IG Nobel: para duvidar, rir e pensar

Fotografia: Anthony Redpath

Na semana passada(*) o mundo ficou conhecendo os ganhadores do Prêmio Nobel, que, de acordo com o testamento de Alfred Nobel, determina a premiação das descobertas que mais beneficiaram a humanidade. O prêmio é disputadíssimo e o sonho de consumo declarado de boa parte de gente que dedica a vida à pesquisa científica, à literatura e à política.

Mas o que muita gente não sabe é que nessa época são laureados também os ganhadores do IG Nobel, um trocadilho bem-humorado do prêmio com a palavra ignóbil, ou infame. O IG Nobel é organizado pela Universidade de Harvard desde 1991. Os trabalhos são analisados por uma comissão multidisciplinar que inclui atletas, autoridades políticas e científicas, e vários ganhadores do Prêmio Nobel original.

O objetivo é celebrar o incomum, honrar a imaginação e despertar o interesse das pessoas pela ciência, medicina e tecnologia, tudo com muito bom-humor. Nesses tempos de culto à inovação, nada mais bem-vindo.

A cerimônia acontece em Harvard para uma exclusiva audiência de 1.200 pessoas e a platéia tem o tradicional hábito de jogar aviõezinhos de papel no palco durante o evento. Assim, laureados com o Nobel (sim, aqueles sisudos cientistas ganhadores dos prêmios de física, química e economia, entre outros) varrem (sim, com vassouras mesmo) os aviõezinhos no palco. Eles se protegem com chapéus chineses para não serem atingidos pelos petardos e passam a cerimônia inteira varrendo. Às vezes interrompem a labuta para entregar algum prêmio, pois todos os IG Nobel são entregues por Nobels autênticos.

A idéia é contemplar pesquisas e patentes improváveis. Os premiados de cada ano têm os seus artigos publicados em um livro com uma linguagem mais acessível. Veja alguns exemplos de ganhadores:

Neste ano, Gregg Miller, de Missouri, ganhou o prêmio de medicina por ter inventado e patenteado uma prótese artificial de testículos para animais de estimação castrados. A prótese é vendida em vários tamanhos nas versões Original (rígida), Natural (macia) e Ultra-plus (super-macia).

Pesquisadores da Universidade de Newcastle, na Inglaterra, levaram o prêmio por submeter gafanhotos a trechos escolhidos do filme Guerra nas Estrelas e monitorar a sua atividade cerebral. O trabalho foi publicado no respeitado Journal of Neurophysiology em 1992.

Na área de economia, Gauri Nanda, do celebrado Massachusetts Institute of Technology defendeu o uso de sua invenção, o despertador que toca e se esconde repetidamente, como fator para o aumento da produtividade de trabalhadores.

A Universidade de Minnesota levou o prêmio de química com o inusitado trabalho investigativo concebido para responder à seguinte pergunta: as pessoas nadam mais rápido na água ou no xarope?

Em biologia, uma equipe de estudiosos de várias universidades espalhadas pelo mundo se uniu para pesquisar os odores das secreções expelidas por 131 espécies de sapos quando submetidos a situações de stress.

O destaque para a área de dinâmica dos fluidos foi para o trabalho desenvolvido por pesquisadores alemães, finlandeses e húngaros, que estudaram a pressão produzida por um pingüim quando ele produz flatulências e defeca. Os gráficos e cálculos são impressionantes!

Dois trabalhos fantásticos premiados na categoria medicina em anos anteriores: uma equipe da Universidade de Detroit se concentrou em analisar o efeito da música country em suicidas e a University College of London mostrou evidências científicas que os motoristas de táxi londrinos possuem o cérebro mais desenvolvido que a média dos moradores de Londres. Essa prestigiosa universidade contribuiu também com o incrível estudo sobre a assimetira escrotal de homens em esculturas antigas.

Ainda em medicina, merece destaque o trabalho de Peter Barss da McGill University que analisou os danos causados nas pessoas provocados por quedas de côcos. Ele publicou o artigo no famoso The Journal of Trauma.

Em química, um dos prêmios foi para o estudo de uma universidade japonesa sobre o motivo pelo qual a estátua de bronze localizada na cidade de Kanazawa não atrai pombos.

Estudos de psicologia impressionaram a comissão julgadora, que premiou o trabalho realizado na Holanda sobre o primeiro caso cientificamente comprovado de necrofilia homossexual praticada por um pato selvagem. Tem também o estudo da Universidade de Estocolmo que explica as razões científicas pelas quais as galinhas preferem as pessoas bonitas.

Ainda sobre animais, estudiosos japoneses publicaram no Journal of the Experimental Analysis of Behavior um relevante artigo em que relatam um método para treinar pombos para diferenciarem uma pintura de Monet de outra de Picasso.

Em física, cabe destacar a experiência realizada por estudiosos ingleses e holandeses que descreveram a experiência de fazer um sapo levitar com o auxílio de magnetos. A Universidade inglesa de Aston finalmente provou cientificamente porque o pão sempre cai com a manteiga para baixo. Um utilíssimo software que detecta automaticamente quando um gato caminha sobre o teclado do computador também foi premiado.

Matemática e estatística são duas grandes fontes inspiradoras para o IG Nobel: um indiano publicou no Veterinary Research Communications, o cálculo da área total de superfície ocupada por todos os elefantes indianos. Mas o artigo de estatística que mais provocou curiosidade foi o que descreveu as relações métricas entre o peso, o comprimento do pênis e o tamanho dos pés de um homem, realizado por pesquisadores das Universidades de Toronto e Alberta, no Canadá. Ficou curioso? Na conclusão do trabalho eles provaram que não há uma relação entre as medidas, isso não passa de um mito!

Os organizadores do IG Nobel lembram que os trabalhos premiados têm uma característica em comum: primeiro as pessoas não acreditam que alguém possa tê-los feito; depois elas riem; ao final, pensam.

De tudo isso, o que se tira é que o desenvolvimento humano precisa do inusitado, do improvável, do incomum, do ousado e do ridículo para acontecer. E, mais do que tudo, da capacidade de rir de si próprio, mesmo que você seja uma celebridade ganhadora do Prêmio Nobel.

Quer saber mais sobre o IG Nobel? Vá lá: http://www.improbable.com

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(*) Esse texto é de 2005, mas como ando lendo muita coisa sobre inovação, não podia deixar de compartilhá-lo. Vou dar uma pesquisada e postar os ganhadores mais recentes nas próximas semanas; aguardem!

(**) Aqui os ganhadores de 2008: https://www.ligiafascioni.com.br/ig-nobel-2008/

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