As regras do cérebro

John Medina é um cientista especializado em biologia molecular e fundador de dois institutos de pesquisa do cérebro.  Ele estudou realmente a fundo o tema e criou as Brain Rules (Regras do Cérebro) para que a gente possa aproveitar o máximo possível desse equipamento sofisticadíssimo que carregamos conosco.

Medina explica que tudo o que conhecemos o funcionamento do cérebro vem dos biólogos que estudam os tecidos, dos psicólogos experimentais que estudam os comportamentos, e dos neurocientistas cognitivos que estudam como os tecidos se relacionam com os comportamentos, além dos estudos dos biólogos evolutivos. Os resultados dessas pesquisas todas levam a crer que o cérebro parece ter sido desenvolvido para:

  1. resolver problemas
  2. relacionados à sobrevivência
  3. em um ambiente aberto e instável, e
  4. faz isso enquanto se movimenta constantemente.

Vou fazer um resumo das 12 regras, mas já adianto que cada uma delas merecia uma resenha separada (talvez use algumas para meus pocket-textos do Instagram). 

Regra #1: O cérebro humano evolui

Medina explica que somos humanos justamente porque conseguimos fantasiar, ou seja, imaginar atributos ou significados para coisas que não os possuem, ou mesmo inventar essas coisas. Nós combinamos símbolos e derivamos camadas de significados; por isso somos capazes de escrever e ler uma língua, racionalizar questões matemáticas, e produzir arte como pintura, escultura, música, literatura e poesia. Ou seja, nós somos capazes de criar culturas, colaborar, inferir motivações e intenções para, enfim, dominar o mundo. Mas isso só é possível por causa do neocortex, que é relativamente recente na nossa história evolutiva. E continuamos mudando e nos adaptando.

Regra #2: Exercícios aumentam o poder do cérebro

De tudo o que já se estudou sobre a evolução humana, uma coisa é certa: nós sempre nos movemos. Pesquisam indicam que, em boa parte do nosso tempo evolutivo, a gente caminhava cerca de 20 km todos os dias. Somente no último século é que as pessoas começaram a passar a maior parte do tempo sentadas, uma posição totalmente antinatural. Claro que o cérebro vai se adaptar a isso também, mas não temos milhares de anos para esperar até que ele desempenhe bem nessas condições.

A gente sabia que isso faz mal para a coluna, a circulação e para o corpo em geral, mas o fato é que o sedentarismo prejudica também a performance cognitiva do cérebro. Caminhar alguns kilômetros por dia é bom, mas fazer 30 minutos de exercícios aeróbicos (ou seja: suar!) duas ou três vezes por semana reduzem em mais de 60% o risco de desenvolver doenças degnerativas como demência e Alzheimer. Por quê? É que o exercício aumenta o fluxo de sangue no corpo e consequentemente, aumenta o acesso ao oxigênio. E o cérebro é uma esponja de oxigênio. Isso é muito sério. 

Regra #3: Durma bem, pense bem

Na verdade, quando a gente dorme, o cérebro não para de trabalhar e continua consumindo a mesma quantidade de energia de quando estamos acordados. A exceção é o período conhecido como não-REM, mas ele corresponde a apenas 20% do tempo do ciclo, sendo que a quantidade de horas necessárias e o período varia de acordo com o ciclo cicardiano de cada pessoa. Estudos mostram que cochilos durante o dia trazem benefícios enormes à capacidade cognitiva e à concentração. Os estudiosos acreditam que acontece algum tipo de processamento offline durante a noite, reproduzindo e lembrando o que foi experimentado durante o dia, entre outras atividades. Em resumo, dormir bem é essencial para a saúde do cérebro. 

Regra #4: Cérebros estressados não aprendem da mesma maneira

Existem vários tipos de stress conhecidos; alguns aumentam o aprendizado e outros realmente prejudicam o processo. Por exemplo: pular de paraquedas pode ser um pesadelo para alguns e um sonho para outros. Cada organismo vai determinar como processar cada tipo, mas sempre há mudanças fisiológicas envolvidas (aceleração dos batimentos cardíacos, aumento da pressão arterial, sensação de liberação massiva de energia; em alguns casos, perda de controle emocional). De qualquer forma, sabe-se que o stress afeta profundamente o sistema imunológico e a memória; em casos extremos, pode até matar células do hipocampo.  Existe também uma relação entre stress e depressão, prejudicando também a linguagem, a razão, a inteligência fluida e a percepção espacial. E não é possível separar o stress doméstico do ambiente de trabalho; um afeta o outro e ambos se potencializam mutuamente.  

Regra #5: Cada cérebro é conectado de maneira diferente

Você sabia que gêmeos idênticos, que passam pelas mesmas experiências, não têm cérebros iguais? Cada vez que a gente aprende alguma coisa, nosso cérebro muda fisicamente de configuração. Isso quer dizer que o cérebro não para de mudar suas configurações internas; elas são alteradas o tempo todo e nunca é igual para duas pessoas. O cérebro se comporta como um músculo; quanto mais você aprende, mais complexo e forte ele vai ficando.

Regra #6: Nós não prestamos atenção a coisas chatas

Prestar atenção depende essencialmente do nosso interesse na coisa e em como estamos emocionalmente conectados a ela. E, muitíssimo importante, nosso cérebro NÃO É MULTITAREFA! A gente só consegue prestar atenção e processar uma coisa de cada vez. Ah, tá, e como é que a gente consegue caminhar e conversar ao mesmo tempo? É porque ele não está prestando atenção nas duas coisas ao mesmo tempo, entende? O caminhar está indo no automático. Quando a gente tenta fazer duas tarefas que exigem atenção ao mesmo tempo, o que o cérebro faz é chavear a atenção entre as duas em pequenos intervalos de tempo. Esse “chaveamento” entre atividades custa um esforço enorme com claros prejuízos ao seu desempenho. 

Regra #7: Repita para memorizar

O cérebro tem vários tipos de sistema de memória. A memória declarativa, por exemplo, tem 4 estágios de processamento: codificar, armazenar, recuperar e esquecer.  Quanto mais elaborada for a codificação durante os momentos iniciais, mais forte a memória será (e isso envolve emoções). As chances de se lembrar de algo aumentam se a pessoa conseguir reproduzir o ambiente em que a memória foi construída. A memória de trabalho é uma coleção de espaços que permitem que a gente retenha temporariamente as informações recém adquiridas; se a gente não repeti-las, elas são apagadas. A memória de longo termo, por sua vez, é um caminho de duas vias entre o hipocampo e o córtex, até o hipocampo cortar a conexão e a memória se fixar definitivamente no córtex. Isso pode levar anos. Assim, o melhor jeito de se lembrar das coisas é incorporar novas informações gradualmente e repeti-las em intervalos de tempo.

Regra #8: Estimule mais os sentidos

A gente só percebe o mundo por causa dos nossos sentidos. Nossos “sensores” (olhos, pele, língua, nariz, ouvidos, etc) captam as informações do mundo externo, transformam em sinais elétricos e levam para o cérebro. Lá dentro esses sinais são combinados e o cérebro compara o que recebeu com o que já tinha registrado antes para interpretar a experiência. Então, cada sentido influencia o outro na construção da nossa percepção, assim como nossas experiências anteriores explicam porque, face a um determinado evento, diferentes pessoas percebem-no de maneiras completamente distintas (claro, pois tudo depende do que elas já tinham antes dentro do cérebro para usar como referência). O olfato é o único que corta caminho e não passa pelo tálamo; ele acessa diretamente as nossas memórias, veja que coisa forte!

Por causa da integração entre os sentidos, a gente aprende e memoriza muito mais eventos se eles estimulam mais de um sentido. Ou seja, a gente aprende mais quando recebe informações de sensores diferentes (exemplo: visão+audição+tato funciona muito mais que somente audição).

Regra #9: A visão supera todos os outros sentidos

A gente não vê com os olhos, mas com o cérebro. O processo visual é extremamente complexo e ocupa quase toda a capacidade de processamento dos nossos sentidos, até porque apenas uma parte do que estamos vendo é enviada como sinal elétrico; o cérebro se responsabiliza por preencher todos os buracos faltantes com seu acervo armazenado. E a visão consegue prevalecer não apenas sobre o olfato e o paladar, mas sobre o tato também.

Regra #10: Música aumenta a capacidade de cognição

Aprender música aumenta as notas em matemática, a habilidade de leitura, o Quociente de Inteligência, o raciocínio espaço-temporal, a capacidade de aprender línguas estrangeiras, a empatia e as habilidades sociais; é o que dizem os estudos. Música também muda o humor da pessoa por conta dos neurotransmissores dopamina, cortisol e oxitonina, liberados quando a gente escuta uma canção que gosta. 

Regra #11: Cérebros de homens e mulheres são diferentes

A gente aprendeu na escola que as mulheres carregam os cromossomos XX e os homens, XY. O que não aprendi (ou não me lembro) é que o X carrega mais de 1500 genes, enquanto o Y, pouco mais de uma centena. Isso faz com que as mulheres tenham uma espécie de backup caso algum gene tenha problemas (ela ignora e pega o do outro X). Se algum gene do X der problema num homem, ele não tem de onde tirar. Por isso, homens são mais propensos a doenças relacionadas a mutações genéticas como o retardamento mental e a esquizofrenia. Por outro lado, mulheres são mais propensas à depressão. As mulheres também têm os dois hemisférios mais conectados, tendendo a usar os dois para fazer a maior parte das tarefas, enquanto os homens, que têm conexões mais fracas, tendem a usar apenas um. Com relação a comportamentos, a influência do contexto social é tão grande, que não há como determinar o que é mais influenciado pela cultura e o que é papel da genética.  O que se pode dizer é que: 1) Emoções são fundamentais; são elas que fazem o cérebro prestar atenção; 2) Homens e mulheres processam algumas emoções de forma diferente; 3) Essas diferenças são o resultado de uma interação muito complexa entre biologia e cultura. Mas, no geral, experimentos mostram que essas diferenças não influenciam na capacidade intelectual dos gêneros.

Regra #12: Nós somos exploradores por natureza

Os bebês são um excelente modelo para mostrar como aprendemos: não passivamente, mas explorando o mundo de maneira ativa, testando limites, observando, experimentando e concluindo. O mais interessante é que algumas partes do cérebro adulto continuam tão maleáveis e plásticas como eram na infância; essa capacidade faz com que a gente consiga criar neurônicos e aprender coisas novas durante toda a vida. Isso não é fantástico?

O site www.brainrules.net tem um vídeo sobre o livro e ainda uma versão para pais com bebês ajudarem o cérebro do seu rebento a se desenvolver melhor.

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