Meus 4 amores

Coisa mais gostosa que tem é morar numa casa com gatos fofos. É o que mais estou sentindo falta lá em Berlin; cheguei, atravessei as cinzas do vulcão e já me acabei de afofar esses queridos lindos. Eles estão bem mimados pela avó e parece que nem perceberam que fui e voltei (que bom). O Otávio está cada dia mais gostosinho e folgado. Agora ele expulsa a pessoa do sofá para poder deitar no quentinho (abusado grau 10).

O Haroldo continua sendo o mais elegante (o único que não está cheio de nós) e aristocrático, mas perde totalmente a classe quando ouve a palavra mágica “biscoitos”.

A situação capilar do Otávio está tão séria que vou levá-lo para a tosa na segunda-feira; o fofo tem o pelo muito fininho e odeia ser escovado — e dá-lhe nó. O Heitor só não é o Rei dos Nós porque perde para o Otávio; por isso, demos a ele o título de Príncipe dos Nós. O Conrado tem uma semana para tentar dar um jeito nas maçarocas, senão, vai para a tosa também (o Heitor só aceita ser escovado por ele).

Enfim, nossos fofuchos mimados e cheios de manias estão ótimos e parece que nem sentiram nossa falta (parabéns para a minha mãe e o Adalberto, que fizeram um ótimo trabalho).

Daqui a pouco já começa a correria; amanhã e sábado vou participar como facilitadora num workshop de Design Thinking da Innovaservice e a coisa já começa a ferver por aqui. Semana que vem tenho tantos cafés que, se não ficar intoxicada, vai dar para participar dos almoços também (delícia rever amigos queridos).

Enfim, de volta à Ilha por algumas semanas. Agora só falta parar de chover, né, São Pedro?

Haroldo, o gato mais lindo, posudo e aristocrático que existe

Otávio, seus nós e olhos de sol

Meus dois neguinhos queridos: Heitor e Otávio parecem irmãos, na fofura e nas maçarocas de pelo

O Horácio sempre na dele; nosso floquinho autista

Festival das luzes

Todo ano, no mês de outubro, entre os dias 12 e 23, tem o Festival das Luzes em Berlin. Como volto ao Brasil amanhã (vou ficar um mês trabalhando), peguei só o comecinho, mas vai rolar um monte de coisas até o dia 23, quando acaba.

Durante esse período, vários pontos da cidade (mais de 80), recebem uma iluminação especial e Berlin, já naturalmente bela à noite, fica ainda mais bonita. Tem umas instalações interessantes, como uns bancos de praça fluorescentes que são bem legais. O tema desse ano é “Faces de Berlin” e eles montaram, na Potsdamer Platz, uma máscara gigante de gesso branco, onde foram projetadas várias faces na abertura e ficou show mesmo.

Mas eu queria mesmo era assistir uma daquelas apresentações que a gente vê na internet onde o prédio se desmonta todo e o cenário muda radicalmente com as projeções, mas acho que vai ser lá pelo dia 20 (na verdade, não consegui descobrir, porque o site é muito confuso e difícil de achar as coisas — já comentei aqui que design da informação não é o forte deles…).

Bom, então fiquem, pelo menos, com as fotos que fiz até agora, que já dá para ter uma ideia. As fotos e os vídeos do festival dos anos anteriores (inclusive com as tais apresentações bombásticas), estão aqui, no site do evento.

Tem mais fotos no Flickr, é só clicar aqui.

Ele chutou o pau da barraca 95 vezes…

Esse fim de semana teve um passeio da escola para conhecer a cidade de Wittenberg. Na verdade, a cidade se chama Lutherstadt Wittenberg, ou “Wittenberg, cidade de Lutero“.

Apesar de eu não ser nem um pouco ligada em assuntos religiosos, a impotância histórica desse lugar não é pequena não.

Wittenberg tinha um mosteiro onde Lutero estudava e o sujeito ficou muito p* da vida quando viu que a igreja católica aproveitou a invenção da prensa de Gutenberg para vender indulgências (já falei sobre isso aqui e aqui). O negócio fez tanto sucesso que vendia como pão quentinho. Em vez de pecar e depois ter que confessar, fazer penitências e toda essa coisa chata para garantir um lugar no céu, bastava comprar esse papelzinho, que era uma espécie de salvo-conduto. Ou seja, quem era rico podia se esbaldar nas delícias pecaminosas do nosso mundinho recém chegado à era renascentista.

Lutero, que já não estava gostando de outras coisas que andava vendo por lá, escreveu para o Papa, para tirar satisfações e perguntar que pouca vergonha era aquela. O Papa nem deu bola (estava felicíssimo com o negócio mais lucrativo da história) e Lutero não deixou barato. Chutou mesmo o pau da barraca. Escreveu 95 teses que contestavam essas ações (o cara era um estudioso e erudito, sabia argumentar e fundamentar muito bem suas posições) e pregou todas elas nas paredes de uma igreja em Wittenberg (por sinal, a igreja fazia parte do castelo do Kaiser, na época, que já tinha comprado um lote de indulgências, só para garantir).

Imagina só o bafafá que deu, um cara sozinho lutar contra a potência que era a igreja católica na época; muito macho mesmo. Bom, entre outras coisas, ele ficava indignado com o fato da Bíblia não ser acessível a todo mundo, pois a versão que eles estudavam era em latim, língua que só os eruditos conheciam.

Aí, sabe o que esse cara, que não era nem um pouco fraco fez? Inventou o alemão moderno! Sim, essas declinações, regras malucas e gramática de dar dor de cabeça são obra dele e de seus alunos, que resolveram traduzir a bíblia para uma língua que o povo pudesse entender.

A Alemanha, na época, era cheia de dialetos falados e não escritos. Então ele resolveu colocar ordem na coisa e fundiu o latim, que ele sabia bem (daí as declinações) com as várias versões do idioma falado pelos saxões. Deu no que deu.

Só para se ter uma vaga ideia do tamanho da revolução que o cara fez e a importância do trabalho dele, além de ter criado a igreja protestante (que protestava contra as indulgências católicas), ele publicou a primeira versão da Bíblia em alemão em 1522. Em apenas 5 anos, já haviam sido vendidos 100.000 exemplares!! Não é incrível? Se imprimir e vender tudo isso de livros hoje já não é pouca bobagem, imagina só naquela época.

Olha, eu xingo muito quando tenho que estudar a gramática, mas não posso deixar de admirar esse sujeito de maneira nenhuma.

Ainda mais quando a gente visita a casa dele (que também funcionava como universidade e tinha alunos residentes; o kaiser era seu admirador e cedeu o prédio) e vê todo o material impresso que eles produziam. O cuidado na diagramação, nos alinhamentos, a harmonia entre texto e ilustrações é uma verdadeira aula de design para qualquer um que se interesse minimamente pelo assunto. E isso em meados de 1500, 4 séculos antes da Bauhaus pensar em existir. Isso sem falar no marketing, pois o sujeito precisou “vender” uma ideia totalmente revolucionária para um mundo tão conservador que achava que lugar no céu se comprava com um papelzinho.

Decididamente, Lutero não era fraco não. Tem todo o meu respeito, esse sujeito.

Como toda cidadezinha alemã, essa também parece cenário de filme de época

Tudo lindo, coloridinho e caprichado

Foi nessa igreja que Lutero pregou as tais 95 teses contestando as indulgências

Repare que luxo o telhado da igreja

Fico impressionada como as folhinhas de hera ficam completamente vermelhas no outono...

Se quiser ver mais fotos, é só ir direto no Flickr clicando aqui.

Episódio 6: Arte alternativa

Gente, não é por nada não, mas se eu fosse vocês não deixaria de ver esse vídeo. Vocês vão ver o quanto pode render para uma cidade ter um prédio que ia ser demolido ser ocupado por artistas. Fato.

Se você não conseguir ver o vídeo aqui no blog, pode ir direto no Youtube clicando aqui.

Mefisto adoraria saber

Agora me dei conta de que não contei uma curiosidade interessante sobre Leipzig. É que um dos moradores mais ilustres da cidade foi ninguém menos que o maior nome da literatura alemã, o célebre Johann Wolfgang von Goethe. Goethe morou na cidade entre 1765 e 1768, quando estudava direito.

Pelo visto, o célebre morador (que naquele tempo era um anônimo) passava muito tempo numa taberna subterrânea em uma rua do centro da cidade, tanto que a usou como cenário de seu poema épico mais famoso, Dr. Fausto. Nota: taberna era o boteco de antigamente.

Na verdade, Dr. Fausto é uma antiga lenda alemã muito usada como base alegórica de romances; mas foi Goethe que a tornou conhecida no mundo todo. O tal Dr. Fausto é um professor atormentado em busca do conhecimento; ambicioso, ele se dá conta de que não vai conseguir aprender tudo o que sonha. Eis que surge em cena o diabo, ou, nessa versão, Mefistófeles (Mefisto para os íntimos).

Dr. Fausto e Mefisto encontram-se na tal taberna e fazem um acordo. Fausto terá todo o conhecimento que quiser em troca de sua alma quando morrer. Bom, Goethe levou 60 anos para escrever a história, toda em versos caprichadíssimos, então já dá para ter uma ideia do tanto de reviravoltas que acontencem, e, é claro, do arrependimento de Fausto quando ele se dá conta de que nunca poderia saber tudo. Além disso, saber por saber sem nenhum objetivo já não o satisfazia mais e ele achava que a única solução era a morte (que ele não tinha mais, já que tinha vendido sua alma). Tentou negociar, mas Mefisto não quis nem saber: negócio é negócio.

Bom, nem preciso falar que o personagem morre no final todo atormentado e arrependido. Mas essa história comprida é para dizer que a tal taberna escondida que inspirou Goethe e aparece no romance como cenário da negociação entre o Dr. Fausto e o Mefisto existe até hoje lá em Leipzig.

Só que a cidade cresceu, o lugar histórico ficou famoso, transformou-se num restaurante frequentadíssimo por turistas e a rua onde ele se encontra foi coberta e virou um shopping.

Tem final mais perfeito para quem vendeu a alma ao diabo?

Escada que leva à antiga taberna subterrânea (agora com a escultura do Dr. Fausto e do Mefisto na porta)

A rua foi coberta e virou shopping

E a antiga taverna virou restaurante para turista

Antes e depois

Aqui não é Dia da Criança, mas mesmo assim vou postar uma foto de quando eu era pequenininha e já gostava de bichos fofos (repare a rebeldia: todas as outras crianças se sentam no banquinho da charrete para tirar a foto…rsrsrs). Cresci e o carneirinho virou o poder!

Feliz Dia das Crianças e divirtam-se vocês também, afinal, estamos aqui para isso mesmo.

Não sei quantos anos eu tinha na primeira foto, mas na segunda (fevereiro desse ano) já estou na 44ª primavera. A primeira foto é de um daqueles fotógrafos de crianças de antigamente (acho que não existe mais) e segunda é do Michel Téo Sin.

Dois livros e um filme

Como não trouxe quase nenhum livro por causa do peso e ainda não sei ler em alemão (como o analfabetismo dói…), tenho que apelar para os poucos best-sellers da seção de livros em inglês das livrarias daqui. Semana passada li “The imperfectionists“, de Tom Rachman e essa semana, o primeiro tijolo da trilogia Millennium, de Stieg Larsson.

Comecemos com “The imperfectionists“. Confesso que fiquei seduzida pelo ótimo título e, principalmente, pela capa (tem uma coleção de clássicos da editora Martin Claret que me recuso a comprar porque as capas são de doer os olhos). Bom, a capa em questão já começa com um monte de elogios e selos (The New York Times Book Review, New York Times Bestseller, Financial Times, etc) e é linda.

Olha, o livro está longe de ser ruim, mas não merece esses elogios todos não. É um romance que conta a história de um jornal desde que foi criado, em Milão, em 1953, até os dias atuais. Por meio de dúzias de personagens que aparecem para nunca mais voltar, a história vai se desenrolando de maneira mais ou menos previsível. Apesar de bem escrito, me irritou um pouco o abuso de estereótipos (o velho libertino, a executiva frustrada, a gorda infeliz, o aventureiro charmoso, o milionário cheio de segredos e por aí vai). O mérito, além da boa redação, penso que se dá mais pela atualidade do debate; o jornal fica meio perdido com a internet e não sabe bem como continuar (acho até que essa é a razão do inexplicável sucesso). Se você conseguir de graça, leia. Se não, não sei se vale o investimento.

Já o primeiro volume da trilogia Millennium, “The girl with the dragon tatoo“, é bem mais atraente. Você gruda no livro e não descansa enquanto não der conta. Como todo bom policial, não é nada muito profundo, mas tem uma história bem amarrada, bem escrita e com personagens um pouco mais complexos (claro, se a gente levar em conta que é um livro de ação).

Eu diria que é um Dan Brown mais caprichado e sem milagres ou furos no roteiro. Os personagens são cativantes e o enredo, apesar de um pouco previsível para quem está familiarizado com a fórmula, é muito criativo. Esse eu recomendo mesmo. A versão que eu li é uma tradução direta do sueco, língua de origem do Steve Larsson (que, curiosamente, morreu prematuramente aos 50 anos, logo depois de entregar a obra à editora). A versão brasileira é uma tradução do francês; acho que se perde um pouco nessa triangulação; tanto que o título em português acabou se tornando “Os homens que não amavam as mulheres“. Já vi que vou devorar o segundo volume na viagem de volta ao Brasil (semana que vem!).

Por último, o filme em questão é “Melancholia“, do dinamarquês Lars Von Trier. Lindo, lindo, lindo. A fotografia irretocável, a história bem contada, as atuações irrepreensíveis e a música perfeita. Mas também muito, mas muito triste. Mas não aquela tristeza de se debulhar em lágrimas; é uma outra, mais profunda, que nos faz refletir sobre a finitude da vida, a rapidez com que as coisas podem mudar e até acabar mesmo. Desde que você não esteja esperando um melodrama, um romance ou um filme de ação, também recomendo.

O DNA da maçã

Sei que a morte do Steve Jobs já saturou os meios de comunicação e não se fala em outra coisa. Mas também tenho recebido vários e-mails questionando sobre a identidade corporativa da Apple (se ela sobrevive sem seu grande mentor).

Olha, eu acredito que sobrevive sim, e bem. Até porque a Apple é uma empresa, não uma EUpresa. Steve já fez muita falta da outra vez que saiu e, nessa segunda etapa, teve a consciência da importância de deixar sua menina dos olhos bem preparada para sua eventual falta. E vamos combinar que uma organização que pode contar com um Johnathas Ive e um Tim Cook na folha de pagamento tem tudo para não deixar que os viciados na maçã (como eu) não morram de inanição; pelo menos estou contando com isso.

A identidade de uma organização é seu DNA. Isso quer dizer que o conjunto de características que a tornam única e especial já nasce com ela, é congênito. Então será que isso significa que a identidade da empresa é igualzinha à do seu dono ou fundador? Será que os dois são uma coisa só?

Vamos pensar: uma empresa é uma entidade muito diversa de um ser humano. Ela é formada por pessoas, cujo número varia com o tempo. Uma empresa pode começar com apenas um proprietário ou com mais de 10 mil colaboradores (quando é fruto de uma fusão ou aquisição, por exemplo). Ela pode continuar por anos com um ou dois funcionários ou multiplicar várias vezes seu corpo original.

Já o fundador é uma pessoa de carne e osso e tem sua própria essência, sua maneira toda única de se comportar profissionalmente. Mesmo relaxado na vida pessoal, o dono pode ser muito exigente como empresário. Outros atributos (em geral, a maioria), permeiam tanto a sua vida pessoal quanto a profissional. Mas como separar uma coisa da outra? Será que elas precisam mesmo ser separadas?

Sim, precisam. Uma empresa é sempre maior que seu dono, e, apesar da maioria de suas características ser geralmente compatível (a empresa herda atributos do fundador), são de naturezas distintas, inclusive com ordens de grandeza diferentes. É como se uma empresa fosse um filho; ela herda genes dos pais, mas não se tem muito controle sobre quais são os que vão realmente vingar e predominar no caráter da cria.

Mas quando uma organização está começando ou é composta por apenas uma pessoa, a pergunta que sempre faço para identificar o caso corretamente nas minhas consultorias é: “se daqui alguns anos o dono morrer, a empresa acaba?”

1) Resposta NÃO: Ela é uma empresa de fato, isto é, vai crescer, agregar novos funcionários e seu dono, inclusive, vai poder tirar férias, ficar doente e até morrer, quando for o momento. Nesse caso, devemos definir a identidade da empresa para nortear todas as suas ações e comunicações. É um caso desafiador mas perfeitamente possível de ser resolvido, separando claramente o que é a empresa e o que é a pessoa. Não, a empresa não vai ser necessariamente “a cara do pai”. Para saber mesmo qual é seu DNA, é preciso investigar e pesquisar, sem julgamentos pré-estabelecidos.

2) Resposta SIM: Então, temos uma EUpresa. Não há nenhum problema nisso, eu, por exemplo, encontro-me neste caso. A minha empresa de consultoria existe porque preciso trabalhar dentro das regras do fisco, mas não tem identidade própria. Todo o trabalho de divulgação é feito sobre o meu nome. É o caso de muitos médicos, dentistas, advogados e outros profissionais liberais. Nesse caso, para haver coerência entre as ações e comunicações da empresa, temos que definir a identidade profissional de seu fundador.

Investi quase toda a última década pesquisando sobre o assunto e, para quem quiser saber mais, recomendo “DNA Empresarial: identidade corporativa como referência estratégica” de minha autoria, publicado em 2010 pela editora Integrare, de São Paulo.

A Apple é uma empresa de verdade com uma identidade própria e agora só nos resta torcer para ela ter puxado o pai.

Infelizmente, não há como ter certeza, pois está cheio de casos aí para mostrar que nem sempre a organização consegue herdar todos os genes que deveria de seu fundador. Acho que se o comandante Rolim Amaro fosse viajar de avião hoje, iria se horrorizar com o que passou a ser “o jeito TAM de voar“…

Lígia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br

Pequenos pedalantes

Além de ver a cidade funcionando tão bem com esse tanto de bicicleta nas ruas (aqui não tem motoboy, só bikeboy, ou, no caso, Fahrrad-Junge — tá bom, o termo não é esse, fui eu que inventei…rsrsrs) fico feliz da vida ao ver crianças tão pequenas já fazendo exercício (agora reparei que ainda não vi nenhuma criança obesa aqui, apesar do tanto de salsicha e batata que elas comem).

Os pais (e sim, na maioria os pais mesmo, não as mães) levam os bebês para a escola na garupa ou em carrinhos especiais; quando eles aprendem a andar, já vai cada um com sua bicicletinha pedalando.

Não sei como vai ser quando o inverno chegar, mas olha e vê se não é inspirador…

Pai levando a filha para a escola

O papai e os dois pintinhos pedalando

Mais um pai levando cria

Essa mãe é super-descolada; olha só a cabine com proteção contra a chuva

Repare que nem sempre os pais estão de capacete (vejo pouca gente usando), mas as crianças sempre estão protegidas...

Além do que, a criançada não fica fazendo concurso na porta da escola para ver qual o pai tem o carrão mais caro. Sem falar que não tem fila dupla com gente trancando a rua.  Civilidade é isso aí…

Como Leipzig mudou a história

Antiga Rathaus, prefeitura da cidade, hoje transformada em museu.

Nossa, às vezes fico assustada com a minha ignorância sobre história. Ainda bem que o Conrado sabe muito e me explica os lances todos. Lembro que em 1989, quando caiu o muro de Berlin, eu fazia estágio, estava enlouquecida com as provas de eletrônica do último semestre da faculdade e os preparativos da formatura; um perfeito modelo da alienada. Soube que o tal famoso muro tinha caído, mas não ficou nenhum registro além. Agora, pouco a pouco, vou conhecendo os outros capítulos e tendo uma ideia da dimensão do acontecimento.

A gente passou o último final de semana em Leipzig, no coração da Saxônia, e aprendi muita coisa. E me comovi, me emocionei muito, cheguei até a chorar. Visitamos o museu da cidade que conta um pouco da história com fotos, imagens e objetos.

Tá, mas por que Leipzig? A história toda não se desenrolou em Berlin?

Bom, vamos do começo: o museu dá uma geral sobre as duas guerras, com ênfase na segunda. Saldo de mortos: 62 milhões. Caramba, é gente demais! Eu não tinha ideia desse número. Era um tal de pegar a população de um país como a Polônia, por exemplo, e avisar para 2 ou 3 milhões de pessoas que elas tinham 2 dias para dar o fora. Já pensou?

Bom, horrores à parte, acabou a tal guerra, a Alemanha perdeu, mas não se rendeu. Então pegaram o país e dividiram entre os vencedores: um pedaço para os EUA, outro para a França, outro para a Inglaterra e o último naco para a antiga União Soviética. Pois a URSS queria implantar o regime socialista; destruiu o que restou dos palácios (símbolos da burguesia) e construiu prédios horrorosos no lugar (é de doer os olhos mesmo). Os outros países meio que deixaram a coisa solta; queriam que a Alemanha se desenvolvesse para ser um modelo de como o capitalismo poderia dar certo (e para ser um mercado consumidor também, é claro). Bom, aí o pessoal começou a ver que do lado ocidental (capitalista), a vida parecia melhor e mais confortável e começou a se mudar para lá. Aos montes. O tempo todo. Sem parar.

Os russos ficaram (com razão) preocupados com a emigração massiva e decidiram fechar as fronteiras da parte que era deles. Do dia para a noite, em Berlin, passaram um arame farpado onde existia a delimitação, até então, apenas virtual e depois construíram o tal muro, com a desculpa que era para proteger o seu lado das más influências dos outros.

Tinha partes da fronteira que passava por dentro de prédios. Pois eles simplesmente expulsaram as famílias que viviam lá e emparedaram todas as janelas. Os vídeos mostram o desespero das pessoas, que já tinham passado pelo terror do nazismo e não precisavam de mais isso, né? Tem até um vídeo que mostra um soldado fugindo, saltando por cima do arame farpado para o outro lado.

Bom, Leipzig ficou do lado da Alemanha que pertencia à URSS. A cidade, completamente destruída pela guerra, hoje tem a arquitetura toda irregular. Partes antigas, lindíssimas, foram restauradas como eram; e convivem lado a lado com algumas monstruosidades da arquitetura comunista e outras tentativas mal sucedidas de modernidade. Imagine uma cidade em colapso total onde os homens todos morreram. As mulheres tiveram que carregar pedras para limpar as ruas, reconstruir tudo e arrumar um jeito de alimentar os filhos. Dureza.

Com a guerra fria, a situação econômica e política foi ficando bem complicada e a pressão era grande. Então o pessoal que se reunia na Igreja de São Nikolai (compartilhada por católicos e protestantes) começou um movimento pacífico e muito inteligente: todas as segundas-feiras eles se reuniam para rezar (e protestar contra o regime). Claro que qualquer tentativa de manifestação era tratada à bala pelos soldados e não foi pouca gente que morreu por falar o que não devia. Mas o governo nada podia fazer com a multidão andando pelas praças rezando e segurando velas nas mãos. A cada segunda-feira, o movimento aumentava mais, até  que a cidade inteira começou a participar. Depois, veio gente de todas as partes e aquela massa humana gigante começou a chamar atenção. Os líderes políticos não sabiam o que fazer, pois era um movimento totalmente pacífico — as pessoas só oravam e caminhavam juntas. A pressão ficou tão grande que o partido comunista não conseguiu segurar e sucumbiu ao movimento que resultou na queda do muro, em novembro de 1989 e, consequentemente, o primeiro passo para a reunificação do país.

Coisa forte. Emocionante, né?

Tem algumas outras curiosidades sobre a cidade, mas conto depois, para não misturar assuntos.

E a igreja de San Nikolai, fundada em 1165, nem é tão bonita quanto importante

Tem mais algumas fotos a seguir, mas dá para olhar direto lá no Flickr, se quiser. É só clicar aqui.

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