Para educar o seu nariz

Sempre fui fascinada em entender como nossos sentidos nos ajudam a perceber o mundo; essa compreensão é fundamental para quem se interessa por criatividade e inovação, pois o tema está diretamente relacionado à maneira como a gente expande nosso repertório e desenvolve novas ideias.

Pois o olfato é um dos nossos sensores mais poderosos; nosso narizes têm neurônios dentro — é o único sentido com acesso direto ao nosso cérebro (leia aqui a resenha de dois livros que exploram melhor a questão: Gastrofísica e O Cheiro das Coisas).

Agora imagine como fiquei feliz ao ser convidada para fazer parte da turma piloto do workshop que meu querido amigo Caio Mecca montou em conjunto com a competentíssima Stephanie Caires.

Caio Mecca e Stephanie Caires

Caio é engenheiro químico e criou o primeiro blog de resenhas e perfumes do Brasil (aqui o link); mora em Berlim há alguns anos e já foi nosso entrevistado no Berlim Tech Talks

Stephanie (que eu não conhecia), é farmacêutica, estudou perfumaria na França e hoje trabalha na Inglaterra como Gerente de Desenvolvimento de Novas Fragrâncias em uma grande empresa, depois de passagens pela França e México.

Mas vamos ao que interessa: as coisas incríveis que aprendi com esses dois (e mais o Tadeu, que nos forneceu um serviço de Fact Checking em tempo real…rs).

DUVIDO QUE VOCÊ SABIA DISSO…

Primeiro choque: a perfumaria surgiu na antiguidade quando se queimavam ervas e cascas para gerar uma fumaça que chegasse aos céus em rituais religiosos. Daí o nome Per Fume (literalmente “pela fumaça“, a comunicação com os deuses através do fumo, sinônimo de fumaça). Como é que vivi até hoje sem nunca ter me tocado disso? Agora parece óbvio, né?

Depois esses cheiros foram usados para fins terapêuticos e somente muito, mas muito depois mesmo, como ferramenta de sedução e cuidados pessoais, como é hoje.

HISTÓRIA

O Caio e a Stephanie contam todo o desenvolvimento da perfumaria, dos primeiros profissionais, de como a técnica foi se desenvolvendo durante a idade média e a idade moderna, a contribuição de cada povo e cultura, o surgimento e reconhecimento dos primeiros profissionais, enfim, muita informação nova e interessante.

Outra coisa que eu não sabia: a Stephanie explicou que na indústria, o termo aroma é usado exclusivamente para a indústria alimentícia. Para perfumaria e uso pessoal, o termo correto é fragrância.

TÉCNICAS E MATERIAIS

Outra coisa muito curiosa é entender porque os perfumes de 10 ou 20 anos atrás têm um cheiro diferente hoje. 

Tem a questão das matérias primas, mas também da legislação, que é atualizada a cada dois anos por um comitê internacional. Então muitos dos componentes que se usava antes foram banidos por causar alergias, por serem poluentes ou por ser eticamente condenável a forma de obtenção da essência (que em alguns casos traz muito sofrimento animal — no caso do Musk, por exemplo, o animal é torturado porque a glândula só produz a essência quando ele sente medo ou fica nervoso).

MITOS

Mitos a respeito de matérias primas sintéticas também foram derrubados; inclusive, o perfumista tem muito mais controle sobre a qualidade final do produto e consegue isolar melhor os acentos com elementos sintetizados, pois óleos obtidos a partir de flores ou folhas variam muito de uma colheita para outra.

Matéria-prima natural não é sinônimo de perfume de qualidade; são muitas as variáveis envolvidas. Segundo a dupla, geralmente o perfumista faz um mix de ingredientes naturais e sintéticos dependendo do briefing (perfil do consumidor, estimativa de custos, usos, etc).

PIRÂMIDE OLFATIVA

Ainda aprendemos também sobre a pirâmide olfativa, em cuja base estão as notas de fundo, seguidas pelas notas de coração (que, na verdade, são o corpo do perfume) e finalmente, no topo, as notas de saída. 

O primeiro cheiro que a gente sente quando prova um perfume novo são as notas de saída; aquelas pelas quais a gente se apaixona de cara (ou não).

Mas elas logo evaporam e o que fica (entre 20 e 120 minutos) são as notas de coração, que vão durar mais tempo. Depois de duas horas, o que resta são as notas de fundo. 

Então a dica dos especialistas é: borrife um pouco de perfume na pele e vá dar uma volta antes de efetivar a compra, pois é preciso tempo para sentir todas as notas.

PARQUINHO DE DIVERSÕES

A gente ainda ganhou amostras de essências diluídas (algumas naturais e outras sintéticas) para tentar adivinhar a matéria-prima, além de uma folha com adjetivos que ajudavam a gente a descrever cada cheiro.

Foram pouco mais de 4 horas cheias de informações e curiosidades interessantes! Além de rever amigos queridos e conhecer pessoas novas, foi uma experiência inesquecível.

ATENÇÃO

Logo eles vão começar a oferecer o workshop em Berlim para turmas de até 6 alunos; assim que tiver mais notícias, vou espalhar por aqui. Por ora, vale seguir o perfil do Caio no Instagram e já ir fazendo a lição de casa.

Pois, como diz a frase do perfumista François Demachy, usada para abrir o curso:

Um perfume não se explica; se vive.

Primeira turma piloto: Otubo, Caio (professor), Stephanie (professora), Axel, Mary, eu, Denise e Carolina.

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