Sobre a Bauhaus

Como hoje é feriado aqui na Alemanha (data da reunificação), aproveitamos o fim de semana para dar uma volta de moto. O destino era Leipzig (breve posts a respeito), mas resolvemos passar em Dessau, que ficava no caminho, para conhecer a primeira escola de design da história, a Bauhaus.

Na verdade, a Staatliches Bauhaus começou em Weimar em 1919 (ainda vou até lá, está na lista). Walter Gropius, o cérebro por trás do negócio, convidou artistas e arquitetos para bolar um jeito de projetar produtos já pensando em como seria a produção em série desses objetos. Tinha gente do naipe de Paul Klee, Wassily Kandinski, Marcel Breuer e Mies van der Rohe, só para citar alguns mais conhecidos. A ideia era que curso permeasse a arquitetura, a arte e o design, sem subdivisões entre essas áreas (Viu gente? No começo era essa coisa linda, todo mundo junto, sem brigas!). O processo criativo acontecia por meio de workshops, com muita experimentação (célula embrionária do design thinking).

Uma curiosidade é que Bauhaus, em alemão, significa literalmente “casa de construção” e na Alemanha inteira tem uma rede gigante de lojas de material de construção com esse nome, olha só.

Pois a instituição funcionou em Weimar até 1925, quando se mudou para Dessau, cidade mais industrializada, com mais potencial para sustentar a escola e aproveitar a mão-de-obra gerada lá. Os caras fizeram e aconteceram; tudo o que a gente vê hoje no projeto gráfico e de produto tem alguma referência de lá. Eles praticamente inventaram o design como o conhecemos hoje.

Bom, a questão é que, com a guerra e a tomada de poder pelos nazistas, o pessoal da Bauhaus passou a ser visto como um incômodo; imagina só um bando de gente esquisita que queria mudar o mundo duvidando dos padrões pré-estabelecidos, querendo criar coisas novas e métodos revolucionários; eles eram vistos como degenerados. Não tinha como. Foi então que começou o desmonte. Em 1932 a escola se mudou para Berlin e ficou só um ano.

Os principais professores começaram a emigrar para os Estados Unidos para evitar perseguições e a coisa foi ficando bem mais difícil de sustentar. Até convidaram uns ex-alunos para fundar a escola de Ulm, mas o projeto, iniciado em 1953, terminou em 1968 por causa de guerras de egos, brigas internas, política e todo tipo de complicação administrativa.

Mas, a despeito da história tão curta, a Bauhaus já tinha deixado a sua marca e espalhado sua semente pelo mundo.

A escola de Dessau foi quase que completamente destruída durante a segunda guerra e o campus foi aberto novamente, depois de uma cuidadosa restauração, em 1976; os prédios de Weimar e Dessau foram tombados pela UNESCO em 1996 como Patrimônio da Humanidade.

As instalações em Dessau são muito interessantes e dá até uma certa comoção de pisar lá dentro, andar pelas salas de aula e passear pelos prédios que serviam de moradia para esses visionários. Preciso ressaltar que o acervo da exposição permanente é bem pobre e até meio decepcionante, apesar das peças icônicas. Passeei pelo campus e vi os prédios dos laboratórios e a biblioteca; enfim, foi muito preciosa a sensação de andar por lá (apesar da maioria dos prédios estar fechado, pois era sábado véspera de feriado nacional).

Hoje eles oferecem apenas alguns cursos de pós-graduação e a produção não é nem sombra do que já foi; tenho inclusive minhas dúvidas se a equipe atual faz jus ao nome que carrega. Mas o prédio e as lembranças estão lá em uma verdadeira aula de história, para nos recordar para sempre onde foi que tudo começou.

Seguem mais algumas fotos, mas, se preferir, você pode vê-las diretamente no Flickr (clique aqui). Continue reading “Sobre a Bauhaus”

Traumatizada

É, parece que hoje é o dia internacional do Spam Sem Noção (se é que há uma categoria de Spam Com Noção, o que seria um paradoxo), pois olha só o que acabei de receber. No começo, achei que era alguma piadinha, mas depois vi que o negócio era sério.

Gente, sério: o que passa pela cabeça de alguém que me manda uma coisa chamada Trauma 2.0 e acha que vou ficar tentada a adquirir tão nobre e inusitado produto?  Por que alguém compraria um Trauma, ainda mais na versão melhorada e com mais recursos (2.0) minha gente? Olha, sinceramente, o mundo está mais louco, descontrolado e, vá lá, traumatizado (com sequelas) do que imaginava a minha vã filosofia de buteco.

É mais fácil aprender alemão em braile do que decifrar a estratégia de marketing embutida nesse negócio.

Traumatizei…

CNPJ agora é ferramenta de marketing!

Bom, não sei vocês, mas cada vez estou gastando mais tempo tentando dar um jeito nesses spams que invadem minha caixa postal. Como é que uma empresa pode achar que alguém pode gostar de se entulhar de lixo?

Algumas se fazem de sérias e colocam um link para você se descadastrar (ué, mas eu nunca pedi para ser cadastrada! Por que sobra para mim o castigo de fazer o servicinho chato?). Legal repetir a operação centenas de vezes quando você não tem mesmo nada melhor para fazer, né?

Tá, então você respira fundo, clica e assinala, naqueles códigos sinistros que devem ter saído de alguma mente maligna, de qual banco de dados você quer sair: a3grupos, comercial123 ou todos-nov11? WTF?

Outros querem que você se dê ao trabalho de digitar seu endereço (piada, né?), pois a bagunça é tão grande que eles nem conseguem reconhecer quem é você para retirá-lo da lista.

Ainda tem uns manés que querem que você explique o porquê da exclusão, como se você devesse satisfações da sua vida para desconhecidos intrometidos. Alguns spams não pedem nada disso e só abrem uma página com a “simpática” mensagem: “Você foi eliminado com sucesso“. Hã? Como assim EU fui eliminada? É a síndrome do reality show invadindo o spam-marketing

Bom, e é claro, tem alguns que não dão chance mesmo, simplesmente vão se imiscuindo como se sua caixa postal fosse o cesto de roupa suja da casa deles. E dá-lhe ficar perdendo seu precioso tempo bolando filtros criativos de spam para não ver nenhum bit desse povo sem correr o risco de perder mensagens importantes de clientes. Mesmo assim muitos escapam, como esse aqui.

Pessoas, o que passa pela cabeça dessa criatura ao achar que os dados cadastrais da empresa podem servir de algum apelo para as vendas? Posso ficar realmente seduzida pelo número da Inscrição Estadual? Será que devo conhecer o Sr. José, um dos seus principais fornecedores? Ou vou comprar porque ela também fornece para Igreja Universal (que maneiro divulgar assim o telefone de contato dos clientes e representantes, heim?).

Sinceramente? Dessa vez me deu pena… Nicole, corre se matricular num curso de marketing, mesmo que seja à distância, ou qualquer coisa parecida que lhe dê alguma noção de como as coisas funcionam. E até lá, por favor, contente-se em brincar no Orkut e fique longe do Eudora. Você está destruindo a imagem da sua empresa, sério!

Clique sobre essa obra de arte, se quiser ver os detalhes e anotar alguns números interessantes…

PS: Não, não vou comentar o design gráfico da peça. Hoje acordei boazinha…

10 mil horas

A imagem mostra um grafite que representa o tronco de uma mulher escalando uma parede. Ela está de lado.

 

Estou organizando material para um curso que integra um programa de liderança e cheguei na parte em que se discute a questão da competência.

É praticamente consenso em toda a bibliografia que competência é a combinação de conhecimentos, habilidades e atitudes para conseguir o resultado que se deseja. Sempre foquei muito na atitude e já explorei bastante o tema. Mas, pelo teor dos e-mails que venho recebendo ultimamente de estudantes e profissionais pedindo conselhos diversos, parece que está mais que na hora de tratar dos outros dois itens do tripé.

É que a moçada quer ser brilhante aos 18 anos de idade, de preferência sem perder tempo estudando ou fazendo estágios muito simples. E não é só isso não; a gente vê pessoas com 30, 40 anos de idade, esperando milagres acontecerem e, do dia para a noite, tornarem-se referência mundial e terem sucesso na carreira (onde entenda-se por sucesso o número de zeros da conta bancária e o volume de clipagem da assessoria de imprensa; mas isso é assunto para se discutir em outra ocasião).

Bom, começemos pelo mais básico: o conhecimento. Parece trivial, mas o povo não quer aceitar: para a gente ser bom em qualquer coisa, é preciso saber muito sobre ela. O bacana é que  o conhecimento pode vir de qualquer lugar: cursos, conversa, leitura, cinema, internet, viagens, observação e até televisão (claro que depende muito do assunto que você quer explorar). Observe que não há bem ou mal em nenhuma dessas formas; o problema é a pessoa querer que toda a informação saia de um lugar só, porque aí teremos uma distorção causada pela limitação da fonte. Não dá para aprender tudo só lendo livros, sem interagir com ninguém. Mas também não dá para achar que se pode saber tudo sobre matemática avançada acessando apenas o twitter. Sem chance. Pode tentar, eu garanto.

Mas a gente adora a história do cara que não estudou, não foi atrás, mas é um gênio. Isso meio que dá uma apaziguada na nossa falta de disciplina, pois a diferença mesmo vem do equipamento de fábrica do sujeito. O pessoal vibra quando o fulano tira dez na prova e faz questão de dizer que não estudou; que escreve maravilhosamente sem nunca ter lido um livro; que fala 5 línguas sem nunca ter aberto um dicionário. Lenda. Algumas pessoas têm mais facilidade que outras em algumas áreas, mas ninguém se aprofunda num assunto sem estudar muito sobre ele. Einstein não teria desenvolvido a teoria da relatividade se tivesse passado 8 horas por dia andando de skate.

Oops, então não vale andar de skate?

Vale sim, e muito, desde que você queira ser especialista nisso. É justamente sobre essa questão que vamos falar agora: a habilidade, que consiste em transformar o conhecimento em alguma coisa aplicável. A habilidade é desenvolvida principalmente no cérebro límbico, que é a parte do cérebro que automatiza os movimentos. Então, se você quiser ser campeão mundial de skate, tem que treinar trocentas horas por dia, dormir e acordar em cima da prancha. Ninguém acorda um dia de manhã, se inscreve no campeonato e tira o primeiro lugar. Se quiser ganhar as olimpíadas de matemática, dá-lhe fazer exercícios que podem cair na prova. Se quiser ser campeão de xadrez, durma e acorde sobre um tabuleiro.

Um instrumentista virtuose pratica muitas horas por dia para ser realmente competente no que faz. Ele tem que ensinar as mãos a trabalharem praticamente sozinhas enquanto interpreta a música. Mais ou menos quando a gente está aprendendo a dirigir. Ninguém senta num carro e sai pilotando esplendidamente na primeira vez que senta no banco do motorista. O primeiro quadro que o Da Vinci pintou na vida, garanto, não era nenhuma maravilha. Assim como a primeira redação de Goethe. E nenhum queniano ganha uma maratona correndo apenas nos finais de semana ímpares, quando não chove.

E não estou falando isso por achismo não. Quem duvida, deveria abandonar o texto aqui mesmo e mergulhar no ótimo “Outliers: the story of success” de Malcom Gladwell. Entre outras coisas, ele consegue demonstrar, em suas pesquisas, que qualquer profissional brilhante pratica seu talento muito mais horas por dia que os medíocres. Airton Senna aprendeu a pilotar bem na chuva porque enquanto os outros iam comer pipoca no cinema quando o céu ficava preto, ele corria para os boxes praticar. Pelé treinava mais que todos os seus amiguinhos de escola juntos. O Guga não chegou a Roland Garros sem gastar e quebrar muita raquete enquanto a galera assistia Malhação. O campeão mundial de tênis de mesa, seja lá quem ele for, não brinca só nas festas de família. O negócio é sério mesmo.

Malcom ainda conclui que você não consegue ser excelente em nenhuma área se não tiver pelo menos 10 mil horas de exercícios práticos no assunto. Isso, obviamente, não garante nada, pois há muitas outras variáveis, mas sem as tais horas, não rola (em engenharia chamamos de requisito necessário, mas não suficiente).

É pessoas, milagres não acontecem, não tem mesmo como pular a parte chata. Agora, com licença, que eu quero aprender alemão e tenho um monte de lição para fazer; pelas minhas contas, ainda faltam 9.840 horas de dureza.

Auf Wiedersehen!

Arte hidráulica

Em Berlin, o lençol freático é tão alto (quer dizer, próximo da superfície), que qualquer buraquinho já vira um poço jorrando água. E como faz para construir as fundações de um prédio, por exemplo, em que o furo tem que ser bem fundo?

Pois é, só dá para fazer obra aqui se quem faz o buraco se responsabiliza por drenar a água para longe, na parte em que o sistema de drenagem pluvial comportar a vazão. Mas esse blábláblá técnico todo é para explicar a existência desses canos cor-de-rosa espalhados pela cidade (já vi de outras cores também). Eles estão drenando água de alguma obra para o sistema pluvial.

Não é luxo total, master blaster mega plus? Eu achei.

Asas nos tênis

Ontem assistimos à Maratona de Berlin, com nada menos de 40 mil participantes na categoria principal (e mais 30 mil em eventos paralelos: corrida infantil, para-maratona, patins, entre outras). Por sorte, o dia estava lindíssimo e a cidade ficou bem colorida. No percurso de pouco mais de 42 km, foram espalhadas mais de 80 bandas para animar os corredores e quem estava assistindo ao evento.

A gente viu a partida (impressionante, pela quantidade de pessoas), depois foi de bicicleta, pelo caminho mais curto, até a chegada. É claro que o campeão foi um queniano, que chegou praticamente passeando (quebrou o recorde da prova), mais de 5 minutos antes do segundo colocado. Ele chegou, descansou, deu uma volta para cumprimentar a plateia, deu entrevista e só depois chegou o segundo (também queniano, veja que coinciência). Mais um tempão para chegar o resto da elite do atletismo e as mulheres (uma queniana também papou o primeiro lugar − esse povo deve ser aparentado com gazelas, só pode). Depois das premiações principais, fomos dar uma volta pelo circuito (uma pequena parte, e mesmo assim, de bicicleta, claro).

Perto de casa passavam os corredores quase no final, aos 38 km. Fiquei impressionada em ver tantas pessoas idosas, homens e mulheres, correndo. O estado dos semblantes (e respectivos corpitchos) variava muito, mas dava para ver que estava todo mundo muito contente em apenas chegar. Eu disse apenas? Se andar (ou se arrastar) por 42 km já é tarefa dura para quem está em muito boa forma, visualize como é correr esse pedação de chão!

Alguns pareciam realmente esgotados, como se o corpo estivesse prestes a se derreter e aderir ao asfalto. Fiquei pensando: o que move uma pessoa a topar um desafio desses? Os atletas estão pela competição em si e vivem disso. Mas e aquele pessoal a um passo de ir para a UTI no meio da prova?

Penso que essas pessoas querem provar que podem, para si, e talvez para os outros também. Mas acredito que uma disciplina desse tamanho tem que ter muita automotivação, um entusiasmo genuíno (não por acaso, entusiasmo significa “o deus dentro de si”). Porque disciplina não é agradável e nem natural para o ser humano. Quando ela vence a luta entre o desejo (o que o corpo, esse malandro sem vergonha, está pedindo) e a vontade (os objetivos de mais longo prazo), aí a humanidade caminha para valer (ou corre, em alguns casos).

E olha, podem dizer o que quiserem, mas disciplina só funciona mesmo quando há paixão, fervor ou uma vontade muito, muito forte. É um arrebatamento de verdade, não aquela coisa acomodada de “ah, que bom seria se eu tivesse uma barriga tanquinho” enquanto se esparrama no sofá com um Big Mac na mão. É um querer todo maiúsculo, que empurra o vivente para fora da cama num dia gelado de chuva, mesmo quando o amor da sua vida está quentinho do seu lado. Olha, não é para amadores, só posso dizer isso.

Meu respeito mais profundo a esse povo que sabe o que quer e vai muito, mas muito mais longe que os tais 42 km.

CURIOSIDADE: Como a temperatura era de 8 graus no horário da largada (9 da matina), os atletas estavam agasalhados. Para correr eles têm que descartar os casacos e calças. Aí a organização recolhe tudo para doação (eu acho); tinha gente lá escolhendo o que ia levar. Nunca tinha pensado nisso…

Mais um episódio: mercado de pulgas

Dessa vez vamos conhecer um pouco do fascínio que os alemães têm por feirinhas de coisas usadas chamados Flohmarkt (plural: flohmärkte) que significa, literalmente, mercado de pulgas.

Gente, tem de tudo mesmo, não é brincadeira não; se duvidar, até pulga adestrada a pessoa corre o risco de encontrar num lugar desses. Na cidade tem um montão dessas feiras, mas a mais famosa, bacana e divertida é a que acontece no Mauer Park, em Prenzlauerberg. Vem dar uma voltinha e ver como é que a coisa acontece.

Se o vídeo não rodar automaticamente, você pode assisti-lo direto no Youtube, basta clicar aqui.

Impossível coisa nenhuma

Há um tempo, inspirada pelo filme Alice, comecei a exercitar a criatividade tentando imaginar uma lista de coisas impossíveis pelo menos uma vez por semana.

Cheguei até a criar uma categoria (clique em ideias impossíveis na nuvem à direita se quiser ver toda a produção), mas a tarefa acabou se revelando dificílima; faz um tempo joguei a toalha, mas quero ver se consigo retomar a prática.

Pois numa dessas elucubrações, pensei numa bolsa que tivesse perninhas para andar ao nosso lado sem precisar ser carregada ou empurrada. Até desenhei a ideia (veja o post com essa e as outras ideias aqui).

Pois hoje passei em frente à Louis Vuitton e não é que eles tiveram a mesma ideia? Não sei se funciona, mas adorei (se bem que poderiam caprichar mais nos pezinhos).

Assim, até valeria o preço surreal que eles cobram por uma bolsa…

Comida orgânica

Fui almoçar hoje com minhas amigas Chi (vietnamita) e Mayu (japonesa), pois, apesar de magrinhas, estão sempre atrás de comida boa. As dicas da Chi são infalíveis e lá fomos nós comer num pequeno restaurante orgânico vietnamita (na verdade, uma lanchonete com pratos leves e sanduíches caprichados).

O sanduíche que comi estava uma delícia (sem maionese, claro…ehehe), mas só notei o nome do lugar na saída. Quando revelei a tradução do nome em português, elas nem acreditaram…eheheh

Bom nome para restaurante orgânico

As queridas Chi e Mayu