Favela alemã?

Lembro até hoje da primeira vez que, de dentro de um trem, avistei um Kleingartenverein (também conhecido como Schrebergarten). Era final de outono e o lugar parecida uma favela; um terrenão cheio de tralhas e construções estranhas. Aliás, eram vários lotezinhos com barracos de madeira, sempre separados por cercas e com muito mato em volta.

Ué, mas na Alemanha tem favela?

Não se preocupe, não tem não.

Aquelas “comunidades” não eram de fato favelas. Mas olha só que curioso (sei lá porque ninguém fala a esse respeito, já que a ideia é tão sensacional): os alemães são tão apaixonados por jardinagem que eles arrendam lotes na perferia das cidades só para poder cultivar suas próprias flores, já que a maioria mora em apartamentos pequenos. Não é lindo?

A ideia surgiu na época da revolução industrial, quando a vida dos operários era realmente miserável. Além de morarem em pulgueiros e trabalharem demais, os pobres comiam muita porcaria. Foi aí que um médico da cidade de Leipzig, o Dr. Daniel Schreber teve a ideia de pegar um terreno grande e separar em lotes (numerados, claro, estamos falando da Alemanha..rsrsr). Ele organizou uma espécie de comunidade e incentivou cada operário a plantar sua própria comida e flores (que, na cultura alemã, são quase tão importantes quanto).

Além de relaxar trabalhando com a terra e plantando suas próprias sementes, a alimentação também ficou mais saudável. Os terrenos são bem pequenininhos (é para não caber uma casa mesmo, pois a ideia não é essa); então eles têm no máximo uma cabana ou rancho para guardar ferramentas, insumos e cadeiras de sol. Os ranchos também são necessários para instalar pias ou tanques para as tarefas de plantar e regar. O capricho é tamanho que alguns terrenos têm chalezinhos que parecem de brinquedo, de tão bonitinhos.

No inverno o lugar é feio, claro, cheio de barraquinhas e apetrechos diversos de jardinagem (por isso achei que fosse um tipo de favela). Mas na primavera, tudo se transforma. As lojas ficam cheias de ofertas de ferramentas, sementes e vasos; parece que fazem concurso para ver quem faz o jardim mais lindo.

Aliás, lindo não, idílico. Suspeito que, no fundo, os alemães são muito românticos no sentido de ter uma vida de contos de fadas. Observando esses jardins, dá para ver duendes, princesas, bichinhos diversos, flores para todos os lados e arranjos caprichados. A impressão é que cada um constroi seu próprio mundo de fantasia particular e se entrega aos detalhes do fundo do coração, como se estivesse brincando de casinha. Deve funcionar como uma espécie de refúgio perfeito para escapar dos problemas.

As famílias vão todo final de semana e as crianças adoram. Olha só; não é uma ótima ideia para desestressar esse povo das grandes cidades brasileiras?

Pena que se os governos já são pão-duros para construir praças e áreas verdes, imagina ter um terreno enorme só para as pessoas plantarem suas flores…

Mas não custa sonhar, né? Tirando os duendes, os bichos de cimento e os anões de jardim, o resto é muito lindo; dá só uma reparada…

Quer ver mais fotos? O álbum completo está aqui, no Flickr.

Café e literatura

Essa casa linda que aparece na foto é a Literaturhaus de Berlin, onde escritores de vários gêneros se reúnem para falar, é claro, sobre literatura. Ainda não sei bem como funciona, mas penso que é tipo uma Academia de Letras. Quase todo dia tem programação e há um auditório onde escritores falam de suas obras por um ingresso quase simbólico. A construção é de 1889 e foi residência de um capitão de corveta que depois virou deputado (foi um dos primeiros alemães a chegar no polo norte, Herr Richard Hildebrandt.

Cada cabeça uma peruca

Pois bem; essa loja em Nuremberg resolveu inovar para valer: eles criaram uma personalidade para cada uma das cabeças neutras e sem graça adicionando acessórios: óculos, lenços, gravatas, laços, etc. Cada cabeça parece guardar uma história e um estilo diferente; e ainda tem homens, por sinal super descolados, coisa que nunca tinha visto em loja de peruca.