Fortuito, intensificar e preparativo

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Mais um contículo criado a partir de 3 palavras achadas aleatoriamente no dicionário.

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Celeste teve que sair correndo para alcançar Fortuito, seu lindo labrador dourado. Ela nunca conseguia dar conta da energia do peludão; todo dia, quando saíam para passear, Celeste era praticamente arrastada por ele. Foi errando como um vagão desgovernado que acabou abalroando o Argemiro, indivíduo mau-humorado e pouco dado a relacionamentos sociais. O azedume do Argemiro era mundialmente conhecido por causa das declarações carregadas de fel que distribuía generosamente em várias línguas em sua conta no twitter, alcunhada @f***.

– Desculpe, seu Argemiro! O Fortuito acabou me puxando pela cordinha e…

– Desculpe é o caju, D. Celeste! Se não tem competência para levar um reles abanador de rabo para vagabundear por aí, que não se estabeleça! Saia da minha frente, que hoje não acordei muito generoso.

Foi quando Fortuito resolveu intensificar o contato lambendo as canelas do Argemiro. O sujeito, cuja única experiência de sorrir era para expressar sarcasmo, começou a gargalhar descontroladamente.

– Ai…ahahaha….ai….tira essa língua molhada daqui, sua comunidade de pulgas banguelas! Aai…ahahaha… para com isso!

Fortuito achou bacana a brincadeira e se empolgou mais ainda. Argemiro, que nem se lembrava da última vez que tinha relaxado a mandíbula, desistiu de resistir e acabou sentado na calçada, totalmente entregue.

O resultado é que Celeste e Argemiro acabaram abrindo um lucrativo negócio de relaxar pessoas estressadas com a ajuda de lambidas de cachorros. Eles já têm 8 cães de várias raças, mas o mais sem-vergonha é um vira-lata diferenciado chamado Preparativo. O negócio está indo tão bem que o Gegê, como é agora conhecido, fechou sua antiga conta no twitter e abriu outra, a @lambidazen. Dizem que está tão mansinho que nem liga mais para a baba…

Batina, próclise e esclerosar

Mais um contículo que nasceu de 3 palavras achadas aleatoriamente no dicionário. Vamolá!

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Creusa olhou desanimada para o espelho. Estava gorda como uma baleia. O vestido até parecia a batina daquele frei redondinho que fazia o meio de campo entre Romeu e Julieta. Horror. Precisava desesperadamente fazer alguma coisa. Não adiantava pedir conselho para a Bartira; essa, então, quando usava cinto, parecia mais um colchão enroladinho amarrado com uma corda. Mas era sua melhor amiga e entendia bem seu drama; então, o jeito foi desabafar.

– Colega, precisamos fazer alguma coisa. A festa da Babete é na semana que vem e se continuar nesse shape, a gente não vai pegar ninguém. Cê tá sabendo de alguma dieta nova, por acaso?

– Claro, Crê, tô sempre por dentro das calorias das famosas. Agora tem a dieta da Próclise, última moda em Hollywood.

Papo cabeça

O nome Suzana Herculano não me era estranho, mas nunca tinha prestado muita atenção até ser completamente abduzida por uma reportagem da TPM (minha revista favorita). Lá fiquei sabendo que a moça formou-se em biologia aos 19 anos e foi estudar genética nos Estados Unidos, quando apaixonou-se por neurociência. Mergulhou literalmente de cabeça no negócio e já recebeu prêmios internacionais de respeito por sua pesquisa na área. Pensa que a nega é daquelas CDFs que nem sabem o que é batom? Pois saiba que é uma morena bem bonita, mãe de dois filhos, que também toca piano, violão, violoncelo e flauta transversal. Já fez musculação, corrida, sapateado e agora pratica pilates. Lê de tudo um pouco, vai ao cinema, adora viajar e escreve muito bem. Enfim, como não se apaixonar? Virou minha ídola instantaneamente.

Por quê?

Estava lendo Start with why, de Simon Sinek, e me dei conta de que a gente não dá muita bola para algumas coisas realmente importantes em marketing. Não que Simon tenha feito alguma descoberta extraordinária que o pessoal que estuda ciência cognitiva já não tenha estudado, mas ele descreve as coisas de uma maneira tão simples que faz todo o sentido.

Simon começa questionando se você sabe porque os clientes de sua empresa são clientes. E por que os funcionários são funcionários, parceiros são parceiros? Por que seu cônjuge continua com você? Por que seus amigos são seus amigos? Perguntas um pouco complicadas de responder, né? Afinal, a gente sabe muito pouco sobre o que move a conduta das pessoas e a interação entre elas.

Para tentar ajudar na busca de respostas para essas questões tão importantes, Sinek explica que o comportamento humano pode ser influenciado basicamente de duas maneiras: manipulação e inspiração.

Vida fumê

A minha implicância com o vidro fumê não vem de hoje – nunca gostei desse efeito. Essa forma plasmática em sua versão enfumaçada (você sabia que o vidro é um líquido de alta viscosidade?) tem o poder de descolorir o dia, fazer desmaiar as cores e até tornar o cenário um pouco ameaçador. A pergunta que não fica quieta é por que as pessoas escolhem ver o mundo desbotado de livre e espontânea vontade? E por que ainda topam pagar mais caro por isso?

Chega de CAPTCHAS!

Tá bom, você, como eu, não consegue mais ouvir sobre o tal foco no cliente. É um tal de “nossa empresa tem foco no cliente, viu? Nós acordamos, comemos, trabalhamos, dormimos e sonhamos pensando em como fazer nossos clientes felizes” que não é fácil. Claro que na parede, não falta nunca uma declaração de missão e visão, espremendo a palavrinha mágica “cliente” entre previsíveis e entendiantes gerúndios, combinando bem com a moldura de gosto duvidoso.

E se em vez de ficar nesse teatrinho de roteiro ruim, as empresas realmente pensassem no cliente, só de vez em quando, para variar? Não precisa ser nada muito difícil para começar.

O telescópio de Schopenhauer

Peguei o livro do irlandês Gerard Donovan na mão e me senti irremediavelmente atraída, mas dessa vez errei. Imaginava que fosse um romance falando sobre as descobertas da física com toques filosóficos, mas nada disso. A quarta capa trazia umas frases genéricas e avisava que a obra era finalista do Man Booker Prize, um prêmio muito prestigiado.