Berlin é justamente porque a cidade é, pelos padrões formais, quase toda vandalizada (com grafites, lambe-lambes, cartazes, invasões de edifícios antigos, pixações em todo lugar), como tratar esse fenômeno?

Os chicletes devem ser retirados ou deixados lá, como parte da história de quem passou pelo pedaço? Em qualquer lugar do mundo a resposta seria mais fácil, mas Berlin é a cidade da arte de rua, dos cenários alternativos, da transgressão e da criatividade. Até porque o pedaço que sobrou está todo pixado (então ele já tinha sido vandalizado antes, enquanto funcionava como fronteira; vale como jurisprudência?).

Eu deixaria assim para ver o que acontece (afinal, o muro continua lá, todinho original, debaixo dos chicletes).

E você?

14 Responses

  1. 18 julho 2012 at 12:26 pm

    Legítimo? ‘Arte’? Intervenção? Liberdade?

    Não sei…

    Prefiro apenas dizer que é bem nojento!

  2. Celso Vicenzi
    Responder
    18 julho 2012 at 1:39 pm

    Prefiro a pixação ao chiclete. Tenho um pouco de receio que alguém escarre ou urine no muro e conclua que isto também é uma contribuição artística. Abraço, Celso.

  3. 18 julho 2012 at 1:46 pm

    Lígia. Obrigado por me avisar. É muito bom saber que este lugar existe… pra nunca passar nem perto!
    Que coisa mais nojenta! Deus me livre.
    Pode até ser uma intervenção artística, mas é de um mau gosto sem tamanho.

  4. Tálita Bitencourt
    Responder
    18 julho 2012 at 2:00 pm

    Estive em Berlin em março e quando passei por esse pedaço do muro, tirei o trident do bolso dei 3 mascadas e grudei no muro.
    Não pensei em vandalismo.
    Só pensei em grudar o meu chiclete mascado e nojento no muro mais estúpido que já fizeram.

    • ligiafascioni
      Responder
      18 julho 2012 at 2:26 pm

      Aahahahah…. essa foi boa, Tálita!!

  5. marcelo
    Responder
    18 julho 2012 at 3:38 pm

    Olá, Ligia!
    li o seu texto e quero comentar…
    Ainda não tive o prazer e a felicidade de conhecer Berlin. Mas pelo que vejo em suas fotografias, postadas no instagran diariamente, a cidade deve ser realmente muito esplendorosa.
    Não sou assim, digamos muito fã de chicletes… Já perdi várias roupas e algumas mechas de cabelo, quando criança. Porém tenho que admitir, essa intervenção ficou fabulosa, já pensou se vira moda?
    Talvez para outras cidades, não vá funcionar, ou melhor, ficaria horrível, mas como o ocorrido é em Berlin… Afinal, “Berlin é a cidade da arte de rua, dos cenários alternativos, da transgressão e da criatividade”, como você mesma disse, então, eu deixaria como está!
    Bjo,
    Querida

    • ligiafascioni
      Responder
      18 julho 2012 at 4:11 pm

      Oi, Marcelo!
      Pois é, também penso como você; Berlin é exceção…eheheh
      Abraços 🙂

  6. 18 julho 2012 at 7:09 pm

    Eu achei lindo, o importante é que ele seca o pais não é tropical e não há verão para amolecer e derreter a borracha. No mais acho criativo o resultado final.
    “Todo animal, racional ou não, deixa sua marca por onde passa”.

    • ligiafascioni
      Responder
      19 julho 2012 at 10:09 am

      Aahahah… então já vai trazendo o seu chiclete para quando vier, Clô!
      Beijos 🙂

  7. Fatima
    Responder
    18 julho 2012 at 9:47 pm

    Hummmmmmm…. li a reportagem. Li os comentários. Tudo está perfeito. Adorei saber que existe este lugar. Olhando assim a questão imagética ficou um colorido legalzinho. Mas sabe o que achei mesmo? Bizarro e nauseabundo. Tem um lado interessante: dá um estudo e uma tese ou no mínimo uma certeza que o mundo é cheio de marias que vão com as outras… ou seriam fridas ahahahahah. Se for frida prefiro a Khalo. Ah lembrei de algo: dá pra fazer uma pesquisa bucal-bacteriológica …
    Ainda bem que esta eca é longe daqui mas em Berlim vira arte, ciência ou este sentimento que a gente não sabe explicar, conforme aconteceu comigo. Fatima/Laguna/SC

  8. 19 julho 2012 at 1:57 pm

    É uma forma de intervenção urbana coletiva. De certa forma, as pessoas sentiram o desejo de se manifestar e, colocando um chiclete ali me soa algo como um desprezo, um repúdio o conceito do muro. Alguns gritaram e arrebentaram o muro com marretas; outros colam chicletes.

  9. 22 julho 2012 at 9:36 am

    Começou como vandalismo, mas agora virou um ponto turístico. Deveria deixar assim mesmo.

  10. Marta
    Responder
    23 julho 2012 at 6:00 pm

    Lígia, nem piCHação nem chiclete grudado. Ambos enfeiam o ambiente.

    • ligiafascioni
      Responder
      24 julho 2012 at 2:46 pm

      Acho que você não iria gostar de Berlin, Marta…eheheeh
      Beijocas 🙂

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