Para comer direito

Não vou enganar ninguém: compro livro pela capa. E já deixei de comprar livro pela capa também. Sinto muito, mas sou dessas.

E olha, dificilmente me dou mal nas minhas escolhas. Para mim, a capa, a diagramação, a qualidade do papel e a tipografia geralmente são compatíveis com a qualidade do conteúdo. Se a editora contratou um designer que se deu ao trabalho de ler o livro e entender o espírito da história para conseguir comunicar ao potencial leitor que vale a pena mergulhar naquelas páginas, provavelmente vale a pena mesmo. Quando a coisa é mal feita, o amadorismo mostra o nariz e é impossível não notar.

Às vezes tem coisas bacanas, mas mal impressas e com capas ruins; essas geralmente eu perco, infelizmente. E tem capas bacanas com conteúdos ruins, claro. Mas, olha, pela minha experiência (que não é tanta, mas também não é de se jogar fora), costuma funcionar.

Digo isso porque nunca tive problemas de peso (desculpaí) e sempre fui desencanada para comer; jamais comprei um livro de dieta ou equivalente na vida. Mas aí estava passeando pelo site da Amazon e vi essa belezinha de capa dura, chamada “Food rules: an eater’s manual“, de Michael Pollan com ilustrações da Maira Kalman. Sério, o livro é tão lindo que se fosse sobre a produção de tampas de lapiseiras descartáveis no Afeganistão, teria comprado do mesmo jeito.

Só para não contrariar a minha regra, o conteúdo é ótimo. O autor é um estudioso dos nossos hábitos alimentares e sabe que comer hoje em dia, não é tarefa para amadores. Ele é também autor do bem mais famoso “O dilema do onívoro” que ainda não li.

Apesar da fartura inédita no mundo, tem mais porcaria química do que aquilo que mereceria se chamar comida nas prateleiras dos supermercados. É tudo tão complicado que a pessoa quase precisa de uma pós-graduação em nutrição se quiser se alimentar sem riscos. Há várias pesquisas (cujas fontes ele cita) que associam diretamente à chamada dieta ocidental (a comida que os americanos comem e o mundo todo está indo atrás) o aumento de doenças fatais das mais diversas como diabetes, câncer de colo de útero e doenças do coração, sem contar o problema da obesidade.

Bom, pesquisas científicas existem aos montes, mas conhecimento não muda comportamentos, como já falamos aqui. Então, o Michael pensou que em vez de ficar contando calorias ou recombinando diferentes tipos de carboidratos, melhor seria criar frases simples, memoráveis e de fácil entendimento. No livro são 83 regras e a maioria é bem fácil de repetir como um mantra cada vez que for apresentado a uma tentação. Separei algumas mais interessantes (que estou tentando seguir) para você ter uma ideia:

1. Coma comida (coisas como margarina não são comida, são apenas substâncias comestíveis, o que é bem diferente).

2. Não coma nada que a sua avó não reconheceria como comida (coisas que vêm em caixinhas não existiam no tempo dela; a probabilidade de não serem comida é grande).

3. Evite alimentos que têm alguma forma de açúcar como um dos três principais ingredientes.

4. Evite alimentos que contêm ingredientes que um estudante da terceira série não consiga pronunciar (adorei essa!).

5. Evite alimentos que ficam exaltando o fato de fazerem bem para a saúde (as margarinas não param de fazer isso).

6. Evite alimentos que fingem ser o que não são (cremes que imitam queijos, margarinas que imitam manteiga, líquidos que parecem iogurte, coisas viscosas que imitam azeite, etc)

7. Evite alimentos que aparecem nas propagandas de TV; a produção tem que ser industrializada em grande escala para pagar os custos (aliás, evite comer vendo TV).

8. Coma comida que pode estragar e atrair insetos (uma coisa que não estraga e nem os bichos querem comer, com certeza não pode ser chamada de comida).

9. Coma somente alimentos que foram preparados por pessoas. Máquinas não fazem comida, fazem substâncias comestíveis.

10. As coisas que entram pela janela do seu carro não são comida.

11. Não é comida se tem o mesmo nome em todos os países (ex: Big Mac, Cheetos, Pringles, etc)

12. Coma mais plantas.

13. Carnes podem ser usadas como tempero ou em ocasiões especiais; mas não para todo dia.

14. Coma como um onívoro, ou seja, varie ao máximo a dieta e experimente novos tipos de plantas, animais e cogumelos. Um dos problemas dos produtos industrializados é que quase tudo é à base de soja e milho; aí tem que entrar a química para diferenciar os sabores.

15. Tente comer peixes pequenos (que não estão no topo da cadeia alimentar) e não criados em cativeiro, como sardinhas, trutas e anchovas.

16. Não coma coisas que já vêm com sal ou açúcar.

17. Leite é comida, não bebida; não serve para matar a sede. Assim como suco de frutas, deve ser consumido com moderação.

18. Você pode comer junk food (ex: batatas fritas), desde que você mesmo as prepare.

19. Tome uma taça de vinho no jantar.

20. Pague mais, coma menos (ou prefira um bistrô a um rodízio de comida à vontade; compre menos carne, mas escolha cortes mais nobres). Enfim, coma menos e com mais qualidade.

21. Coma quando estiver com fome, não quando estiver triste ou chateado.

22. A escrivaninha não é lugar para comer.

23. Não coloque na mesa nada que tenha rótulo (isso eu faço sempre; detesto rótulos).

24. Tenha sempre um buquê de flores sobre a mesa; as coisas ficarão duplamente saborosas (verdade!).

25. Quebre as regras de vez em quando, não seja obsessivo. Como dizia Oscar Wilde “Faça tudo com moderação. Inclusive ser moderado“.

Tem mais coisas muito interessantes (ele explica e dá exemplos para cada regra e a ilustradora também colabora bastante) que valem a pena pensar em comprar um volume para chamar de seu, viu?

O livro me impressionou tanto que estou começando a cozinhar mais em casa (depois posto umas receitas bem-sucedidas aqui). Além de mais gostoso, é muito mais barato, pode acreditar. E é bem como Pollan diz: na vida, você precisa reservar tempo para as prioridades, as coisas que são mais importantes. Comer é muito importante.

Agora olha uma amostra das ilustrações da Maira Kalman, para, sem trocadilhos, fazer você ficar com água na boca…

Ilustrações: Mira Kalman

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A loira e o cadeado

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