O avesso da pele

A gente sabe que ser negro neste mundo não é uma tarefa para amadores. Mas no Brasil, as coisas, que nunca foram fáceis, têm piorado muito nos anos recentes. Além da matança institucionalizada pela própria polícia quando invade comunidades e mata até crianças pequenas, como aconteceu no ano passado, tem também os “cidadãos de bem” atuando de forma proativa para o extermínio. 

Há alguns dias o congolês de apenas 24 anos, Moïse Kabagambe, foi espancado até a morte por ter reclamado do não pagamento do seu salário no kioske de praia onde trabalhou, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. A barbárie aconteceu em plena luz do dia. Os suspeitos presos dizem que estão de consciência tranquila, pois não tiveram a intenção de matar (imagina se tivessem). 

Poucos dias depois, num condomínio em São Gonçalo, no mesmo Rio de Janeiro, Durval Teófilo Filho, 38 anos, foi assassinado a tiros por seu próprio vizinho ao ser confundido com um assaltante (tinha esquecido a chave e esperava a mulher abrir o portão para que ele pudesse entrar). 

Adivinha a cor dos dois?

São dois casos que tomaram as páginas dos jornais, mas é certo que há muitos outros que passam batido e a gente nem fica sabendo.

Pois foi nesse clima que devorei o excelente “O avesso da pele”, de Jeferson Tenório, que conta a história da família de um rapaz negro no final da adolescência, logo que começa a cursar a faculdade de arquitetura, o Pedro.

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