A importância da pregnância

Fotografia: Chris McVeigh

Estava concentrada na função de espremer meus pobres neurônios contra a caixa craniana em busca de algum assunto que pudesse servir de tema para essa coluna, quando uma mensagem veio me salvar. Um jornalista queria me entrevistar por e-mail sobre a questão da pregnância da forma no webdesign.

Bem, como meu currículo é de domínio público e tenho certeza de que nada nele leva a crer que eu seja especialista em webdesign, creio que o moço deva ter tido algum bom motivo para pedir a minha leiga opinião, uma vez que a internet está cheia de gente mais qualificada para falar sobre o assunto (desconfio que essas pessoas mais qualificadas não tenham o hábito de responder e-mails; é claro que isso é só especulação, mas não consigo encontrar outra explicação). A julgar pelo teor das perguntas, o jornalista certamente fez muito bem a lição de casa. Penei e tive que pesquisar muito para não passar vergonha. Com a pregnância eu já tinha até certa intimidade, mas a aplicação na web é que foi o calo. Vou compartilhar aqui o que aprendi graças ao meu bom hábito de responder todos os e-mails que me chegam.

A pregnância é uma velha conhecida no design. A idéia básica partiu dos filósofos Imanuel Kant, Wolfgang von Goethe e Ernst Mach, que diziam que a percepção era um ato unitário. Eles queriam dizer que as pessoas não percebem as coisas aos pedaços; elas organizam as informações de maneira a dar um sentido ao conjunto. No início do século passado, psicólogos conterrâneos desses senhores investiram na idéia e criaram a psicologia da Gestalt. Essa palavra alemã significa justamente “a integração das partes em oposição à soma do todo”. Sabe aquela história de que um mais um é sempre mais que dois? Pois é, vai por aí… a metáfora mais conhecida é aquela que diz que se cada uma das doze notas de uma melodia fosse ouvida por uma pessoa diferente, a soma das experiências dessa turma não corresponderia à de uma pessoa que ouvisse a melodia toda. E não é que é mesmo?

E para que serve esse papo todo? Bem, a teoria da Gestalt busca descobrir por que algumas formas agradam mais às pessoas do que outras. Para tanto, determinou-se oito leis que regem a percepção visual: a unidade, a segregação, a unificação, o fechamento, a continuidade, a proximidade, a semelhança e, voilá, a pregnância da forma (pensou que eu tinha esquecido?).

Pregnância (do alemão Prägnanz) é a capacidade de perceber e reconhecer formas. Se a forma é complicada, cheia de voltinhas e detalhes, e ainda estiver no meio de uma composição cheia de elementos gráficos e imagens, vai ser muito difícil de percebê-la e identificá-la. Estamos diante, então, de uma peça com baixa pregnância.

Porém, se a forma for simples, clara, e ainda por cima, situada sobre um fundo liso e com bom contraste, sem disputar a atenção com ninguém, então temos uma peça gráfica de alta pregnância. Bom, você já percebeu que a pregnância pode ser da forma em si ou do contexto no qual ela está inserida.

Marcas gráficas sempre devem ter alta pregnância nas suas formas essenciais, pois um de seus objetivos é serem percebidas seja qual for o contexto. Se a marca for um brasão cheio de detalhes, vai ser muito difícil diferenciá-la de outros elementos gráficos num mundo tão cheio de informações como o nosso. Em marcas, alta pregnância é um dos requisitos fundamentais, sinal de bom design.

Já na web, é importante que as páginas tenham um design que favoreça a alta pregnância, pois isso favorece a usabilidade, que é a facilidade com que o usuário consegue encontrar o que está procurando. Nos ícones, esse fator é ainda mais crítico. Se o desenho no botão for complicado, ele não será compreendido e não cumprirá a sua função.

Mas é claro que nem tudo é tão simples, né, mané? Senão, fazer sites seria mamão-com-açúcar. O problema é que no design (e no webdesign também), tão importante quanto a função, é o significado. Tem usuário que se sente mais confortável, integrado e estimulado em um ambiente visualmente poluído e cheio de informações competindo pela sua atenção. Do ponto de vista ortodoxo, mau design. Do ponto de vista contemporâneo, design adequado.

E durma-se com uma pregnância dessas.

***

Publicado originalmente em maio de 2007.

Lígia Fascioni  |  www.ligiafascioni.com.br

Um pedaço do muro na minha casa

Como dar personalidade a um balcão que parece que está na vitrine de uma loja? Não gosto muito daqueles ambientes assépticos de casa cor, onde parece que não mora ninguém (pelo menos ninguém com um mínimo de bom-humor).

Eis então que peguei uma foto que tirei do muro de Berlin quando estive lá o ano passado (olha as outras fotos do muro aqui), recortei e mandei fazer um adesivo. Fica super bacana e bem acessível (o meu mede 2,15 x 0,70 m e custou apenas R$ 70,00 — incluindo a instalação).

Gostei tanto da ideia que já estou pesquisando outras fotos para outros lugares da casa…

O celular é o novo cigarro

Ainda há pouco saí para almoçar e do meu lado da calçada tinha umas 6 pessoas caminhando. Eu juro pelos bigodes do Haroldo: estavam absolutamente TODAS falando ao celular. Do outro lado da rua tinha mais algumas, sem falar nas que estavam dentro dos carros. Gentem, será que as pessoas não sabem mais andar sem nada nas mãos? Precisam, por força da sua natureza, segurarem algum objeto para se sentirem à vontade, ou vivas, ou sei lá o quê?

Cartão de instrutor de pilates

Cartões de visita criativos dizem muito sobre a empresa e os profissionais que trabalham nela. Não adianta dizer que é ousada, criativa, inovadora, se o cartão de visitas diz o contrário.

Olha só esse aqui, de um estúdio de pilates (pena que não mostraram a parte de trás do cartão). O projeto é da agência brasileira (apesar do nome gringo) MarketData Direct & Digital. Gostei muuuito!!!

Balancê

Sabe aquelas cadeiras de balanço da vovó (porque será que uma coisa ficou tão associada à outra? Será que só as vovós é que gostavam de balançar?)? Pois agora há uma versão muito mais divertida para quem tem bichinhos em casa; você balança e seu peludo também.

Acho que daria para fazer daquele papelão acartonado; assim os gatinhos poderiam usar como arranhador…

O projeto é do designer Paul Kweton.

Desolado, perdigoto e deserto

Mais um contículo criado a partir de 3 palavras achadas aleatoriamente no dicionário.
***
Turíbio olhou em volta e tudo o que conseguiu ver foi areia. Muita areia. Caminhões, trens, transatlânticos de areia e mais sobra suficiente para fazer uns 12 concursos internacionais de esculturas de praia. Mas de onde é que vinha tanto grãozinho, ó senhor? Precisava mesmo de tudo isso? Ele olhava para aquele cenário desolado e não acreditava como tinha ido parar lá.

Fofo

Sensacional, incrível, lindíssimo, empolgante, encantador, poético e fantástico! Com certeza, a animação RIO mereceria todos esses adjetivos e muitos outros, mas vou resumir tudo num só: fofo!

Para quem gosta de bichos como eu, é como estar no paraíso. O brasileiro Carlos Saldanha conseguiu mostrar o Rio de Janeiro em toda a sua exuberância e beleza mesmo sem esconder as favelas. A história da arara azul Blu é contada de um jeito tão cativante que é impossível não se apaixonar.

Minha mãe

Essa é a foto da minha mãe que eu mais gosto, não só porque ela parece até artista de cinema, como também porque eu estou junto, fazendo uma figuração luxuosa… Minha mãe não gosta do Dia das Mães porque consegue ver o apelo brega e comercial da coisa (além de charmosa, é inteligente; não digo […]

Inovação: tem palavra mais obsoleta?

Há algum tempo tive a oportunidade de ler um artigo interessantíssimo do Umair Haque, diretor do Havas Media Lab, chamado “The Awesomeness Manifesto”. É difícil traduzir awesomeness, que seria mais ou menos a capacidade de impressionar, causar espanto. Pensei em substituir por incrível, sensacional, deslumbrante e até mesmo impressionante, mas esses são adjetivos e o Haque acrescentou o “ness” no final justamente porque queria um substantivo. Aí fica difícil traduzir, né?

Mas não faz mal, usamos o original e vamos ao que interessa: Haque diz que a palavra inovação soa como uma relíquia da era industrial e que, por isso, a própria palavra precisa ser inovada.