Diploma pra quê?

tumblr_kql2glz08b1qzhtfgo1_500Estava na semana passada ministrando aulas em um MBA quando um funcionário da instituição, bem desanimado, comentou que um primo dele tinha até doutorado e estava ganhando uma miséria fazendo bicos. Aguardava uma bolsa para estudar mais um pouco. Injustiça, né?

Mas será mesmo?

Sinceramente, acho que não. Pela descrição do perfil, parece que o rapaz é estudante profissional. Não há nada de mal nisso, mas que ninguém espere ganhar fortunas dependendo apenas de bolsas de estudo.

O problema é que algumas pessoas costumam levar ao pé da letra aquelas manchetes escandalosas publicadas nas capas de revistas de negócios dizendo que um curso de MBA pode aumentar seu salário em muitos porcento. Vejo gente fazendo as contas do investimento, computando a diferença entre a mensalidade e o incremento no contracheque que espera obter. O problema é que isso não acontece automaticamente, como muitas reportagens querem fazer crer; então, o que se vê por aí é uma legião de pós-graduados subempregados e reclamando da vida.

A questão é que, diferente do que possa parecer, o mercado não faz concursos nem paga mais para quem tem mais diplomas. O mercado remunera melhor quem consegue gerar mais valor, tendo ou não uma pilha de certificados. E é pior contratar uma pessoa sem noção, mas com diploma, pois essa pessoa não vai querer tirar xerox ou fazer serviços “menores”.

O diploma nada mais é do que um comprovante que você teve acesso a um conjunto específico de informações que lhe foram apresentadas de maneira estruturada e com orientação de outros profissionais, supostamente experientes e conhecedores da matéria. Você ganha esse pedaço de papel quando consegue provar para a instituição que o emitiu que conseguiu assimilar essas informações de maneira satisfatória. E só. Lá não tem nada dizendo que agora você é melhor que os outros, que ficou mais inteligente ou que merece um aumento. Pode procurar, garanto que não tem.

Então, como é que o diploma pode ter a ver com aumento de salário? As revistas estariam mentindo?

Não estão. É que, teoricamente, se você tem vários diplomas, teve acesso a vários conjuntos de informações específicas. Isso aumenta muito as suas chances de recombiná-las e criar algo que, de fato, tenha valor para o mercado. Que faça diferença na vida das pessoas. Que seja desejável a ponto de alguém poder pagar mais por isso. Quanto mais cursos, mais combustível e mais matéria prima para converter em excelência. Quem sabe aproveitar isso, ganha mais, claro.

Se, ao contrário, o sujeito pega o papel, emoldura ou então guarda na gaveta e esquece as tais informações, sem fazer nada de útil com isso, então, sinto informar, mas valeria mais a pena ter ficado em casa vendo novela. Seria mais barato e menos frustrante. Há alunos que estão claramente perdendo o seu tempo: pagando as prestações de um diploma que não servirá absolutamente para nada, uma vez que não estão interessados em gerar valor, mas em aumentar o salário.

Vejo um montão de gente por aí que apenas coleciona certificados; não aplica o que aprendeu (se é que aprendeu alguma coisa), não se interessa em fazer coisas novas e interessantes, não transforma o conhecimento em algo útil, e, pior, ainda sai por aí cheio de razão reclamando direitos.

Diploma, sem um profissional que o converta em valor que faça uso do que ele representa, é só um pedaço de papel. Igual àquele que embrulhava o pão antigamente, só que muito menos útil.

Lígia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br

18 Responses

  1. Elisa Pessoa Silva
    Responder
    27 setembro 2010 at 6:18 pm

    Olá Professora,
    Recordo-me desse comentário, aliás, me remeteu a uma fala de uma última excelente ex-gerente de marketing que tive associada a sua fala. “O conhecimento que preciso estão nos livros, não preciso de diplomas” e ela me ensinou muito, porém, concluindo com suas observações: “Quem faz o curso, pós ou MBA somos nós, eu explorei meu professores e mudei minha carreira”. A teoria está nos livros, mas a inteligência em nós!
    Abraços! (sua aluna!)

  2. 27 setembro 2010 at 7:25 pm

    Fantástico! Vou pegar emprestado para o BDG. 🙂

  3. 27 setembro 2010 at 7:51 pm

    Olá Ligia,
    Que texto claro e desmistificador.
    Parabéns,
    Rossa

  4. 27 setembro 2010 at 8:58 pm

    Olá Lígia, gostei do texto. Realmente a universidade só faz nos mostrar onde encontrar as informações, se não corrermos atrás…fica díficil.
    Acompanho sempre o que escreve, e me serviu muito alguns textos que você escreveu sobre gestão de design, inclusive para o meu trabalho de conclusão de curso. Beijos =)

  5. Raphael Moras de Vasconcellos
    Responder
    28 setembro 2010 at 8:08 am

    Matou a pau. E tem mais, muitos cargos ou profissões exigindo diplomas/certificados apenas ajudam a criar reserva de mercado e custos absurdos com burocracias.

  6. 28 setembro 2010 at 11:24 am

    Ligia. Essa discussão sobre obter o diploma e aproveitar o curso eu tenho em todas as turmas nas quais dou aulas. Faço uma “brincadeira” com os alunos. Peço que ninguém olhe pros lados nem dê bandeira, mas que responda, pra si mesmo uma pergunta simples: “quem, dentre os seus colegas, você contrataria para trabalhar pra você, ganhando o salário que ele (ou ela) acha que merece em função de ter feito este curso de pós-graduação?”

    Fica claro, pelos olhares, que alguns dali serão aproveitados pelo mercado e poderão ter os seus rendimentos aumentados. Outros ingressarão no exército de… como você disse? “pós-graduados subempregados e reclamando da vida.”
    É isso.

  7. 29 setembro 2010 at 9:21 am

    Se eu dependesse de diploma, não teria conseguido realizar o meu trabalho e nem teria conquistado um espaço no mercado com clientes importantes.
    Ainda assim, os cursos que ministro Brasil afora são sempre de extensão porque nem posso ser contratada por instituições acadêmicas.
    Então, no mercado “sou alguem”.
    No meio acadêmico, não.

  8. Nereu
    Responder
    30 setembro 2010 at 12:54 pm

    Ligia, não o local ideal para isso mas lembrei-me de vc assim que vi e foi a forma mais rápida de te dizer hehe, olha que trabalho lindo:

    http://www.dentsulondon.com/blog/2010/09/28/sound-sculptures/

    Muitíssimo original … e colorido!

  9. 30 setembro 2010 at 2:38 pm

    Cara Lígia:

    Bem colocada a sua posição: não basta um diploma se a pessoa não aplica o que aprendeu. Como professor universitário recomendo a todos que procurem não apenas “passar”, mas sim aprender mesmo….Aprender o que há por trás das disciplinas que os professores ensinam.

    Abraços.

  10. mayco
    Responder
    30 setembro 2010 at 8:05 pm

    Lígia Parabéns.
    Temos que aprender associar a teoria com a pratica e não ficar pensando em colecionar certificados para obter um aumento.

  11. 12 outubro 2010 at 8:06 pm

    Acho que o pessoal já disse tudo nos comentários acima. O texto realmente é excelente. E para algumas pessoas,, esse texto foi um “soco” na cara. Parabéns pelo texto e pelo blog. Devidamente favoritado aqui.=]

  12. 22 outubro 2010 at 3:17 pm

    Infelizmente em muitas empresas, por não saber avaliar as habilidades dos funcionários, acabam perdendo grandes potenciais. Pois a necessidade de ter um documento que comprove seu conhecimento ainda é o alicerce que assegura a empresa de estar contratando pessoas “experientes” e assim pagar um valor específico ao seu grau de entendimento.
    Comentário utópico: Se houvesse uma reciclagem nos RHs e identificasse que o contratado deveria ser avaliado pelas habilidades e não pelos diplomas, acredito que as empresas teriam resultados incríveis, pois destinariam cada função ou cargo a pessoas realmente capazes.

  13. 16 novembro 2010 at 7:51 pm

    eu quero diplona

  14. rafael
    Responder
    6 fevereiro 2011 at 12:14 am

    Tenho inúmeros diplomas e sou um ninguém. Acho que sou uma pessoa iconoclasta.
    Arquiteto, administrador, mestre de cozinha, DJ, 2 pós-graduação, conheço muitas cidades, morei em outras tantas, fiz milhares de cursos, virei evangélico, fui em milhares de psicólogos, igrejas e tudo mais.
    Quem quer diploma? Pegue o meu que com certeza não vai fazer falta para mim.
    O que importa é a atitude. A atitude de começar. A atitude de ser diferente.

  15. 19 janeiro 2012 at 9:23 pm

    Lígia, como você já nos deu autorização para publicar os seus artigos, informo a você que na próxima edição da revista ARTESTUDIO 37 publicaremos esse seu artigo ‘diploma pra quê?’
    o nosso tema central será instituições educacionais.
    Abraço, Márcia Barreiros

    • ligiafascioni
      Responder
      20 janeiro 2012 at 12:46 pm

      Que boa notícia, Márcia! Você pode me enviar um exemplar? Sempre fico curiosa para ver como saiu!
      Abraços e obrigada!

  16. Vinícius Costa
    Responder
    29 janeiro 2013 at 7:31 pm

    Excelente texto. Você explicou claramente o motivo pelo qual muitas pessoas graduadas estão infelizes em suas carreiras profissionais. A parte que mostrou isso de maneira objetiva foi a que “Há alunos que estão claramente perdendo o seu tempo: pagando as prestações de um diploma que não servirá absolutamente para nada, uma vez que não estão interessados em gerar valor, mas em aumentar o salário”.Até agora eu pensava assim, achando que um diploma aumentaria “automaticamente” meu salário. Mas o mercado remunera bem quem está disposto a trabalhar bem. Parabéns pela clareza destas informações.

    • ligiafascioni
      Responder
      29 janeiro 2013 at 7:44 pm

      Obrigada, Vinícius! Sucesso para você!

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